Idanha-a-Velha
Estudo Antropogeográfico de António Capelo Manzarra Marrocos
Em 1935 foi editado o estudo “Idanha-a-Velha – Estudo Antropogeográfico”, da autoria de António Capelo Manzarra Marrocos. Este estudo foi editado graças ao esforço que o Drº Jaime Lopes Dias fez, junto do pai do autor, António de Pádua e Silva Leitão Marrocos, depois de ter tomado conhecimento da sua existência. Aliás, o Drº Jaime Lopes Dias prefaciou a sua edição, descrevendo os motivos que levaram à sua insistência, para que o estudo fosse editado. António Capelo Manzarra Marrocos era aluno de Geografia, na Faculdade de Letras de Lisboa e foi nessa qualidade de aluno do 2º ano, ainda longe da licenciatura e com muito para aprender, que elaborou o seu estudo. Infelizmente, o autor faleceu num acidente de viação, ocorrido em Tomar, quando tinha muito a dar para o desenvolvimento da Beira Interior e para o combate à miséria e pobreza, a avaliar pelas suas posições ideológicas.
Em resposta a uma carta que o Drº Jaime Lopes Dias lhe tinha dirigido, que foi incluída no prefácio, o autor apresenta de uma forma clara e evidente o seu pensamento ideológico, relativamente ao atraso da sua região e as condições que considerava basilares para se alcançar o progresso. A carta apresenta o timbre do Hotel Universo, na Rua Antero de Quental, 9, 2º Esquerdo, em Lisboa, onde provavelmente residia como estudante da Faculdade de Letras. Transcrevo parte do seu conteúdo, citado pelo Drº Jaime Lopes Dias: “Não sou por enquanto ninguém...
Sou um novo....afastado desses problemas (regional e social) mas, quando chegar a minha vez de agir,......eu espero contribuir com o meu melhor esforço, se bem que diminuto, a bem da nossa região.....
Em conversas que às vezes tenho tido, por aí, com algumas pessoas reconheci, aliás com certa tristeza, quão antiquada concepção.....possuem ainda do momento que passa........
Dessa evolução, como é lógico e natural compartilharam todos os ramos de actividade e conseqüentemente, a meu ver, o trabalhador rural.....
Por tal motivo deve reconhecer-se-lhe o legítimo direito de aspirar a uma melhoria de condição....como classes suas similares possuem.
Parece-me ver, embora de forma lenta, principiar a agitar-se uma massa com uma melhor compreensão do presente, que auxiliada pela camada do meu tempo, iluminada talvez por uma visão mais nítida, poderá singrar novo mundo talvez mais justo, nobre e equitativo.”
Ao referir-se ao progresso das nossas pobres e anti-higiénicas aldeias sugeriu: “Só o vejo viável no dia em que, ajudando, os indivíduos com um pouco mais de iniciativa, deixarem de tudo esperar do Estado.”
“Em tocando nestes assuntos, entusiasmo-me”, concluiu, terminando a sua missiva.
Por este pensamento, expresso, no início dos anos trinta, do século passado, poderemos aquilatar da falta que fez à Beira Interior, e do contributo que poderia ter dado para o seu desenvolvimento e afirmação, resultante da sua morte prematura, sem ter tido oportunidade de contribuir para a afirmação do seu pensamento.
O primeiro ponto do seu estudo é sobre a história de Idanha-a-Velha e, para um estudante de Geografia, revela ter realizado um estudo aprofundado das origens históricas de Idanha-a-Velha. Contudo, importa confirmar algumas das informações históricas, por serem contraditórias com outras fontes. Refiro-me à transferência do Bispado da Egitânia, para a Guarda, que ocorreu no reinado de D. Sancho I, em 1199, por iniciativa do papa Inocêncio II, segundo diz o autor. Trata-se, de facto, de um erro menor, porque em 1199 era papa Inocêncio III, eleito papa em 1198.
É relevante referir a chamada de atenção que faz para o papel de Leite Vasconcelos, na divulgação e estudo arqueológico de Idanha-a-Velha. Hoje em dia ressaltasse o trabalho de D. Fernando de Almeida, subavaliando trabalhos anteriores. Citando, diz: “O estudo das suas ruínas encontrou devoto admirador num eminente professor desta Faculdade, com nome ilustre é Leite de Vasconcelos. Na sua primeira visita à sua querida Egitânia, como Leite Vasconcelos lhe chamava, ao chegar junto das suas muralhas, apeou-se do trem que o conduzia, e respeitosamente, de chapéu na mão, entrou exclamando: “Salve Egitânia”. Fez as suas investigações, colheu muitos dados, e publicou alguns trabalhos.”
Alerta para a importância que a Idanha-a-Velha, como centro arqueológico e denuncia o facto de até à altura não ter sido reconhecida como monumento nacional. Faz algumas citações de registos epigráficos, considerando já na altura que se estava em presença de um muito relevante centro de epigrafia. Transcreve o registo epigráfico inserto na ponte romana de Alcântara, para mostrar a importância que a Egitânia teve no Império Romano.
MUNICIPIA
PROVINVIAE
LUSITANIA STIPE
CONLATA. QUE OPUS
PONTIS. PERFECERUMT
IGAEDITANI
LANCIENSES. OPIDANI
TALORI
INTERAMNENSE.
Traduz a inscrição: Os municípios da província Lusitana, que acabaram esta ponte, são os seguintes: os Egeditanos, os Lancienses, , os Pidani, os Talori e os Interamnenses.
Como se pode verificar o primeiro município referido na transcrição é o da Egitânia, sendo de admitir que isso resultaria da importância desse município, na Administração Romana.
Para quem quiser aprofundar as questões levantadas no estudo indica-se que o mesmo está disponível, em muito mau estado, estando por isso condicionada a sua leitura, na Biblioteca Nacional, com a cota H.G. 14856//23 V.
Também, na Biblioteca Municipal de Castelo Branco, na sala Jaime Lopes Dias, está disponível a Biblioteca, oferecida pela família, onde será de pesquisar se será possível localizar outra correspondência trocada entre Jaime Lopes Dias e António Manzarra Marrocos ou sua família.
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