Idanha produz primeiro bioetanol de cana da Europa
Quarta-Feira, 31 de Janeiro de 2007
Combustível alternativo pode atrair investimento de milhões
Investigadores da Escola Superior Agrária (ESA) de Castelo Branco produziram, pela primeira vez na Europa, bioetanol a partir de cana-de-açúcar. A experiência inclui-se num projecto que poderá levar à instalação de uma fábrica de biofuel na região
Daniel Sousa e Silva *
A empresa “Global Green” pretende instalar uma fábrica destinada à produção de bioetanol, um aditivo e combustível obtido a partir de plantas, no concelho de Idanha-a-Nova, num investimento que poderá chegar aos 65 milhões de euros, anuncia Álvaro Rocha, presidente da Câmara local.
Em parceria com a Escola Superior Agrária de Castelo Branco, a empresa “já fez alguns ensaios de produção do bioetanol, com recurso a cana-de-açúcar cultivada na campina de Idanha-a-Nova, tendo obtido resultados bastante satisfatórios”. Neste âmbito, o presidente do município, Álvaro Rocha, foi recebido na terça-feira da semana passada, dia 23, pelo ministro da Agricultura, Jaime Silva, para “se equacionar a possibilidade de dispensar terrenos, pertença do Ministério da Agricultura, para a instalação da fábrica”. Em vista estão as instalações de uma antiga fábrica de tomate, para além da possível criação de um centro de investigação cientifica ligado as bioenergias. Álvaro Rocha aponta, igualmente, a criação de 60 empregos directos "e centenas deles indirectos".
COMO TUDO COMEÇOU
Na campina existe já uma cultura "de minifúndio dedicada à cana-de-açúcar", de onde foi obtida a matéria-prima para o bioetanol. "Existe uma esperança da fixação das pessoas na agricultura ou, pelo menos, a esperança de que não abandonem o concelho, por não encontrarem local de trabalho", adiantou. Poderá estar encontrada a alternativa ao tabaco, que até agora era a cultura dominante, em Idanha.
Dilip Cumar, empresário e agricultor português de ascendência indiana, disse que a produção de cana-de-açúcar utilizada no bioetanol começou na sua propriedade, primeiro por uma questão religiosa. "Sou hindu, necessitava de cana para as minhas cerimónias. A partir da necessidade religiosa, nasceu a perspectiva de um negócio", esclareceu.
Frisou ainda acreditar que os agricultores da cultura do tabaco, cuja produção decaiu nos últimos anos e deverá terminar até 2009, irão "render-se ao cultivo da cana-de-açúcar".
* com Lusa
"Vivemos tempos históricos"
"É pioneiro, trata-se do primeiro bioetanol produzido no País e na Europa a partir de cana-de-açúcar", anunciou José Monteiro, docente e investigador da ESA, ao mostrar cinco pequenas garrafas com o rótulo "Global Green - Bioetanol da Beira Interior, Portugal". "É já deste ano, a cana estava de pé há três semanas atrás". Plantada em ambiente agrícola, tendo para o efeito sido utilizados cerca de cinco hectares de terreno, pertencentes a um empresário e agricultor da região, a cana-de-açúcar "resistiu à geada", realça José Monteiro, o que prova que é possível plantá-la, apesar do frio e obter bioetano, "tanto numa escala pequena como numa escala maior".
"Basta que mais plantações estejam disponíveis. Na próxima Primavera contamos ter culturas já com alguma área. Acredito que é viável produzir álcool para fins industriais na zona da Cova da Beira, barragem de Idanha e, eventualmente, na zona sul de Castelo Branco", explicou o investigador.
"São históricos os tempos que estamos a viver. Não há como objectivo apenas o lucro para uma empresa, mas sim um projecto viável para toda a região", disse.
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