Frequentemente, quando se fazem referências a personalidades que passaram pelo Seminário do Fundão, vem à Baila o nome de Vergílio Ferreira. Mas há outros escritores que frequentaram o mesmo Seminário.....
in: Nova Cultura
José Marmelo e Silva:
Obras completa – Não aceitei a ortodoxia
Campo das Letras
776 páginas
EUR 36,-- (preço no TFM-Centro do Livro)
»Situar Marmelo e Silva no panorama literário português é dar conta da interacção da presença com o neo-realismo, embora nenhuma destas correntes tenha sido exclusiva e os traços da última se tenham vindo a esbater gradualmente.
É notória a exclusividade de sujeitos masculinos, todos eles acabrunhados por uma sociedade que lhes é adversa e que os maltrata ou despreza. Podemos considerar a existência de três vectores fundamentais que se conjugam para definir as personagens e que concorrem para a criação de cenários semelhantes, mesmo se parecem distanciar-se, ou se as causas da angústia e náusea não se afiguram idênticas. Falamos da referência quase obsessiva à precariedade das condições sociais, da alusão sarcástica à hipocrisia religiosa e da vivência doentia de uma sexualidade exagerada, porque incompreendida ou resultante de frustrações que parecem só poder resolver-se através de um desejo simplesmente físico e, com frequência, mal direccionado.
A presença de assuntos considerados tabu (sobretudo para a época em que vieram a lume) condensa-se na entrevista de Marmelo e Silva à revista Coisa (Maio de 1984) e reproduzida no jornal Letras & Letras (n.º 15, de 5 de Março de 1989). As suas palavras definem melhor do que quaisquer outras a intenção que presidiu à obra: “Os conservadores esfolaram o rabo ao Neo-Realismo à força de o puxarem para trás nas velhas calhas dogmáticas. Se eu me distanciei, digamos que foi por eles ficarem cristalizados. Não aceitei a ortodoxia. Luto pela resolução dos problemas humanos, não excluindo os da sexualidade. Os ortodoxos esquivam-se à problemática sexual, no que muito agradam ao ultramontanismo.«
Maria de Fátima Marinho
(informação da editora)
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José Marmelo e Silva nasceu em 1911, na freguesia de Paul, concelho da Covilhã. Frequentou o seminário do Fundão, donde “sai” com 17 anos, por incompatibilidades de Ser e de Pensar com o sistema e a instituição. Colabora, enquanto jovem, n’O Brado Académico, n’O Raio, da Covilhã, e na Mocidade Livre, de Castelo Branco. Na década de 30 colaborou no semanário lisboeta O Diabo, com o pseudónimo Eduardo Moreno e leccionou em Espinho no Colégio Pedro Nunes. Em 1932 publica O Homem que Abjurou a Sociedade – Crónicas de Amor e do Tempo. Em 1937 funda, juntamente com outros intelectuais, a Editora Portugália, em Coimbra, que se inaugura com a publicação da 1.ª edição de Sedução. Publica em 1939 a 1.ª edição de Depoimento. Em 1940 licencia-se em Filologia Clássica na Faculdade de Letras de Lisboa. Publica a 1.ª edição de O Sonho e a Aventura em 1943. A partir de 47 fixa residência em Espinho, onde permanece até à data da sua morte. Publica em 1948 a 1.ª edição de Adolescente; em 1958 publica Adolescente Agrilhoado, 1.ª edição acrescentada. No fim da década de 40 e década de 50 dedica-se à actividade agro-comercial, que constituía já um trabalho com raízes familiares. Na década de 60 colabora no Diário de Notícias e na revista Seara Nova. Em 1968 publica O Ser e o Ter seguido de Anquilose e em 1983 Desnudez Uivante. Em 1987 é agraciado com a medalha de ouro da cidade de Espinho e em 1988 é condecorado pelo presidente da República com o grau de Comendador da Ordem de Mérito. Parte a 11 de Novembro de 1991. Foi o fim de uma vida que passou por uma adolescência dedicada ao “seminário”; uma juventude consagrada à “licenciatura, ao grego e aos clássicos”; um adulto dedicado ao “amor, amor, amor…” – como ele próprio anotou.
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