A Revista Raia nº 69 publica um interessante artigo da autoria de Pedro Rego, que transcrevo seguidamente e traduz uma perspectiva de divulgação e preservação cultural que nos deve orientar. As suas opiniões são interessantissímas e merecem a nossa atenção. Leiam, por favor..
In: Revista Raia nº 69
Pedro REGO – fundador da Revista Raia
Uma pérola mais em Idanha
Que o concelho de Idanha-a-Nova é riquíssimo em termos patrimoniais não constitui novidade para quem se interessa minimamente pela história da arte, pela etnografia, pelo folclore, pela literatura tradicional. Tanto do ponto de vista das expressões culturais tangíveis, como intangíveis, Idanha-a-Nova é uma referência incontornável, como referem diferentes especialistas em áreas bastante distintas como a etnomusicologia ou a antropologia.
Pessoalmente, dada a minha formação académica em História da Arte, admiro particularmente a abundância e a grande diversidade estilística do acervo artístico que cada uma das aldeias e todas no seu conjunto ainda encerram. Por tudo isso, desde há anos, dedico algum do meu tempo a visitar igrejas e capelas do concelho, pois é aí que se resguarda parte significativa das obras de arte aqui existentes, sendo elas próprias peças de arquitectura religiosa dignas de atenção e de estudo, algumas das quais resultam do trabalho apurado de mestres notáveis no quadro da história da arquitectura regional, como é o caso de Pedro Sanches, arquitecto com vasta obra documentada e com trabalho conhecido no concelho, sobretudo na segunda metade da centúria de quinhentos - autor da igreja matriz de Idanha-a-Nova, terá igualmente trabalhado em Salvaterra do Extremo, em Segura, na Senhora da Graça, no Ladoeiro, etc..
É por esta razão que não posso deixar de assinalar a exposição que desde o dia 8 de Dezembro está patente no Centro Cultural Raiano, ela sim uma novidade digna de reparo, pois reúne o que de melhor há no concelho em termos de obras de arte religiosa, especialmente pintura e escultura - donde se destaca um calvário do século XIII. Trata-se de uma daquelas oportunidade que surgem raras vezes na vida, porque cada um destes objectos repousa em diferentes localidades e nem todos estão patentes ao público.
Mas se é verdade que este facto constitui, já por si, um motivo mais que suficiente para destacar esta exposição, na agenda cultural regional e nacional, o seu interesse torna-se ainda mais evidente quando dela fazem parte obras que em pleno século XXI se encontravam ainda inéditas, ou eram apenas conhecidas de escassa meia dúzia de pessoas. Trata-se de uma anunciação, pintada a óleo sobre madeira de castanho, atribuída ao mesmo autor do tríptico do Rosmaninhal (Nossa Senhora da Graça, São João Baptista e Santo António), mestre desconhecido do ciclo manuelino, sobre o qual se começam agora a desenhar os primeiros traços do percurso artístico. Tenho palmilhado todo o concelho de Idanha-a-Nova, inventariando o seu acervo e fiquei absolutamente surpreendido quando tive conhecimento da existência de mais uma obra de um pintor que eu tanto admiro, como é o mestre referido. Vim a saber, posteriormenl que esta pintura se encontrava em Proença-a-velha, num loc indescritível, sujeita a condições absolutamente deploráveis, que degradavam a um ritmo acelerado.
Para efeitos de ser integrada nesta mostra, a obra sofreu ur intervenção de restauro que lhe devolveu o mínimo de dignidade. E ai está, agora, alvo do nosso apreço e indubitavelmente merecedc de toda a atenção e esforço que a Câmara Municipal de Idanha-a-Nova decidiu dispensar-lhe, uma vez mais no sentido de promover valorizar o património do concelho, mas ao mesmo tempo dando i, passo decisivo no quadro da preservação do património artísti nacional.
Está prevista para breve a edição do catálogo desta exposição, q está a ser elaborado por Joaquim Caetano, director do Museu Évora, e é esperado que o mesmo revele dados interessantes sobre obras. Até lá, recomendo vivamente uma visita a esta exposição, q a Comissão das Comemorações dos 800 anos de Idanha teve a feLIZ ideia de realizar."
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