in: Diario xxi
Fundão mostra como era a Lusitânia
Sexta-Feira, 23 de Fevereiro de 2007
Museu Arqueológico José Monteiro abre domingo, no Fundão
No espólio que vai da Pré-História ao século V, o novo Museu junta uma das melhores colecções da Península Ibérica sobre a Lusitânia, explica o director. João Mendes Rosa abre portas a um espaço feito para ser interessante e percebido por todos
Luís Fonseca
Abre domingo, no Fundão, “o museu que melhor retrata na Península Ibérica o modo de vida dos lusitanos”, promete João Mendes Rosa, director do Museu Arqueológico José Monteiro.
A estrutura foi instalada no remodelado Solar Falcão d’Elvas, no centro histórico da cidade. O investimento ronda os 600 mil euros na requalificação do edifício e equipamento que vai permitir mostrar quase 400 das 15 mil peças que o município tem armazenado ao longo de décadas.
O Museu reúne colecções de objectos do quotidiano, que vão da pré-história ao século V, conjuntos cerâmicos romanos e pré-romanos, machados, e exemplares de peças com inscrições seculares. Mas a Lusitância assume papel de destaque. “O imaginário português está ligado aos lusitanos e esse é um período que está muito bem representado neste museu”, refere João Mendes Rosa. “Será poventura das melhores coleções da Península Ibérica sobre a Lusitânia”, com um elucidativo conjunto de artefatcos da Idade do Bronze. Machados, anéis, braceletes, material de fundição e moldes, são exemplos de utensílios em exposição.
“Ao contrario do que se estabeleceu dizer dizer, os lusitanos não estavam vocacionados para a Serra da Estrela, mas sim para o sul da Cova da Beira e até à Raia Espanhola”, salienta João Rosa, com base nos estudos mais recentes. Aliás, o concelho do Fundão é um exemplo vivo daquela presença, com nove castros lusitanos. “Queremos que o museu seja um ponto de partida para visitas aos locais, onde realmente se percebe a história e como tudo se passava”. “Não há nada como estar no local”, conclui.
“ABERTO À COMUNIDADE, SEM BELISCAR O RIGOR CIENTÍFICO”
As peças arqueológicas que compõem a exposição permanente estão colocadas lado a lado com ilustrações de Ricardo Trécio. “Tivemos a felicidade de aceder ao nosso pedido”, refere João Rosa. O resultado são telas que mostram como eram usados ou fabricados os utensílios. “Para os especialistas, estas telas são dispensáveis, porque eles sabem para que serviam e como eram feitas as peças. Mas as ilustrações são importantes para toda a população perceber o que está no Museu”, destaca. “Queremos um espaço vivo, aberto a todos”, destaca o director, para quem o Museu tem que “estar aberto à comunidade, sem beliscar o rigor científico”.
Vários serviços
O edifício tem ainda um pequeno auditório, uma sala de exposições temporárias, um laboratório de conservação e restauro e uma biblioteca técnica de arqueologia e história da arte, vocacionada para o serviço educativo, “do primeiro ciclo ao ensino universitário”, realça João Rosa. Graças ao serviço de interligação de bibliotecas,”podemos requisitar livros para chegarem ao Fundão no prazo de dois dias. São obras cuja consulta actualmente obriga a deslocações a Lisboa”, por exemplo. Uma sala multimédia com computadores e acesso à Internet, atribuida pelo portal Universia, workshops na área da arqueologia, especialmente dirigidos para jovens, são outros dos serviços que estarão disponíveis
O patrono e o director
O novo museu vai receber a designação de Museu Municipal José Monteiro, em homenagem ao responsável pela recolha de parte do espólio que ali vai estar exposto e um dos principais impulsionadores das investigações arqueológicas no concelho. Por essa mesma razão, o espaço vai ser inaugurado no domingo, 25 de Fevereiro, dia de aniversário de José Alves Monteiro, que nasceu em 1890, no Fundão, e faleceu em 1980.
Formou-se em Direito na Universidade de Coimbra em 1912, e regressou depois à terra natal onde exerceu advocacia e se dedicou à promoção de diversas actividades de ordem cultural e política, como as pesquisas arqueológicas. Foi autor de diversas obras sobre a temática.
Outra parte significativa do espólio do museu resulta de doações e cedências da parte de munícipes e instituições, entre elas o próprio Instituto Português de Museus.
O museu vai ser dirigido por João Mendes Rosa, docente, licenciado em História e doutorando em Arqueologia e actual responsável pela Divisão Municipal do Património Histórico.
Um museu ibérico
“Este museu reporta-se a um período em que ainda não havia nacionalidades. Havia um território uno, que não era estanque”. Os achados do Fundão são semelhantes aos da raia espanhola. Assim, para para cada uma das áreas de estudo, o Museu escolheu um especialista que fez uma análise entre território espanhol e português, “para unificá-los arqueologicamente”. Portugueses e espanhóis escreveram textos de mil e 500 caracteres que podem ser lidos a cada passo da exposição permanente. “Este é um museu municipal porque tem essa categoria administrativa, mas é de dimensão ibérica”, conclui João Rosa. Entre as colaborações, destacam-se as de investigadores de Salamanca e Mérida.
Pré-história
Paleolítico - Luís Raposo, director do Museu Nacional de Arqueologia
Neolítico - Socorro Plaza, Universidade de Salamanca
Calcolítico - Carlos Tavares da Silva
Proto-história
Idade do Bronze - Raquel Vilaça, Universidade de Coimbra
Idade do Ferro - Angel Esparza, Universidade de Salamanca
Era Romana
Romanização - Jorge Alarcão e Pedro Carvalho, Universidade de Coimbra
Povoamento Romano - Pedro Carvalho
Quotidiano Romano - Jesus Liz, Universidade de Salamanca
Epigrafia - José da Encarnação, Universidade de Coimbra
Os Deuses e Divindades - Manuel Salinas, Universidade de Salamanca
Epigrafia Funerária - Amílcar Guerra, Universidade de Lisboa
Vias Romanas - Fernando Patrício Curado, investigador
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