segunda-feira, março 01, 2010

Morte de José Manuel Capelo

No Blog de Joaquim Baptista, porterrasdoreiwamba.blogspot.com, li a informação sobre o falecimento de José Manuel Capelo. Curioso, porque não conhecia o seu trabalho, obtive algumas informações num outro Blog.
in:http://arrugamao.blogspot.com/2010/02/jose-manuel-capelo.html

"sábado, 27 de Fevereiro de 2010
José Manuel Capelo
Ontem à noite a notícia: morreu subitamente o José Manuel Capelo. Esta manhã foi cremado.
José Manuel Gomes Gonçalves Capelo nasceu a 29 de Janeiro de 1946 em Castelo Branco. O pai, médico, faleceu novo em Angola, onde se encontrava com a família e daí veio o poeta, com três ou quatro anos. Esta morte marcou-o para a vida tanto quanto na poesia.
Foi poeta e editor, principalmente. Mas também investigador (investiu muito, nos últimos anos, pesquisando os Templários e, particularmente, os Templários em Portugal). Foi também ficcionista, produtor cultural, declamador (com uma excelente voz), jornalista cultural (assinando recensões críticas). Poemas seus estão traduzidos e/ou publicados em várias línguas e vários países.
Homem com forte ligação à terra portuguesa, foi no entanto um viajante e um cidadão do mundo. A profissão que teve durante anos (assistente ou comissário de bordo, na TAP) permitiu-lhe conhecer países tão diferentes quanto a África do Sul e o Brasil, que o tocava intensa e paradoxalmente. Dos projetos editoriais brasileiros (por assim dizer) chegou a publicar o poeta-filósofo Ângelo Monteiro, Lucila Nogueira, Maria de Lourdes Hortas, havendo planos para editar Ariano Suassuna e outros, planos que entretanto a vida pôs de lado. O número de autores portugueses publicado é vasto e meritório, nomes como António Quadros, Dalila Pereira da Costa, João Rui de Sousa, António Ramos Rosa, António Manuel Couto Viana, António Telmo, António Salvado, José-Alberto Marques (um dos pioneiros da poesia experimental portuguesa), Joaquim Pessoa, J. O. Travanca-Rego, António Barahona, Albano Martins, Dórdio Guimarães, Pascoaes e Cebreiro (este, galego - publicou-lhes uma parte da correspondência) creio que também Raul de Carvalho, muitos outros e outras (Maria Sarmento por exemplo), de uma geração mais nova Paulo Borges, António Cândido Franco, vários outros.
Publicou também o último livro do poeta angolano Mário António (Fernandes de Oliveira), 50 anos: 50 poemas.
Era essencialmente um lírico, muitas vezes preso ao quotidiano próprio, com o qual a sua poesia andava confundida, naquela típica transformação do 'ego' em 'ego-mundo' que funda a subjetividade lírica. Tem momentos de grandeza espetacular, de grandiloquência, marcadamente oratória. Cultivou bastas vezes o paradoxo, a contradição, a aproximação pelos contrários. Recorria frequentemente às hipérboles, que davam corpo à vivência exaltada do mundo, da amizade e das mulheres. E tem frases lapidares no meio desses bosques de versos, em particular nas Odes, que o poeta e crítico Ângelo Monteiro considerava, junto com Plancha de Baca (famoso filólogo estremenho), o momento mais alto da sua obra.
Publicou muitos livros, a maioria deles na sua própria editora, até pelo escrúpulo que punha nessas edições. O primeiro livro creio ser Miragem, das ed. Montanha (col. Opúsculo), saído em Lisboa, em 1978, com capa de Lino António Tudela e prefácio de Paulo Homem-Cristo. O primeiro livro mais conhecido foi, talvez, Fala do homem sozinho, saído nas ed. Danúbio, em Lisboa também (cidade da sua vida), em 1983, com retrato, capa e ilustrações de Luís Osório, sendo apresentado ao público por um prefácio de António Manuel Couto Viana.
Quer como editor, quer como poeta, revela uma especial sensibilidade às artes visuais, em particular a pintura - possuindo uma razoável coleção de quadros de pintores muito representativos.
Mergulha agora na Noite das lendas, essa tempestade em viagem, essa paixão em brasa que infelizmente não chegou a escrever uma autobiografia amorosa. Temperamental, violento, capaz de passar frio e fome pelos amigos, inconstante, persistente, de aspeto vigoroso, beirão e parcialmente judeu, ficou vivo na memória de todos os que o conheceram - e mesmo aqueles que tiveram com ele desentendimentos fortes hoje o recordarão com graça.
Publicada por soantes em 11:52"

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