domingo, fevereiro 13, 2005

in: Público de 13.2.2005

Como Revelar Arte Rupestre e Respeitar a Paisagem?
Por INÊS NADAIS
Domingo, 13 de Fevereiro de 2005

Os projectos do Museu do Côa, da dupla Camilo Rebelo e Tiago Pimentel, e o de dinamização da área arqueológica do Vale do Ocreza, de José Adrião, foram os casos particulares em discussão na conferência "Paisagem e Arquitectura: Topologia e Tipologia", que terminou ontem em Serralves, Porto, encerrando uma discussão sobre as relações (de mimetismo, metáfora e ruptura) entre o projecto arquitectónico e a sua paisagem de acolhimento.

A apresentação detalhada dos projectos - ambos exigindo uma intervenção em meio caracterizado por uma topografia impositiva, na confluência de vales, e pela presença de gravuras rupestres - permitiu reconstituir o percurso entre a primeira abordagem aos pressupostos da encomenda e a maquete final.

Camilo Rebelo explicou o projecto vencedor do concurso de arquitectura para o Museu do Côa, a implantar num local de paisagem não cultivada e sem referências arquitectónicas. Inspirado nos pressupostos da "land art" de Richard Serra e de Richard Long, os arquitectos hesitaram entre a estratégia moderna de "um edifício pousado no terreno" (mas interessava-lhes "uma coisa mais local"), a estratégia mais discreta de "um edifício enterrado no terreno" (mas "perdia-se afirmação na paisagem", fundamental num edifício público) e a terceira via de um "edifício-prótese". Numa fase em que o dilema estava ainda por resolver - "a peça devia fundir-se ou destacar-se?" -, a experiência vivida do lugar serviu de teste às hipóteses conceptuais, dando forma a "um edifício artificial que prolonga a silhueta natural". Tiago Pimentel abordou ainda problemas específicos do programa, como a separação entre as duas áreas funcionais e a relação das zonas expositivas com o espaço exterior, inevitável num museu cujo contexto "está todo lá fora".

Logo de seguida, José Adrião apresentou o seu projecto para o Vale do Ocreza, no concelho de Mação, uma intervenção repartida por quatro zonas numa área total de 550 hectares atravessada por três grandes infra-estruturas: a A23, a linha ferroviária da Beira Baixa e a barragem da Pracana. Organizado em função das gravuras paleolíticas ali encontradas, o projecto esforçou-se por criar uma relação entre os quatro núcleos, num pressuposto de não construção, à maneira de Richard Long. "A pergunta era: como marcar um caminho sem o construir? Mas quando começámos a andar, descobrimos que os caminhos estavam lá", notou José Adrião. O desafio passou então a ser marcar pontos de paragem no percurso, plataformas de betão que servem de leitores de paisagem e que são provavelmente a marca autoral mais distintiva da intervenção.

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