in: Diário xxi
Natural da Covilhã, foi convidada para estudar numa das melhores escolas da Europa
Sonho de vingar na música da violoncelista Catarina Rafael continua em Manchester
Quinta-Feira, 30 de Agosto de 2007
Os próximos quatro anos de Catarina Rafael vão ser passados na Royal Northern College of Music. Ao Diário XXI, conta as expectativas e as ambições para uma carreira que pode ser de grande sucesso
Texto e fotos Francisco Cardona
Há pouco mais de oito anos, altura em que iniciou os estudos musicais, nada fazia prever o futuro auspicioso de que hoje Catarina Rafael se pode orgulhar. Não lhe corre sangue de músicos nas veias, já que é filha de pai agricultor e mãe comerciante. Curiosamente, o amor pelo violoncelo também não foi à primeira vista, nesta covilhanense natural do Sarzedo, a mais pequena aldeia do concelho serrano.
Aos sete anos teve o seu primeiro instrumento musical: um órgão oferecido pelos avós. No ensino preparatório aprendeu flauta, mas o seu coração há muito que batia acelerado ao ouvir, lá em casa, o irmão tocar violoncelo. “Sentia o fascínio de uma sonoridade vibrante e, aos 12 anos, decidi que queria estudar violoncelo”, conta Catarina, que iniciou a aprendizagem na Escola Profissional de Artes da Beira Interior (EPABI), passou por Lisboa, pela Holanda e, nos próximos quatro anos, vai estudar na Royal Northern College of Music, em Manchester, Inglaterra.
“É um verdadeiro sonho tornado realidade”, confessa a jovem violoncelista convidada para estudar em Inglaterra pela professora Karine Georgian. Um nome prestigiado do violoncelo a nível mundial, que tem no currículo o triunfo na terceira edição do "International Tchaikovsky Competition", um dos mais célebres eventos de música clássica no mundo, que se realiza em Moscovo, de quatro em quatro anos.
CONVITE FEITO EM ITÁLIA
O convite surgiu este Verão, em Itália, durante a realização de uma Masterclass de Violoncelo que reuniu dois instrumentistas italianos, dois portugueses, uma inglesa, uma coreana e uma indonésia. “Tive de conter a satisfação e o entusiasmo quando a professora me chamou à parte e me propôs estudar em Manchester”, refere a jovem seleccionada entre os sete instrumentistas. Apesar do convite, teve de prestar provas de ingresso e foi aprovada obtendo uma bolsa oferecida pela cooperativa GDA – Gestão dos Direitos dos Artistas Intérpretes ou Executantes (ver caixa).
A jovem violoncelista detém uma vontade férrea de “fazer música”, de “viajar”, de “conhecer outras gentes e línguas”, que lhe aguçou o engenho e o talento. “Aos 12 anos estava farta do ensino normal, sentia que estava a perder tempo numa escola preparatória e disse aos meus pais que queria estudar violoncelo. Não me disseram que não, mas questionaram se teria talento”, conta Catarina Rafael, visivelmente satisfeita por ter demonstrado as suas capacidades.
Nos anos que se seguiram, a vida de Catarina passou por muitas horas de trabalho intenso, que a levaram a abdicar de “muitas coisas próprias da adolescência”. “A formação implica mais de quatro horas de estudo diário com o instrumento, portanto, não me sobrava muito tempo para ir ao café ou à praia. Mas valeu a pena”, garante.
LISBOA E HOLANDA, DEPOIS DA COVILHÃ
Concluído o 12.º ano no ensino integrado, Catarina frequentou o Conservatório Nacional de Lisboa, em 2005/2006, seguindo para a Faculty of Music da School of the Arts em Utrecht (Holanda). “Vim das provas em Amesterdão, cheguei a Lisboa e deparei-me com uma folha que indicava o último dia para candidaturas a bolsa de estudo de Masterclass”, oferecida pelo Rotary Clube de Lisboa. “Gostaram de mim e ganhei a bolsa”. Foi aqui que a vida de Catarina Rafael deu uma reviravolta “fantástica” após o convite de Karine Georgian. Nada poderia ter deixado a jovem instrumentista mais feliz. “É bom ir lá fora para abrir os horizontes e aprender.
Aos 20 anos restam-lhe ainda “muitos sonhos” por concretizar: “Ser feliz a fazer música”, “tocar com Yo-yo-ma e Karine Georgian” são alguns dos sonhos de Catarina Rafael. Com especial apetência para a interpretação de peças clássicas a solo, Catarina considera-se instrumentista “versátil” que não enjeita o improviso. “Durante três meses toquei com o Quinto Império no Hot Clube de Portugal e a experiência agradou-me bastante”, confessa.
Por agora, é entre russos, ingleses, americanos, chineses e franceses que Catarina tentará adaptar-se à “vida atribulada” de Manchester a partir do próximo dia 7 de Setembro. O regresso a Portugal após a conclusão da licenciatura ainda é uma incógnita. “Se daqui a quatro anos tiver ruma grande oportunidade de tocar, por exemplo, na Orquestra Filarmónica de Berlim é óbvio que não regresso a Portugal”, afirma entre sorrisos. “Já estou a sonhar um bocado”, mas não é o sonho que comanda a vida?”, conclui.
A Royal Northern College of Music tem mais de 700 alunos provenientes de 50 países, estando entre as mais conceituadas escolas de música a nível europeu, assumindo principal destaque no ensino de violoncelo.
“Estreia” na EPABI em 1999
Aprendizagem começou há oito anos
Catarina Rafael iniciou os seus estudos musicais em 1999, na classe de Violoncelo sob orientação do professor Rogério Peixinho, na Escola Profissional de Artes da Beira Interior (EPABI), na Covilhã. No ano lectivo 2005/2006, foi aluna da Escola de Música do Conservatório Nacional, em Lisboa, na classe de Violoncelo do professor Luís Sá Pessoa. Em 2006/2007, estudou na Faculty of Music da School of the Arts em Utrecht (Holanda), na classe de Violoncelo do professor Ran Varon.
Integrou diversas orquestras sob a direcção dos maestros Luís Cipriano, António Oliveira e Silva, Nuno Dario Sá, Christopher Bochman, Jean Sébastien Béreau e Martin André e participou como violoncelista o bailado "Rotterdam Dans", sob orientação da coreógrafa italiana Maria Eugenia Demeglio, que efectuou apresentações em Haia e Roterdão, em Junho de 2007.
Rogério Peixinho elogia antiga aluna
“Talento e personalidade forte”
Rogério Peixinho iniciou os seus estudos de violoncelo na classe de Luísa de Vasconcelos no Conservatório Regional de Música de Castelo Branco, tendo sido esta a sua grande mentora musical e com a qual terminou o curso superior. Enquanto estudante, integrou a Orquestra das Escolas de Musica Particulares, sendo 1º violoncelo em 1989, 1990 e 1992 onde estudou com Paulo Gaio Lima e Irene Lima. Actualmente é membro da “Orquestra Barroca de Lisboa” e dirige a classe de Orquestra da Escola Profissional de Artes da Beira Interior, onde lecciona violoncelo e assume a direcção pedagógica do Conservatório Regional de Música da Covilhã.
Sobre Catarina Rafael não tem dúvidas quanto à sua qualidade: “A Catarina é uma grande violoncelista e entrou numa das melhores escolas do mundo. Há muitos que queriam fazer o percurso que ela está a fazer, mas ela além de talento tem garra e uma personalidade muito forte e vai conseguir vingar no mundo da música. A Catarina tem tudo para vir a ser uma das melhores violoncelistas de geração dela.”
Só o talento não chega, diz Filipe Quaresma
“Vai ter de trabalhar”
Filipe Quaresma, nasceu em 1980 na Covilhã. Iniciou os seus estudos musicais em violoncelo aos 12 anos com o professor Rogério Peixinho na Escola Profissional de Artes da Beira Interior. Entre 1998 e 2003 estudou com David Strange e Mats Lidstrom na Royal Academy of Music. Integrou a Orquestra de Jovens da União Europeia e Orquestra Sinfónica da BBC.
“É uma grande motivação para qualquer pessoa entrar numa instituição. Representa uma motivação extra. Só o facto de ter entrada vai permitir progressos imediatos, mas nem tudo é um mar de rosas”, refere. Para o músico, Catarina terá de trabalhar imenso porque vai encontrar um nível elevadíssimo e muito competitivo. Não tem nada a ver com o que se passa em Portugal”.
A covilhanense terá uma grande progressão, segundo prognostica. “Conheço bem a violoncelista que a vai orientar e estou certo que a progressão vai ser grande, mas depende sobretudo do trabalho da Catarina. Estar lá já é uma grande ajuda, mas o talento não chega, é preciso muito trabalho, muita dedicação e disciplina. O talento é uma parte importante mas só com talento é impossível atingir voos mais altos”
Instituição vai pagar estudos de Catarina Rafael
Cooperativa gere direitos de mais de mil 300 artistas
A Cooperativa de Gestão dos Direitos dos Artistas intérpretes ou Executantes (www.gdaie.pt) é uma entidade de interesse público, sem fins lucrativos, estando legalmente autorizada a efectuar a gestão colectiva dos direitos dos artistas (actores, bailarinos e músicos).
Fundada em 1995, conta hoje com mais de mil e 300 cooperantes e administra direitos de mais de 200 mil artistas de todo o mundo, na medida em que as suas prestações artísticas tenham sido criadas, comercializadas ou utilizadas em Portugal.
A actividade principal da instituição é a cobrança colectiva dos direitos de Propriedade Intelectual, aqueles que não podem ser geridos individualmente, assim como a sua distribuição pelos artistas titulares.
Amanhã, junto ao Jardim Público
Violoncelista despede-se com concerto
A violoncelista Catarina Rafael apresenta-se, amanhã, num espectáculo intimista, antes de partir para Manchester. A partir das 21h30, a jovem estará no recém inaugurado Bar Covilhã Jardim, junto ao Jardim Público. Catarina Rafael irá interpretar peças clássicas num ambiente informal e descontraído que pretende ser uma festa de despedida da jovem, natural do Sarzedo, antes da sua partida para Inglaterra.
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