in: Público de 9/12/2007
Pinturas setecentistas do PCP da Covilhã são atracção turística
09.12.2007
Tectos pintados há 300 anos mostram cenários urbanos que fazem pensar no século XX. Parte já foi recuperada, falta a antiga capela
a São raros os painéis de pinturas setecentistas com uma visão global, não religiosa, do mundo e onde há desenhos semelhantes a construções do século XX. Mais peculiar ainda é vê-los na sede de um partido, que passou a estar numa rota turística. Mas é o que acontece com o Centro de Trabalho do PCP da Covilhã, que vai ser hoje visitado pelo secretário-
-geral, Jerónimo de Sousa.
Para além das salas de trabalho político agora requalificadas, há dois espaços com os tectos decorados com painéis de madeira pintados à mão, classificados de interesse público pelo Instituto Português do Património Arquitectónico (Ippar).
Jerónimo de Sousa vai encontrar o tecto da antiga capela em avançado estado de degradação e ainda à espera de financiamento para ser restaurado. Ao lado, a grande atracção são os painéis do Salão dos Continentes, restaurados em 2002. "O essencial eram os painéis do salão, até pela temática muito rara. Foram recuperados e integrados nas rotas turísticas", disse à agência Lusa Jorge Patrão, presidente da Região de Turismo da Serra da Estrela (RTSE), que impulsionou o restauro, concluí-do em 2002. Os trabalhos custaram cerca de 40 mil euros e foram patrocinados pela Acção Integrada de Base Territorial (AIBT) da Serra da Estrela e pelo Ippar.
Ainda ninguém contou o número de visitas, mas na sede do PCP já ninguém estranha quando, de repente, aparece um grupo de 30 turistas que quer ver as pinturas, "tal como aconteceu há uns dias". Segundo o historiador Vítor Serrão, os painéis foram pintados em 1690 pelo mestre Manuel Pereira, a mando do proprietário da casa, Simão Tavares Cardoso (família de letrados e negociantes têxteis).
O tecto é uma alusão aos Descobrimentos portugueses e tem um núcleo central com quatro figuras femininas, correspondentes aos quatro continentes conhecidos na época pelos portugueses. Desse núcleo irradiam oito pinturas, que representam motivos civis e imagens do quotidiano desses continentes.
"É uma sala com um tema profano e muito raro na época: uma visão global do mundo. Como é que isto aparece na Covilhã?", questiona o arquitecto José Afonso, director regional do Ippar. Os painéis mostram inclusivamente cidades com edifícios em grande altura, antecipando cenários urbanos que surgiriam séculos depois. "Como é que alguém imaginou isto? Com que informação? Estas pinturas são fascinantes e colocam inúmeras questões", refere. Para aquele responsável, a pintura "prova a existência na região de pessoas com muita informação e viajadas, muito provavelmente de origem judaica".
Nos seus trabalhos sobre arquitectura, José Afonso já traçou inclusivamente um paralelo entre uma das torres que surge desenhada num dos painéis, que tem um topo esférico alargado. "Limitei-me a pôr a imagem ao lado de uma fotografia da torre de telecomunicações de Toronto (Canadá). Há um paralelismo inegável", diz.
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