domingo, janeiro 18, 2004

Foi apresentado um plano de reflorestação para a Gardunha, que incluia a plantação de 11 hectáres de acácias. Essa situação deu origem às seguintes cartas remetidas para o Público:

Contradições Portuguesas
Por PEDRO TEIXEIRA SANTOSCOVILHÃ
Sexta-feira, 02 de Janeiro de 2004
Uma das mais nefastas consequências dos incêndios que nos assolam ciclicamente todos os Verões é a consequente expansão da área ocupada por plantas infestantes, como as acácias (mimosas). As acácias, plantas exóticas com origem na Austrália, ocupam já na actualidade vastas parcelas em muitos
concelhos do nosso país.
O deflagrar de incêndios permite-lhes, por estarem excepcionalmente bem adaptadas a esse fenómeno, propagarem-se de forma imparável, invadindo zonas com aptidão florestal ou agrícola. Os acaciais crescem de forma tão compacta que não permitem o crescimento de outras espécies, constituindo um matagal tão denso que, por outro lado, propicia o rápido avançar de futuros incêndios.
É devido a este conjunto de motivos que nos últimos anos se têm vindo a investir muitos milhares de euros no Parque Nacional da Peneda-Gerês para controlar e erradicar esta praga, bem como outros milhares em projectos de investigação noutros pontos do país visando os mesmos objectivos. Deste modo, foi com profunda estupefacção que, ao folhear a edição do "Jornal do Fundão" de 7 de Novembro último, leio a notícia segundo a qual a Direcção Regional de Agricultura da Beira Interior (DRABI) se prepara para plantar um total de 11 hectares de acácias na serra da Gardunha (nas freguesias de Castelo Novo e Louriçal do Campo). A serra da Gardunha, que integra a lista de sítios nacionais da Rede Natura 2000 (com reais possibilidades de se vir a constituir em parque natural), alberga ecossistemas de elevado valor a
preservar, incluindo a existência de uma espécie vegetal única no mundo, a "Asphodelus bento-rainhae". Deste modo, os planos de reflorestação da DRABI não só não incluem planos para controlar os núcleos de acácias já existentes na Gardunha, como se preparam para piorar este gravíssimo problema ambiental.
Situações como esta demonstram que no nosso país se vive um clima de subdesenvolvimento único no mundo, só assim sendo possível compreender que em consequência da tragédia dos incêndios se gastem os parcos recursos do Estado a piorar a própria situação criada pelos fogos florestais. Como é possível conceber que em Portugal se gaste dinheiro para erradicar acácias e, em simultâneo, se gaste dinheiro para plantar mais acácias?


"Contradições Portuguesas"
Por JOSÉ L. COLEHO SILVASUBDIRECTOR REGIONAL DE AGRICULTURA DA BEIRA INTERIOR
Domingo, 18 de Janeiro de 2004
Foi publicada, sob o título "Contradições portuguesas", a carta remetida por Pedro Teixeira Santos ao PÚBLICO, a qual afirma que, por iniciativa da Direcção Regional de Agricultura da Beira Interior (DRABI), iriam ser plantados "(...) 11 ha de acácias na serra da Gardunha".
Ora a informação é falsa. De facto, foram apresentados em sessão pública, destinada a promover a discussão pelos interessados, os três projectos promovidos pela DRABI, para reflorestar áreas comunitárias afectadas por incêndios na serra da Gardunha, bem como beneficiar as áreas florestais existentes, no sentido de promover a sua recuperação após incêndio.
Nos projectos de arborização em causa, as acácias (ou "mimosas", são tratadas como "invasoras lenhosas", como, aliás, está descrito nos anexos técnicos dos projectos (cópias das partes relevantes em anexo).
O objectivo é realizar as acções que permitam o controlo da expansão da espécie de acordo com as técnicas consideradas adequadas. No caso, os exemplares isolados serão eliminados. Nas manchas existentes as árvores de maior dimensão serão alvo de desramação, de modo a controlar a respectiva vegetação. Os ramos eliminados e os exemplares de menor dimensão, que serão cortados, ficarão no terreno, de modo a constituir uma "manta morta", que dificulta o aparecimento de novas plantas da espécie.
De referir que este processo de controlo é o que se tem revelado mais eficaz na circunscrição da expansão da espécie. Podemos apresentar como exemplo o caso da zona a sul do parque de campismo do Pião, na Covilhã, onde as tentativas da erradicação da acácia, através do corte, se mostraram infrutíferas ao longo de vários anos. Optou-se então pela condução das árvores, o que tem permitido algum controlo na expansão. Tomamos a liberdade de sugerir ao autor da carta (bem como a todos os eventuais interessados) que se informe junto dos serviços do Ministério da Agricultura na Covilhã, onde reside, de modo a obter o cabal esclarecimento deste assunto.
Fica assim claro que não há plantação de acácias, tão-só a tentativa de controlar a invasão de novas áreas.

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