Chocalhos 2005
Um dos grupos musicais que se exibiu em Alpedrinha, composto por três músicos, incluia no seu reportório a utilização de uma palheta. Foi feita a apresentação deste instrumento, de uma forma muito imperfeita e com erros. Disseram que aquele instrumento tinha sido construído em Penha Garcia. No final falei com o músico em causa, procurando saber quem tinha construído aquele instrumento. Disse tratar-se de José Reis, expliquei-lhe que José Reis era de Monsanto e não de Penha Garcia e que certamente aquela não era uma das suas palhetas. Acabou por dizer que tinha sido ele próprio a construir a palheta, com base no instrumento de José Reis. Relativamente à localização referida foi-me dito que tinham obtido a informação no site da Attambur. Lá lhes disse que conhecia muito bem o site da Attambur e que a informação aí apresentada era correcta, citando Ernesto Veiga de Oliveira, que desconheciam. Para finalizar, interpretaram um tema de Trás-os-Montes, para utilizarem a palheta, quando há inúmeros registos sonoros de José Reis utilizando a Palheta, de temas da Beira Interior, como sejam a Senhora da Póvoa, Senhora do Almortão e outras. Tudo isto a acrescentar à apresentação da palheta como o oboé da Beira Interior, feita pelo Jornal do Fundão.
É desta forma que a cultura da Beira Interior é tratada, perdeu-se uma excelente oportunidade de informar o Público sobre a riqueza dos instrumentos Tradicionais da Beira Interior e também para enquadrar a música no tema da Festa. A Festa era sobre a Transumância e José Reis era Pastor.
Foi também uma tristeza constatar o atraso relativamente à apresentação dos produtos regionais, Licores com uma etiqueta referenciando somente a produtora, esquecendo a composição, grau alcoólico, contactos e outras informações relevantes exigidas pela lei e pelos consumidores. Felizmente que ao nível dos petiscos estavam disponiveís alguns produtos da região, ovos verdes (com pouca salsa e vinagre), botelha frita, xerovias, peixinhos da horta, entre outros. Nas bebidas, na região da cereja e da ginja, não encontrei produtos com o mínimo de qualidade. A ginja, que tive oportunidade de provar era de fraca qualidade, muito temos que aprender com Óbidos. Estamos na pré-história do aproveitamento dos produtos regionais, para fins turísticos. Houve animação, muita música, movimento, mas é preciso muito mais. Os artesãos e camponeses precisam de se organizar e serem ajudados para valorizarem os seus produtos. As associações de desenvolvimento regional precisam de aprender com as congéneres de outras regiões, que conseguiram uma valorização muito mais forte e eficiente dos produtos da sua região. Improviso, boa vontade, não são suficientes. Numa economia global é preciso muito mais, conhecimento, estudo, investigação é o que faz falta....
3 comentários:
Para começar, gostaria de clarificar um pouco esta questão que tão assazmente expõe neste blog. Gostaria de frisar que o instrumento que o Sr. viu é um de vários exemplares e construidos , não em Penha Garcia, mas sim na cidade do Fundão, e não é um dos instrumentos fabricados por José dos Reis. Foi a Associação Gaita de Foles, que muito prezamos musicalmente e por laços de amizade que tão amavelmente coordenou o workshop da construção da Palheta, a qual fez um excelente trabalho de estudo e elaboração patrocinado pela Câmara Municipal do Fundão no sentido da revitalização deste instrumento único o qual teve o prazer de ouvir. Quanto à questão do oboé da beira veja este link do site
http://attambur.com/Instrumentos/Portugueses/Aerofones.htm
Questione o site que tão bem conhece...
O lapso quanto à proveniência do Sr. José dos Reis, errar é humano, e pedimos publicamente as nossas desculpas. Pelos vistos o Sr. também se engana, principalmente reveja o português.
os mais sinceros cumprimentos
Penso que em resposta à mensagem de 11-09-2004 19:56:10 do senhor asp, e desde ja peço desculpa pelo atraso, penso que a questão aqui não se prende tanto com a descrição do instrumento propriamente dito, mas com algo diferente que talvez nao levou em conta. Chamar-lhe "oboé beirao"? O Homem desde a roda que se satisfaz a inventar ou "redescobrir" novas coisas!!! o senhor José dos Reis até a data foi quem construiu/redescobriu o instrumento em questão. Acho que é muito mais pertinente chamar-lhe "oboé beirão", tendo esta expressão um carácter mais de praxístico do que de formal, que chamar-lhe instrumento tradicional. Conhecendo o instrumento em questão lhe respondo sr. asp que tradicional pressupõe dois factores importantes, o uso continuado no tempo, e uma práctica corrente da comunidade. Acho que nenhum dos dois factores tem relevância nesta questão, tao excêntrica é a origem deste instrumento, que nasceu e declinou no seu meio natural com o seu "inventor". Eu só gostaria de saber onde é que o sr. José dos Reis foi buscar a sua inspiração, pois acho que se é pura recreação do sr. José dos Reis, no contexto musicológico é genial, na práctica como instrumento, com mais um furinho já fazia uma escala maior!!!!
Ernesto Veiga de Oliveira, em Instrumentos Musicais Populares Portugueses, Gulbenkian, 3º Edição de 1995, pag. 248 diz: "De uso bastante corrente outrora como instrumento de pastores em várias regiões da Beira Baixa, a palheta é hoje uma espécie completamente desaparecida. Encontramo-la ainda em Monsanto, de tubo cilindrico exteriormente (embora cónico interiormente) com cerca de 20 cms de comprimento, e cinco buracos melódicos na face superior do tubo, e dois, na copa, apenas para graduar o som, como do mesmo modo no ponteiro da gaita de foles; e existe no Museu Nacional de Arqueologia, além deste tipo, outro, semelhante, mas com seis buracos e mais quatro sonoros na copa, proveniente de Carvalhais (Covilhã)." Pela descrição da palheta beirã, na qual se incluí a variente de José Reis, pode constatar-se que se trata de um instrumento popular, com tradições. O que é tradicional é a palheta e as múltiplas variantes que foi assumindo ao longo dos séculos. O mesmo se passa com outros instrumentos populares e tradicionais.
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