terça-feira, setembro 20, 2005

Chocalhos 2005

Um dos grupos musicais que se exibiu em Alpedrinha, composto por três músicos, incluia no seu reportório a utilização de uma palheta. Foi feita a apresentação deste instrumento, de uma forma muito imperfeita e com erros. Disseram que aquele instrumento tinha sido construído em Penha Garcia. No final falei com o músico em causa, procurando saber quem tinha construído aquele instrumento. Disse tratar-se de José Reis, expliquei-lhe que José Reis era de Monsanto e não de Penha Garcia e que certamente aquela não era uma das suas palhetas. Acabou por dizer que tinha sido ele próprio a construir a palheta, com base no instrumento de José Reis. Relativamente à localização referida foi-me dito que tinham obtido a informação no site da Attambur. Lá lhes disse que conhecia muito bem o site da Attambur e que a informação aí apresentada era correcta, citando Ernesto Veiga de Oliveira, que desconheciam. Para finalizar, interpretaram um tema de Trás-os-Montes, para utilizarem a palheta, quando há inúmeros registos sonoros de José Reis utilizando a Palheta, de temas da Beira Interior, como sejam a Senhora da Póvoa, Senhora do Almortão e outras. Tudo isto a acrescentar à apresentação da palheta como o oboé da Beira Interior, feita pelo Jornal do Fundão.
É desta forma que a cultura da Beira Interior é tratada, perdeu-se uma excelente oportunidade de informar o Público sobre a riqueza dos instrumentos Tradicionais da Beira Interior e também para enquadrar a música no tema da Festa. A Festa era sobre a Transumância e José Reis era Pastor.

Foi também uma tristeza constatar o atraso relativamente à apresentação dos produtos regionais, Licores com uma etiqueta referenciando somente a produtora, esquecendo a composição, grau alcoólico, contactos e outras informações relevantes exigidas pela lei e pelos consumidores. Felizmente que ao nível dos petiscos estavam disponiveís alguns produtos da região, ovos verdes (com pouca salsa e vinagre), botelha frita, xerovias, peixinhos da horta, entre outros. Nas bebidas, na região da cereja e da ginja, não encontrei produtos com o mínimo de qualidade. A ginja, que tive oportunidade de provar era de fraca qualidade, muito temos que aprender com Óbidos. Estamos na pré-história do aproveitamento dos produtos regionais, para fins turísticos. Houve animação, muita música, movimento, mas é preciso muito mais. Os artesãos e camponeses precisam de se organizar e serem ajudados para valorizarem os seus produtos. As associações de desenvolvimento regional precisam de aprender com as congéneres de outras regiões, que conseguiram uma valorização muito mais forte e eficiente dos produtos da sua região. Improviso, boa vontade, não são suficientes. Numa economia global é preciso muito mais, conhecimento, estudo, investigação é o que faz falta....


3 comentários:

Anónimo disse...

Para começar, gostaria de clarificar um pouco esta questão que tão assazmente expõe neste blog. Gostaria de frisar que o instrumento que o Sr. viu é um de vários exemplares e construidos , não em Penha Garcia, mas sim na cidade do Fundão, e não é um dos instrumentos fabricados por José dos Reis. Foi a Associação Gaita de Foles, que muito prezamos musicalmente e por laços de amizade que tão amavelmente coordenou o workshop da construção da Palheta, a qual fez um excelente trabalho de estudo e elaboração patrocinado pela Câmara Municipal do Fundão no sentido da revitalização deste instrumento único o qual teve o prazer de ouvir. Quanto à questão do oboé da beira veja este link do site
http://attambur.com/Instrumentos/Portugueses/Aerofones.htm
Questione o site que tão bem conhece...
O lapso quanto à proveniência do Sr. José dos Reis, errar é humano, e pedimos publicamente as nossas desculpas. Pelos vistos o Sr. também se engana, principalmente reveja o português.
os mais sinceros cumprimentos

Anónimo disse...

Penso que em resposta à mensagem de 11-09-2004 19:56:10 do senhor asp, e desde ja peço desculpa pelo atraso, penso que a questão aqui não se prende tanto com a descrição do instrumento propriamente dito, mas com algo diferente que talvez nao levou em conta. Chamar-lhe "oboé beirao"? O Homem desde a roda que se satisfaz a inventar ou "redescobrir" novas coisas!!! o senhor José dos Reis até a data foi quem construiu/redescobriu o instrumento em questão. Acho que é muito mais pertinente chamar-lhe "oboé beirão", tendo esta expressão um carácter mais de praxístico do que de formal, que chamar-lhe instrumento tradicional. Conhecendo o instrumento em questão lhe respondo sr. asp que tradicional pressupõe dois factores importantes, o uso continuado no tempo, e uma práctica corrente da comunidade. Acho que nenhum dos dois factores tem relevância nesta questão, tao excêntrica é a origem deste instrumento, que nasceu e declinou no seu meio natural com o seu "inventor". Eu só gostaria de saber onde é que o sr. José dos Reis foi buscar a sua inspiração, pois acho que se é pura recreação do sr. José dos Reis, no contexto musicológico é genial, na práctica como instrumento, com mais um furinho já fazia uma escala maior!!!!

Anónimo disse...

Ernesto Veiga de Oliveira, em Instrumentos Musicais Populares Portugueses, Gulbenkian, 3º Edição de 1995, pag. 248 diz: "De uso bastante corrente outrora como instrumento de pastores em várias regiões da Beira Baixa, a palheta é hoje uma espécie completamente desaparecida. Encontramo-la ainda em Monsanto, de tubo cilindrico exteriormente (embora cónico interiormente) com cerca de 20 cms de comprimento, e cinco buracos melódicos na face superior do tubo, e dois, na copa, apenas para graduar o som, como do mesmo modo no ponteiro da gaita de foles; e existe no Museu Nacional de Arqueologia, além deste tipo, outro, semelhante, mas com seis buracos e mais quatro sonoros na copa, proveniente de Carvalhais (Covilhã)." Pela descrição da palheta beirã, na qual se incluí a variente de José Reis, pode constatar-se que se trata de um instrumento popular, com tradições. O que é tradicional é a palheta e as múltiplas variantes que foi assumindo ao longo dos séculos. O mesmo se passa com outros instrumentos populares e tradicionais.