in: Diario xxi
Rede de universidades vai valorizar turismo cultural sustentável
Quinta-Feira, 03 de Maio de 2007
Projecto em foco durante seminário internacional, na Covilhã
Entidades de Espanha, México, Brasil e Portugal (entre as quais, a Universidade da Beira Interior) querem apontar caminhos para o turismo cultural sustentável: aquele que, para além dos benefícios económicos, dá mais progresso, melhores empregos e qualidade de vida às populações
Luís Fonseca
A Universidade da Beira Interior (UBI), na Covilhã, participa num projecto internacional que pretende valorizar o turismo cultural sustentável. O tema está em destaque no I Seminário Internacional sobre Desenvolvimento Sustentável que decorre desde ontem na UBI. Maria João Simões, investigadora da Universidade dedicada ao tema, alerta para a necessidade do turismo cultural ter de se basear em manifestações genuínas dos territórios para ser sustentável “e não em meras encenações”.
“Queremos identificar o impacto que o turismo pode ter ao nível ecológico, ao nível da coesão económica e social e da qualidade de vida das populações nos seus territórios”, explica Maria João Simões. “A nossa perspectiva não passa tanto pelo turismo de massas, que coloca problemas à sustentabilidade, desde logo a nível ecológico”, refere. Por outro lado, defende actividades “que permitam reforçar a identidade cultural das populações” e que lhes melhore a “qualidade de vida, com mais progresso e melhores empregos”.
A UBI e a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro fazem parte de uma rede internacional que estuda a matéria e de que fazem pare a Universidade de Salamanca (Espanha), Universidade de Hidalgo (México), Universidade Federal de Pernambuco e Fundação Joaquim Nabuco (ambas no Brasil). As entidades vão definir objectos de estudo em cada país, para estudarem e apresentarem sugestões.
PARTICIPAÇÃO DA POPULAÇÃO É INDISPENSÁVEL
Os objectos de estudo "podem ser grandes monumentos, arquitectura rural ou actividades endógenas", mas uma coisa é certa: “É importante que as populações participem na identificação do produto que vai apresentado”. “Não se pode criar um produto cultural que é uma mera encenação. Deve ser uma manifestação genuína”, sublinha a investigadora da UBI.
“O mais importante é saber que modelo de desenvolvimento queremos para os territórios”, acrescenta Maria João Simões. “Se queremos apenas crescimento económico numa lógica de mercado ou um desenvolvimento sustentável, em que se acautelam todas as dimensões desde a ecologia à qualidade do emprego”, daí a importância do envolvimento da população, sublinha.
Dinheiro escasseia para investigação
O trabalho de investigação deve desenvolver-se “ao longo de dois a três anos”, segundo adiantou à Agência Lusa. Neste momento, o projecto “está a ser alinhavado”, descreve a Maria João Simões. “Temos a rede de instituições montada, trocamos experiências e estamos a tentar encontrar programas de financiamento”. A falta de verbas tem obrigado os investigadores a serem eles próprios, por vezes, a suportarem algumas despesas e noutros casos a encontrar novas soluções.
“As universidades e centro de investigação estão com dificuldades ao nível do financiamento. Por isso, arranjamos soluções mistas: muitos investigadores que participam no I Seminário Internacional sobre Desenvolvimento Sustentável já estiveram na semana anterior num outro congresso, em Salamanca”.
“Sempre que há especialistas que fazem trabalho conjunto, organizamos também as actividades em sintonia, por forma, a reduzir as despesas de viagens, por exemplo”, explica Maria João Simões.
O que é isso?
De acordo com a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) da Organização das Nações Unidas (ONU), o desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades presentes sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades.
“O turismo é uma das actividades de maior crescimento económico no mundo, com impactos globais e locais crescentes. O turismo sustentável diz respeito não só a acautelar matérias relacionados com a ecologia, pressão ambiente e desperdícios, mas também as que dizem respeito à responsabilidade social. Na prática, o turismo sustentável gere o progresso local, a cultura e meio-ambiente com o dinheiro e os empregos gerados através da actividade turística”
- definição de turismo sustentável, segundo comunicado municipal de Fiskars Village (Finlândia), ao receber o prémio de Destino Turístico Sustentável 2007
Programa do seminário
O I Seminário Internacional sobre Desenvolvimento Sustentável decorre desde ontem e termina hoje no anfiteatro Padre Videira Pires, no Pólo IV da UBI, numa organização do Centro de Estudos Sociais da UBI (UBI_CES).
Para além do turismo cultural sustentável, há outros temas hoje em debate, como o “Desenvolvimento Sustentável em Contextos Africanos – o caso de Angola”, pelas 10h00, e “O Desenvolvimento Sustentável em Contextos Europeus – o caso da Beira Interior e Trás-os-Montes (Portugal)”, a partir das 14h30. Seguem-se reuniões de trabalho pelas 16h30. O encerramento está marcado para as 18h00.
Antiga cidade cheia de fábricas reinventou-se e atrai 25 mil turistas por ano
Um exemplo prático
A Royal Awards for Sustainability é uma organização independente apoiada pela Agência Europeia do Ambiente, que este ano entregou pela primeira vez o Prémio de Destino Turístico Sustentável. O local vencedor foi Fiskars Village, uma antiga cidade-estaleiro do sul da Finlândia. Trata-se de um autêntico complexo industrial de fundições de cobre e ferro do século XVII, que cresceu ao longo das margens do Rio Fiskars. Mas este ambiente austero não impediu Fiskars Village de cumprir critérios rigorosos de respeito pelo meio onde se insere, quer a nível económico (beneficiando a comunidade local e promovendo o emprego), quer a nível ambiental. E por isso arrecadou o prémio.
A cidade enfrentou a decadência industrial ao longo do último século. As empresas fecharam, os trabalhadores desapareceram, mas Fiskars Village reinventou todo o legado, que em vez de ficar abandonado ganhou novas actividades. A zona é hoje uma referência na Finlândia pela arte e design industrial. É um forte destino turístico, acolhe residências artísticas e muitos espaços de exposições. Estima-se que 25 mil turistas com forte poder de compra passem anualmente vários dias em Fiskars Village.
Sem comentários:
Enviar um comentário