quarta-feira, maio 02, 2007

Segurança nas aldeias da Beira Interior

in: Diário xxi

Trancas na aldeia que tinha sempre as portas abertas
Quarta-Feira, 02 de Maio de 2007
Homem de 75 anos de Penha Garcia foi alvejado quando resistiu a tentativa de assalto

Os habitantes da Aldeia Histórica do concelho de Idanha-a-Nova estão apreensivos e pedem mais policiamento. O posto de GNR mais próximo fica em Monsanto, a 12 quilómetros de distância
Daniel Sousa e Silva

A habitual tranquilidade da aldeia histórica de Penha Garcia (Idanha-a-Nova), com cerca de 900 habitantes, foi abalada, no último dia 23 de Abril. Um idoso foi alvejado por uma arma de fogo, durante uma tentativa de assalto à sua habitação. Dois indivíduos entraram em casa e tentaram levar dinheiro, mas acabaram por fugir sem nada.
António Cruz Ribeiro, de 75 anos, ainda está internado no Hospital Amato Lusitano, em Castelo Branco, em convalescença, após uma intervenção cirúrgica ao abdómen. Não foi possível retirar o projéctil de que foi vítima, mas encontra-se estável e a recuperar dos ferimentos.
Tudo aconteceu por volta das 11h00. “Estava a ser um dia com os outros”, recorda Catarina dos Santos Nunes, de 60 anos, esposa do idoso alvejado. Ambos estavam em casa, com a porta da rua aberta, algo habitual na aldeia onde todos se conhecem. “Íamos aquecer o almoço, quando, de repente, entra um homem pela porta dentro”. Com uma máscara na cabeça “em que só se via os olhos”, o homem vociferou: “Quero dinheiro”. Mas os idosos não tinham dinheiro em casa. “Nós não temos dinheiro”, terá respondido António Cruz Ribeiro. Em reacção, o assaltante disparou e fugiu. “Aconteceu tudo numa questão de segundos. Foi tão rápido que, no momento, nem me apercebi que o meu marido tinha sido alvejado”, explica a esposa ao Diário XXI, que só se lembra de ter visto um dos assaltantes.
Valeu a ajuda rápida prestada por um sobrinho, que se encontrava nas imediações da habitação. “Chamou num instante os bombeiros e a GNR”, lembra a idosa. “Só quem passa por isto é que pode saber o que é”, sublinhou, em tom de lamento.
A idosa está agora instalada em casa de uma cunhada, Maria dos Santos, porque tem “medo de ficar sozinha”. Depois do incidente, Catarina dos Santos Nunes garante que “nunca mais” vai deixar a porta de casa aberta. Antes, “até de noite a porta ficava destrancada”. Catarina dos Santos Nunes pede “mais polícia”. O posto da GNR mais próximo está na aldeia histórica de Monsanto, a 12 quilómetros.

“NINGUÉM DEU CONTA DO QUE SE PASSOU”
De acordo com a versão do comandante distrital da GNR, Hélder Almeida, “mais ninguém deu conta do que se passou, nem sobre como os agressores chegaram ao local”. O caso está desde a altura a ser investigado pela GNR e pela Polícia Judiciária.

“Não sabemos quem poderá ser o próximo”
José Maria Pascoal, vizinho de António Cruz Ribeiro, não esconde o receio em que vive desde o episódio. “Eu não estava em casa, tinha ido dar um passeio. Mas, desde essa altura, toda a gente vive com um medo que é difícil de explicar”, conta ao Diário XXI.
Garante que, desde que se lembra – José Maria Pascoal tem 67 anos, sempre vividos em Penha Garcia –, “é a primeira vez que uma coisa destas acontece por estes lados”.
Deixar a porta de casa aberta era um comportamento habitual até ao dia 23 de Abril, mas “agora temos sempre as portas trancadas, porque não sabemos quem poderá ser o próximo a ser atacado”. José Maria Pascoal confessa que “agora estamos atrapalhados de todo”. “Nem sabemos bem como reagir”, acrescentou.
O idoso gostaria de “ver mais forças policiais”, uma vez que “o posto da GNR mais próximo é em Monsanto e, mesmo assim, fica a uns 12 quilómetros. Se algo nos acontece, é impossível chegarem a Penha Garcia a tempo de nos acudir”, considerou.

Iniciativa da Associação Pinus Verde
Sistema para emergências está a ser testado no Fundão
O isolamento que atinge muitos idosos – em inúmeros casos não possuem sequer telefone – pode ser minorado com o recurso a novas tecnologias. Um exemplo do que poderá vir a ser o futuro está a ser testado na zona do Pinhal do Fundão.
Por iniciativa da Associação Pinus Verde, um conjunto de nove idosos está a testar, desde o final de Fevereiro, o Localizer. Trata-se de um equipamento semelhante a um telemóvel de localização de idosos, com botões através dos quais o portador pode accionar números de telefone memorizados, nomeadamente dos serviços de emergência locais.
O teste faz parte de um projecto promovido pela associação de desenvolvimento local Pinus Verde, em conjunto com os serviços concelhios de Protecção Civil e de Emergência Médica. “O Localizer serve para apoiar os idosos do ponto de vista da saúde e da segurança”, explicou ao Diário XXI, Paulo Fernandes, presidente da Pinus Verde. Aquele responsável espera que o sistema possa estar plenamente implementado no terreno até ao mês de Junho.
Foram escolhidos para a fase experimental idosos que preenchem diferentes critérios. “Alguns estão numa situação de isolamento, outros ainda fazem uma vida activa entre a habitação e os campos e isso também nos interessa”, referiu Paulo Fernandes.

LOCALIZAÇÃO EXACTA
“A grande vantagem do Localizer é ter um sistema GPS incorporado, que permite saber com exactidão onde se encontra o portador. Os pedidos de ajuda para números de telefone pré-programados podem ser feitos a qualquer altura, seja qual for a situação de emergência”, explica Paulo Fernandes. O aparelho permite levar ajuda até junto do portador e “funciona com qualquer rede de telemóvel”.
“Tem havido contactos com a Segurança Social para que o sistema possa ser utilizado em muitas mais freguesias, como mais uma forma de prestar apoio à população idosa”, sublinha Paulo Fernandes. Aliás, os custos são suportados pelo projecto Progride a que a Pinus Verde se candidatou e sob a alçada do Ministério da Segurança Social. “Nesta fase de testes não há custos para o utente. Quando o sistema entrar em pleno funcionamento, poderá existir uma pequena taxa”, de valor a definir.
LF

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