Carvalho francês e americano? Porque não Carvalho Lusitano? Já foram estudadas as características do Carvalho da Beira Interior no apuramento de vinhos? Da minha infância recordo o sabor, nunca mais encontrado, dos vinhos envelhecidos nas pipas produzidas de carvalho da Beira Interior. Reparem na diferença de comportamento entre aquilo que é descrito na entrevista, em que um brasileiro, enólogo de mérito internacional, vai para os Estados Unidos fazer um tese de mestrado sobre a diferença entre a utilização do carvalho francês e americano. E nós produtores de vinhos o que fazemos? Copiamos, se alguém diz que o carvalho francês permite fazer vinhos de qualidade, importam-se pipas de carvalho francês de França. E o nosso conhecimento, de séculos, num domínio em que somos competitivos a nível internacional, ver Relatório Porter? É assim, de menosprezamos a nossa cultura e o nosso conhecimento. Comparem a qualidade do mesmo vinho colocado em estágio em carvalho francês e carvalho lusitano e tirem conclusões. Garanto-lhes que o do carvalho lusitano é superior, mas estudem, investiguem e sobretudo valorizem os produtos nacionais.
ver: http://www.naturlink.pt/canais/Artigo.asp?iCanal=1&iSubCanal=1&iArtigo=1895&iLingua=1
in: http://www.tapadademafra.pt/flora.htm
O carvalho cerquinho (Quercus faginea), também conhecido por carvalho lusitano ou português, é uma árvore de porte médio, muito ramificada e com uma ampla copa. Não é bem uma árvore de folha caduca, pois a folha cai mais tarde do que é normal, caindo por acção dos ventos de inverno.
Espécie de Portugal e Espanha, é espontânea no Centro e Sul do País.
Prefere os climas suaves e quentes e parece crescer bem em solos calcários.
Juntamente com o sobreiro é a árvore emblemática da Tapada Nacional de Mafra, o seu fruto é uma importante fonte de alimento para os animais.
in: www2.uol.com.br/gula/entrevista/121_paul_hobbs.shtml
Por: José Maria Santana
Entrevista
O VINHATEIRO ITINERANTE
Paul Hobbs, responsável pelo sucesso dos vinhos da casa Catena e um dos pais do Opus One, grande vinho da californiana Mondavi, fala de suas apostas enológicas
O nome Catena é hoje uma espécie de ícone do vinho argentino. Seus tintos são sempre incluídos entre os melhores do mundo por críticos especializados da Europa e dos Estados Unidos. A reconhecida qualidade dos produtos des-sa vinícola situada no coração de Mendoza, na Argentina, é sempre atribuída à sensibilidade e capricho do empresário Nicolas Catena, seu proprietário. Mas, quando perguntam ao próprio Catena a que se deve o salto dado por seus vinhos em direção ao topo, ele faz uma surpreendente revelação: ao trabalho do enólogo americano Paul Hobbs. Embora não muito conhecido fora do circuito dos especialistas, Hobbs tem uma intensa carreira como consultor. Nos últimos anos, ele se transformou em um bem-sucedido flying winemaker, dividindo o tempo entre vinícolas da Califórnia, Chile e Argentina, para as quais presta serviço, e a própria empresa nos Estados Unidos, a Paul Hobbs Winery, instalada em Sebastopol, no vale californiano de Sonoma. Quem primeiro reconheceu o talento de Hobbs foi Robert Mondavi, o cultuado produtor da Califórnia. Mondavi soube que o jovem estudante do curso de enologia da Universidade da Califórnia, em Davis, havia preparado uma tese de mestrado sobre as qualidades das barricas de carvalho na maturação dos vinhos e imediatamente o contratou para trabalhar em sua empresa, como pesquisador. Logo Hobbs passou a fazer parte do time que desenvolveu o mítico tinto Opus One e, em 1981, foi promovido a enólogo-chefe da casa Mondavi, posição que ocupou por quatro anos. Ao sair, foi contratado pela Simi Winery, na qual chegou a vice-presidente. No fim da década de 80 ele resolveu conhecer de perto o que se fazia em outros países do chamado Novo Mundo vinícola e visitou vinhedos do Chile e da Argentina - quando conheceu Nicolas Catena. Um ano depois, em 1989, Hobbs foi convidado a desenvolver o Chardonnay da Bodega Esmeralda, a vinícola de Catena, em Mendoza. Ali ele é que foi surpreendido ao descobrir todo o potencial da Malbec, casta tinta originária da França, mas que encontrou na Argentina condições excepcionais para se desenvolver. Desde então, Hobbs dedicou-se a dar consultoria. Como o famoso enólogo francês Michel Rolland, ele integra o círculo restrito de vinhateiros que saem pelo planeta ajudando pequenas vinícolas a tirar o máximo de qualidade de seus vinhedos. No caso de Hobbs, há uma particularidade: ele é um artesão do vinho. Gosta de trabalhar pequenas áreas, de moldar a bebida de uma única casta, de um único vinhedo. É o que ele faz em uma vinícola que possui em Mendoza, em sociedade com um casal de amigos argentinos, onde produz o Cobos, um super Malbec. Nesta entrevista a Gula, ele falou de trabalho e de suas idéias como enólogo. Hobbs disse que a Califórnia hoje não quer mais imitar a França e que aposta mais na qualidade do vinho argentino que na de seus vizinhos chilenos.
Como começou seu interesse pelo vinho?
Minha primeira experiência foi quando meu pai trouxe para casa uma garrafa muito especial. Isso foi no fim da década de 60. Nunca tivemos um vinho à mesa. Então, meu pai foi a uma loja em Buffalo e pediu ao balconista um bom vinho. Ele nos vendeu um Château d'Yquem maravilhoso. A partir daquele dia, meu pai e eu ficamos muito interessados em vinhos, e começamos a plantar uvas. Durante os quatro anos de minha faculdade, na Universidade de Notre-Dame, o ajudei a cuidar do vinhedo. No último ano da universidade, conheci um professor de botânica que trabalhava como produtor de vinhos no Napa Valley.
Que orientação recebeu desse professor?
Ele me incentivou a ir estudar na Universidade da Califórnia, em Davis, onde fiz mestrado em enologia. Lá, pesquisei a influência do carvalho na maturação dos vinhos, as diferenças entre o carvalho francês e o americano. Um dos pioneiros a usar o carvalho foi Robert Mondavi. Qual é a diferença entre o carvalho francês e o americano para o vinho? Já se sabia que há mais baunilha no carvalho americano que no francês, mas nós ajudamos a precisar quanto. Descobri, nessa pesquisa, que há cerca de 2,5 vezes mais baunilha no americano que no francês.
Alguns vinhos envelhecem melhor em carvalho americano e outros em carvalho francês?
Acredito que sim. É uma questão de gosto e de estilo. Mas, em minha opinião, os melhores vinhos de mesa do mundo são envelhecidos em carvalho francês. É um carvalho mais transparente, mais sutil. O americano é mais agressivo, há o risco de a madeira se sobrepor à fruta.
Como foi seu trabalho com Robert Mondavi?
Fui contratado pela Mondavi em 1978. No ano seguinte a empresa se associou à casa francesa Mouton-Rothschild e deu um grande salto. Por causa do meu trabalho de mestrado, Mondavi me convidou a fazer parte do time que desenvolveu o tinto Opus One.
Como era o estilo californiano naquele período?
A produção de vinhos de qualidade ainda estava no estágio inicial. A abordagem californiana era mais técnica. É claro que os franceses também se preocupavam com a técnica, mas eles queriam também vinhos com arte, com alma. Foi um momento fascinante no desenvolvimento da indústria de vinhos na Califórnia, porque você tinha essas duas filosofias juntas. Isso ajudou a mudar a maneira de os californianos produzirem vinho.
E o trabalho com a família Catena?
Nicolas Catena me convidou para trabalhar basicamente com vinhos brancos. O seu desejo era produzir um excelente Chardonnay, em Mendoza.
Na época, a Catena já tinha grandes vinhos?
Não, não. Eles não tinham nada. Os vinhos eram quase imbebíveis. Eles vendiam vinho em embalagens Tetra Pak e os melhores eram bem precários.
O que foi feito para melhorá-los?
Todas as manhãs, eu e o Pedro Marchevsky, responsável pela parte agrícola da empresa, andávamos por todos os vinhedos e por todas as zonas importantes de Mendoza, como Agrelo, Lujan, Perdriel. Marchevsky me ensinava sobre as características das frutas locais. À tarde, com o enólogo da casa, Jose Galante, eu fazia testes na cantina. Nós não tínhamos barricas de carvalho para produzir Chardonnay, então eu estava trabalhando e ensinando apenas como fazer um vinho básico, com a fermentação malolática, que eles nunca haviam feito antes.
E em relação ao Malbec?
Os primeiros Malbec só surgiram em 1995. Nicolas Catena achava que aquela variedade não daria um bom vinho, daí ele ser contra a produção de Malbec. Isso mudou graças a um francês chamado Sig Moreau, que me pediu para fazer consultoria para uma vinícola do Chile. A empresa queria introduzir o carvalho americano e para isso pretendia fazer uma degustação às cegas, comparando os vinhos deles com os de outros produtores. No Chile, envelhecemos Cabernet Sauvignon em barris e perguntei ao Sig Moreau se poderíamos utilizar também um Malbec da Argentina. Então, envelhecemos Malbec nos barris de carvalho americano. Quando Nicolas experimentou o vinho, ficou surpreso ao ver como era bom.
Quais são seus projetos atuais na Argentina?
Minha prioridade é a vinícola Cobos. Deixei a Catena em 1997 e me associei a um casal de amigos, Andrea Marchiori e Luis Barraud. Tentamos produzir nosso primeiro Malbec em 1998, mas foi uma safra horrível. O vinho, que até era bom, não envelhecia, oxidava rapidamente. Já em 1999, após algumas modificações nos vinhedos e na vinificação, conseguimos produzir um Malbec concentrado.
Qual é o estilo Paul Hobbs?
Meu estilo é nunca permitir que o carvalho domine, invente ou modifique demais o vinho. Quer dizer, é possível lembrar de vinhos criativos, inventivos, como alguns australianos. Mas, se você provar um vinho Paul Hobbs, perceberá um estilo muito natural, porque só trabalho com leveduras nativas e bactérias nativas. Eu não adiciono leveduras produzidas em culturas. É uma espécie de harmonia entre o local e a fruta cultivada no local, que obviamente expressa esse lugar.
Os vinhos de Paul Hobbs são importados pela Aconcágua Premium tel.: (11) 3443-6410
Novembro/ 2002. Edição 121
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