quinta-feira, setembro 06, 2007

Internet WI-FI gratuita em Salvador

Excelente prática e iniciativa que democratiza o acesso livre à Internet, utilizando software livre-LINUX. Estes jovens, em continuidade do seu excelente trabalho, deveriam divulgar em toda a comunidade outros software, de base LINUX, livres de licença, como por exemplo o OFFICE OPEN. Foi este o caminho seguido na Extremadura espanhola, em que o governo local impôs a obrigatoriedade de utilização de software livre em toda a administração, incluindo a educação. Esta é a via da autonomia, relativamente às multinacionais e que leva à utilização da informática na resolução de problemas sentidos pelas comunidades e não pela imposição do software que lhe é imposto. Parabéns pela iniciativa e pelo sucesso, que se apoiou num investimento financeiro mínimo, mas num conhecimento enriquecedor adquirido pelos jovens indicados.



in:Reconquista

Sete antenas asseguram sinal
Salvador quebra barreiras no acesso à internet



A carolice de dois jovens da aldeia de Salvador permite que hoje seja possível aceder gratuitamente à internet nesta freguesia do concelho de Penamacor. O dispositivo foi montado nos tempos livres e contou com o apoio da Junta de Freguesia.



O que começou como uma brincadeira entre dois amigos transformou-se num projecto para toda uma aldeia. Rodrigo Lucas e Hélio Silva são vizinhos e há alguns anos começaram a jogar, cada um na sua casa, através de um sistema sem fios. Na altura o acesso à Internet através do chamado sistema wireless (sem fios) era ainda um conceito estranho para grande parte dos portugueses. A brincadeira tornou-se séria a partir do momento em que decidiram alargar o sistema sem fios a toda uma freguesia, para tornar o acesso à Internet em algo habitual. Hoje esse objectivo está plenamente alcançado.

“O objectivo era que o sinal chegasse a todas as ruas, o que foi conseguido”, diz Rodrigo Lucas. Para tornar isto possível foi necessário instalar várias antenas em pontos estratégicos da aldeia, como a sede da Junta de Freguesia e até a torre da Igreja, onde só os mais atentos conseguem dar pela antena. Mas o projecto encontrou no serviço de Internet, fornecido pela Portugal Telecom, um dos obstáculos ao projecto. Durante meses a aldeia lutou por um serviço de Internet por banda larga condigno, conseguindo levar o caso até à Assembleia da República. Mas mesmo assim “foi pedido um pacote de 4 megas mas actualmente não chega a um mega e meio”, explica Rodrigo Lucas. Na prática, o serviço prestado actualmente é mais lento que o desejável, mas o facto de existir uma internet grátis não é sinónimo de roubo de clientes à PT.

“Apesar de haver uma internet grátis na localidade existem muitos utilizadores com internet ADSL com assinatura, o que demonstra que uma coisa não invalida a outra”, diz Hélio Silva. Isto acontece porque o serviço prestado gratuitamente tem as suas limitações, para permitir um acesso igual a todos os utilizadores.

O sistema instalado faz limitação de banda por utilizador, impedindo que um ou dois utilizadores do serviço açambarquem o sinal. Isso faz com que “todas as pessoas acedam à mesma velocidade”, explica Hélio Silva. Tudo funciona em sistema Linux, o programa operativo gratuito que serve de alternativa ao Windows, e há ainda um dispositivo que armazena a informação a que os utilizadores acedem. A primeira vez que o ficheiro é solicitado demora mais algum tempo, mas depois disso fica armazenado no servidor e o utilizador seguinte abre-o em poucos segundos. A actualização da informação é feita automaticamente.

Os promotores limitaram ainda o acesso a downloads de ficheiros de filmes, música ou sítios para adultos. Hélio Silva diz que “a intenção deste tipo de serviço é fornecer uma internet funcional, de forma a garantir as necessidades básicas dos utilizadores”, como o acesso ao correio electrónico, bancos na Internet (home banking), Finanças ou Segurança Social, evitando que os habitantes ou visitantes da aldeia tenham de se deslocar a Penamacor para beneficiarem deste tipo de serviços. Durante as férias permite ainda o acesso à internet por parte dos emigrantes ou outros naturais da freguesia que visitam a aldeia por estes dias. No resto do ano “as pessoas que têm familiares lá fora podem falar com eles ou ver-se através de webcam”, diz Rodrigo Lucas.

Utilizadores em crescimento O projecto de Internet sem fios encontra-se a funcionar há poucos meses mas os resultados estão à vista. Segundo Rodrigo Lucas “em média temos cerca de seis computadores ligados, mas já estiveram perto de trinta diferentes”. Uma adesão corroborada por Hélio Silva que está convicto que “duplicou ou mesmo triplicou o número de utilizadores na freguesia”.

A Junta de Freguesia de Salvador, que financia o projecto, investiu cerca de 1500 euros na compra de equipamento. O resto do trabalho foi feito pelos dois jovens, que aos fins-de-semana aplicavam o tempo livre na montagem de todo o sistema.

Para Rodrigo Lucas o projecto é também uma oportunidade para mostrar o que vale, já que está a frequentar a Escola Superior de Tecnologia do Instituto Politécnico de Castelo Branco. Para desenvolver o projecto aconselhou-se com alguns professores, mas o espírito de carolice foi decisivo.

Para ter acesso à Internet sem fios em Salvador basta ter um computador com uma placa wireless e configurar o aparelho para “ler” o sinal. As instruções de configuração estão em vários pontos da aldeia. Os computadores portáteis mais recentes já têm este dispositivo mas os mais antigos podem ser equipados com um aparelho que pode ser adquirido a partir de 20 ou 30 euros.

O projecto desencadeou ainda um comportamento curioso. Neste momento “os miúdos de 13 ou 14 anos estão a ensinar os mais novos”, abrindo a Ludoteca da aldeia e tomando conta dessas crianças, explica Hélio Silva. No futuro quase tudo é possível, da disponibilização de serviços da Junta de Freguesia até à transmissão por internet das festas da aldeia.

José Furtado

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