segunda-feira, março 29, 2004

in: Reconquista

Cultura
Maria João Pires pondera continuar o projecto no país vizinho
Belgais pisca o olho a Espanha



O centro artístico de Belgais poderá continuar a crescer em Espanha, devido à falta de apoio que existe em Portugal, refere a pianista Maria João Pires. Um protocolo com a Câmara de Castelo Branco e a Caja Duero asseguram a sobrevivência do centro, até 2005.



A pianista Maria João Pires admite continuar em Espanha as actividades do Centro para o Estudo das Artes de Belgais, do qual é fundadora e directora artística. A pianista está decepcionada com a falta de apoio e interesse do Governo português. Para garantir a sobrevivência financeira do centro artístico foi assinado um protocolo com a Caja Duero, de Salamanca, na sexta-feira passada. No mesmo dia a Associação Belgais e a Câmara de Castelo Branco assinaram um documento que prevê uma maior cooperação ao nível da programação cultural. O Ministério da Educação não está a cumprir o protocolo que prevê a transferência de verbas para a Associação Belgais. Uma situação que, segundo a pianista, ameaça a estabilidade financeira da associação e as actividades que promove. Do total da verba prevista para Belgais pelo Ministério da Educação 45 por cento está por cumprir. “O Governo anterior demostrou um enorme desinteresse para com Belgais e o Governo actual pior...”, lamenta Maria João Pires. “Faz muito sentido continuar o projecto em Espanha”, salienta. O que não significa, segundo a pianista, a transferência do centro artístico para o outro lado da fronteira. “Há um núcleo de quem de ficar”, refere. Núcleo esse que é composto pelo Coro Infantil, a Escola Primária da Mata, os concertos e cursos de formação. Em declarações aos jornalistas, aquela que é considerada uma das melhores intérpretes contemporâneas do piano, considerou “assustador” o rumo que o país está a tomar, a todos os níveis, da economia à cultura. Maria João Pires salienta que Belgais é um centro experimental e que não pode ficar como está. “Ficando como é não é aquilo que deverá vir a ser”. Mas a falta de apoio público vai certamente pesar na decisão que a pianista tomará durante o próximo ano, a de continuar ou não o projecto em Espanha. Para garantir a segurança financeira da associação, “por que Belgais tem vindo a batalhar estes últimos anos”, foi assinado um protocolo com a Caja Duero, uma instituição financeira sediada em Salamanca. Sem este apoio a pianista salienta que “mais ano, menos anos, íamos desaparecer”. A aproximação a Espanha consumou-se depois de “a Caixa Geral de Depósitos da Beira Interior recusar a participação neste projecto”, refere Maria João Pires. O presidente da Caja Duero, Julio Fermoso, diz que a proposta de apoio a Belgais foi aprovada por unanimidade pelos responsáveis do banco. A instituição tem seis balcões em Portugal e quer a crescer no mercado nacional. Cooperação na programação cultural O protocolo assinado com a Câmara de Castelo Branco visa estabelecer uma maior cooperação entre as duas instituições na área da cultura e das artes. Os responsáveis esperam que desta parceria resulte uma melhoria ao nível da programação cultural, tanto do concelho como de Belgais.

“A colaboração entre ambas as instituições poderá permitir melhorias, no âmbito da cultura e das artes, quer qualitativas, quer quantitativas, bastante superiores às que se poderiam obter, actuando cada uma delas em separado”, pode ler-se no teor do documento que vigora até 31 de Março de 2005.

No entanto, cabe à Câmara de Castelo Branco aprovar o orçamento para a programação realizada ao abrigo deste protocolo, tendo como base a proposta apresentada pela associação. A autarquia irá dotar a associação “da necessária capacidade económica para a execução da programação aprovada até ao limite de 20 por cento, não podendo exceder 150 000 euros”. O autarca Joaquim Morão realçou a importância deste protocolo, e que permite a Castelo Branco “fazer parte deste grande projecto para a região e o país”. A pianista fez questão de declarar publicamente que Joaquim Morão “foi a única pessoa que, desde o início, deu um verdadeiro e grande apoio”. Nelson Mingacho Leg: Joaquim Morão acredita no projecto. Maria João Pires decide dentro de um ano qual o rumo a tomar.

Autor: Nelson Mingacho 25/3/2004 18:01:50

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