terça-feira, novembro 29, 2005

Reeditada Monografia de Castelo Branco, com 1ª Edição há 115 anos

in: Diário xxi
Monografia de Castelo Branco reeditada 115 anos depois
Terça-Feira, 29 de Novembro de 2005
A monografia "não é dirigida a especialistas. É para todos, para estudantes que necessitam de informação quando elaboram trabalhos escolares, mas também para aqueles que querem conhecer melhor a história do local onde nasceram ou onde vivem", anuncia a editora
Uma monografia de Castelo Branco, da autoria de António Roxo, publicada em 1890, foi agora reeditada pela editora Alma Azul e dirigida, nomeadamente, aos estudantes que necessitam de elementos sobre a cidade para trabalhos escolares.
"Não é dirigida a especialistas. É para todos, para estudantes que necessitam de informação quando elaboram trabalhos escolares, mas também para aqueles que querem conhecer melhor a história do local onde nasceram ou onde vivem" disse à Agência Lusa Elsa Ligeiro, responsável da Alma Azul.
O livro, com pouco mais de 200 páginas, inclui capítulos diversos sobre Castelo Branco, desde a origem da cidade, passando pela história de diversos monumentos e locais de culto religioso. A invasão francesa, forais, datas e factos ou dados estatísticos diversos, entre outros temas, estão incluídos na obra, cuja reedição teve o apoio da Câmara de Castelo Branco. "É um dos textos mais seguros sobre a história de Castelo Branco", sublinhou a responsável.

“NÃO HÁ QUASE NENHUM REGISTO” SOBRE O ESCRITOR
A editora, sedeada em Coimbra e com uma delegação em Alcains, apostou ainda na alteração da grafia da obra original, publicada há 115 anos, para português actual. "Destina-se a qualquer pessoa que necessite de informação" explicou Elsa Ligeiro, acrescentando que os livros que existem "são dirigidos a temas muitos específicos".
"Os especialistas encontrarão na Biblioteca Municipal e no Arquivo Distrital as fontes que procuram", adiantou Elsa Ligeiro.
Já sobre o escritor António Roxo, "várias vezes citado", em trabalhos de investigação, Elsa Ligeiro afirmou, no entanto, que "pouco se sabe". "Não há quase nenhum registo dele. A reedição acaba por ser também uma homenagem à sua memória e ao seu trabalho", concluiu.

sábado, novembro 26, 2005

A Rota dos Castros, iniciativa cultural da Câmara Municipal do Fundão

Nem sempre aquilo que parece uma boa intervenção cultural o é.

Num BLOG destinado a apoiar a iniciativa cultural da Câmara Municipal do Fundão, designada por Rota dos Castros, encontrei os comentários que abaixo transcrevo.

in:http://rotadoscastros.blogspot.com/
Marcos Osorio disse...

Isto são paredes de casas?

5:18 PM
Aécio disse...

Dada a localização podem ser paredes de Castros ou re-aproveitamentos. Estão neste momento a ser estudadas estas duas hipóteses. Uma vez que não há conhecimento de utilização na zona específica para pastoreio ou agricultura, estarei mais inclinado para a primeira hipótese, esta é a minha opinião pessoal, que terá que ser comprovada com prospecções e escavações. A teoria das paredes de castro poderá ser facilmente fundamentada, dada a possível retenção de materiais no interior dos alegados castros.

9:08 PM
Anônimo disse...

Confesso que estou um pouco apreensivo com isto da rota...
Muitos dos arqueossítios da região já sofreram assaltos de "arqueólogos" de fim de semana, alguns com os habituais detectores de metais...
Outros acham apenas que é giro levar uns "recuerdos" para casa (entenda-se materiais arqueológicos...)
Sabemos bem o dano que visitantes mal informados podem causar a sítios deste tipo, ainda para mais isolados.
Por vezes a divulgação e fáçil açesso é uma espada de dois gumes...

1:15 AM
ds disse...

Só agora descobri este blog. Excelente ideia. Obrigado por toda a informação

3:14 PM
Anônimo disse...

Protecção dos Castros

Ainda não tive oportunidade de fazer a Rota dos Castros, iniciativa Cultural da CMF. Pelas imagens, se a situação actual é a que se apresenta nas fotografias, as boas intenções, que considero terem existido, relativamente à divulgação da Rota, vão traduzir-se em delapidação do nosso Património. Este tipo de Rotas, a sua divulgação e a facultação de informação orientativa, deve ser antecedida da protecção dos locais, contra o acesso directo aos locais e a eventual delapidação de objectos. As boas intenções, podem vir a dar lugar a crimes culturais....

Arquivo Municipal de Idanha-a-Nova

Que desculpas podem ser adiantadas, por quem se queira aventurar no estudo da história do Concelho?





O Arquivo na Imprensa


Expresso ( Nº 1127 de 4 de Junho de 1994 )


" Idanha: um caso exemplar

HAVERÁ por esse Portugal fora casos idênticos, ou parcialmente parecidos, ao caso exemplar que é o do Concelho de Idanha-a-Nova no distrito de Castelo Branco. No entanto, escolhemos este município que mostra, lapidarmente, o grande drama da sociedade portuguesa neste findar de século, seguramente extrapolável para outras zonas e outros concelhos.
Idanha-a-Nova tem cerca de 1100 Km2, 14.115 habitantes repartidos por 17 Freguesias, 10.886 alojamentos com uma relação área/habitante de 20Km2 para 1 habitante. A freguesia/sede do concelho em cerca de 2450 moradoras.
Dos alojamentos existentes são habitualmente ocupados 5825. Numa amostragem de 1407 famílias, mais de 50 por cento (exactamente 788) não tem crianças, sendo que, entre as famílias com crianças e que na amostra totalizam 619, 557 têm apenas duas. Só em Monsanto verificou-se nos últimos dez anos uma diminuição anual de 50 indivíduos.

O concelho tem Penha Garcia, Idanha-a-Velha, Monsanto, Rosmanhinal e Proença-a-Velha com grande interesse turístico, histórico-arqueológico e etnográfico, como em toda a sua área.

Nos últimos mandatos, a Câmara Municipal, presidida por Joaquim Mourão, tem realizado um trabalho notável, recorrendo a todos os fundos e programas possíveis da UE e, entre 1990 e 1993, ao Programa Operacional da Raia, integrado no PDR da Região Centro. Com uma gestão financeira prudente, a Câmara tem uma situação económica equilibrada.

Foram concretizados, e refiro os mais significativos, os seguintes projectos: piscinas (cobertas e descobertas); biblioteca municipal, escola C + S, pavilhão polidesportivo convenientemente equipado; parque de campismo com «bangalós», piscina e campos de ténis Centro Cultural Raiano; um fabuloso Arquivo Histórico Municipal; largas dezenas de quilómetros de estradas rectificadas e pavimentadas; escola profissional, Pousada de Monsanto (alugada à Enatur) e finalmente, foi instalada na sede do concelho uma extensão do Instituto Superior Politécnico de Castelo Branco. No entanto...

A agricultura - tradicional ocupação da população de Idanha está agonizante, com excepção de uma pequena zona onde se produz tabaco; conta-se, nessas terras raianas que «o que está a dar, é a cultura do «girassidio», isto é a obtenção de subsídios pela plantação de girassol que, em muitos casos, nem é sequer colhido. Indústrias não há. Iniciativa privada não se vê: a zona industrial, que Joaquim Mourão implantou, tem apenas uma instalação: uma queijaria com câmara frigorifica de cura, que a própria Câmara construiu. Com uma população envelhecida, vitima de uma constante sangria demográfica, Idanha-a-Nova tem, de certo, uma qualidade de vida bem superior à da esmagadora maioria dos municípios do litoral.

Mas, qualidade de vida para quem? Qual é a política de fixação da população no interior do pais que os Governos, nomeadamente, os do PSD que beneficiaram a partir de 1985 dos Fundos Comunitários, tem desenvolvido? Que política de atracção de técnicos, de jovens e de capitais para investimento, dirigida para o interior, tem sido desenvolvida em Portugal?

Para quê e para quem servirão, daqui a dez anos, os magníficos projectos implantados e construídos em Idanha-a-Nova com o suor, o esforço e eventualmente as lágrimas de Joaquim Mourão? Para quê os milhões da UE?
Ao serviço de que modelo de desenvolvimento e de que projecto de sociedade? Quem responde às angústias e à consciência dos desafios dramáticos do futuro de homens e autarcas exemplares como Joaquim Mourão?

Não seriam estes temas, estas políticas e estes dramas os que deveríamos ver discutidos nesta campanha eleitoral? Será , que os candidatos, e até os partidos, fazem uma ideia aproximada do pais real?

A mim, urbano, que esteve e que meteu as mãos no concreto do Portugal real e profundo, parece-me que discutir o federalismo, a soberania nacional e as cláusulas da UE dará muito gozo e deleite a Paulo Portas, Manuel Monteiro, Eurico de Meio e a todos os outros candidatos e analistas, mas não resolve, sequer, um só dos pequenos e grandes dramas deste país que somos. "

in Expresso (Nº 1127 de 4 de Junho de 1994)

Nota: Posteriormente, através de um comentário sobre este Post fiquei a saber que a autoria deste texto é de César de Oliveira, rectificação que registo com o maior gosto e prazer. Com César de Oliveira aprendi imenso, quer em termos históricos quer em termos éticos e também de gestão autárquica.

Centro Cultural Raiano

Há olhos que não querem ver....

O Centro Cultural Raiano, obra emblemática no Concelho de Idanha-a-Nova, teve na sua concepção a ideia de criar condições para o trabalho de investigadores, que eventualmente queiram desenvolver actividades de investigações, com temática no Concelho. Para além de possuir gabinetes de trabalho, inclui, inclusivé, um apartamento para alojamento de investigadores...... Condições não faltam, para quem queira investigar sobre Idanha-a-Nova. Haverá concelhos, na Beira Interior, com melhores condições?

in: Site da Câmara Municipal da Idanha
Centro Cultural Raiano

Situado na moderna Avenida principal de Idanha (Zona Nova de Expansão), há quem considere este centro cultural o último Castelo Raiano devido à sua volumetria sólida e granítica com poucas aberturas para o exterior, á semelhança dos que outrora defendiam povoações; mas, desta feita, é um "castelo" construído para vencer a batalha da desertificação, com um papel preponderante na dinamização cultural da região e simultaneamente, com o objectivo de fortalecer e fomentar as relações transfronteiriças.

Neste bonito projecto de autoria do Arqº Marçal Grilo, nada foi deixado ao acaso. O jardim interior (em torno do qual se circula) confere um toque de inovação e frescura ao edifício, permitindo uma ampla entrada de luz natural. São 2800 metros quadrados distribuídos por três esplêndidas salas de exposições (duas de exposições permanentes "Olaria de Idanha" e "A agricultura nos campos de Idanha" e uma para exposições temporárias), um moderno auditório com 260 lugares utilizado para diversos espectáculos (de música, dança, teatro, etc.) e também como sala de cinema (onde são exibidos filmes muito actuais), arquivo municipal, sala multimédia (com computadores ligados à internet) e gabinetes de trabalho. Os serviços de apoio, para além da Secretaria e Administração, integram ainda um laboratório de fotografia e um apartamento destinado a investigadores.

Sem dúvida, estamos perante um espaço público de fazer inveja a grandes cidades.

O Centro Cultural Raiano está aberto de terça a sexta-feira e as entradas são gratuitas. Aos fins-de-semana, aberto para sessões de cinema ou actividades culturais.

quinta-feira, novembro 24, 2005

Descoberta arqueológica na Gardunha

in: Diário xxi
Quinta-Feira, 24 de Novembro de 2005
Descoberta arqueológica pode redefinir fronteiras no Paleolítico


A descoberta de “materiais líticos (machado e lascas)”, nas freguesias de Donas e Alcongosta “vai ser seguida por estudos complementares”, conclui a Câmara do Fundão.

A Câmara Municipal do Fundão anunciou a descoberta na Serra da Gardunha de artefactos arqueológicos atribuíveis ao Paleolítico Inferior. A descoberta está a ser estudada pelo director do Museu Nacional de Arqueologia, Luís Raposo, refere nota da autarquia
Segundo aquele responsável, “tratam-se provavelmente dos utensílios humanos mais antigos, encontrados até hoje no território da Beira Interior, entre Monfortinho e a Guarda”. Os achados são “materiais líticos (machado e lascas)” encontrados nas freguesias de Donas e Alcongosta. “Esta descoberta tem um importante significado, já que vem dilatar grandemente o conhecimento da pré-história da Beira Interior”, salienta a autarquia. Em causa, está a redefinição das concepções geográficas da ocupação humana da Beira Interior, durante o Paleolítico.
A descoberta ocorrida na Serra da Gardunha “vai ser seguida por estudos complementares”, conclui a Câmara do Fundão.

GRAVURAS NO ZÊZERE
Recorde-se que no último ano foram também detectadas no concelho do Fundão diversas gravuras rupestres esculpidas em rochas junto ao Rio Zêzere, na freguesia da Barroca, atribuídas ao Paleolítico Superior. A Câmara pediu entretanto a classificação das gravuras, trabalho a cargo do Centro Nacional de Arte Rupestre, que ficou encarregue de todo o trabalho científico. Prestes a avançar está a criação do Centro de Arte Rupestre do Zêzere, que vai funcionar na Casa Grande da Barroca.
Duas salas deverão ser adaptadas no sentido de acolher o centro que permitirá organizar visitas ao santuário das gravuras a partir da Casa Grande, mas também disponibilizar às um conjunto de elementos informativos sobre a matéria.

Texto de Giacometti e Fernando Lopes Graça, sobre as Beiras

Comemorando-se o centésimo aniversário do nascimento de Fernando Lopes Graça e desconhecendo qualquer iniciativa de homenagem na Beira Interior, mesmo nos Concelhos apontados como tendo um forte pendor cultural, divulgo um texto de Giacometti e Fernando Lopes Graça, em que apresentam o CD que editaram conjuntamente, sobre a temática das Beiras. Fernando Lopes Graça foi um investigador que divulgou, registou e "descobriu" a cultura Musical da Beira Interior, sendo por isso merecedor de uma justa homenagem.

In: Portuguese Folk Music, Volume 3, Beiras, Michel Giacometti e Fernando Lopes Graça, Strauss, Portugal Som, 1998
“O inquérito etnomusicológico que abrangeu vastas zonas das Províncias da Beira Alta, Baixa e Beira Litoral tonou-se possível, na sua extensão e profundidade, graças à colaboração convergente de várias entidades privadas e oficiais.
Deste modo facilitado, o inquérito processou-se em seis etapas (de Agosto de 1968 a Outubro de 1970), no decurso dos quais foram percorridos cerca de vinte mil quilómetros e recolhidas, em noventa das cento e setenta localidades sobre as quais incidiu o nosso trabalho, seiscentas espécies musicais, representando umas trinta horas de gravação útil.
A escolha dos documentos para a composição do presente disco, que pretende ser, por assim nos exprimirmos, a suma do inquérito, obedeceu ao imperativo de uma representação tão objectiva quanto possível, nos planos quantitativo e qualitativo, dos cinco distritos que constituem as três Beiras. Representação que, no entanto, não pode, como se torna óbvio, reflectir a realidade musical objectiva desses mesmos distritos, mas apenas acentuar as suas linhas ou tendências gerais.
No próprio encadeamento dos trechos musicais procurou-se, em obediência ao critério adoptado ao iniciarmos este panorama, facilitar a apreensão por parte do simples ouvinte, mediante um contraste apropriado dos géneros, modalidades, estruturas melódicas e harmónicas, etc. Pensamos ainda que semelhante apreensão pode também ser facilitada pela unidade estética para que, até certo ponto, convergem os vinte e oito trechos compendiados. Por fim, sem nos afastarmos deste critério, entendemos por bem juntar espécies cujo confronto imediato, dentro de uma mesma sequência, possa servir aos estudiosos da nossa música regional.
Força nos é notar novamente o estado de desagregação em que se encontra a nossa cultura de tradição oral, sendo de prever num futuro que se nos afigura muito próximo o total desaparecimento das suas formas originais. E mais uma vez apontaremos como elementos subversivos, neste caso, as comunicações de
massa na sua quase generalidade quotidiana, a par dos muitos agrupamentos chamados folclóricos que, como que dialecticamente, actuam para fomentar e difundir formas convencionais de cultura. Neste sentido, diremos todavia que o grave fenómeno de emigração se nos não antolha, após reflexão, influir por ora de maneira por demais ostensiva nesse processo de desagregação a que vimos aludindo.
Resta-nos dirigir aqui nos nossos mais vivos agradecimentos ao povo beirão, que, espontaneamente, nos prestou a mais útil e dedicada assistência.
Michel Giacometti
A música das províncias beirãs é acaso aquela que, dentre as nossas músicas regionais mais cedo e com relativa continuidade foi e tem sido objecto de curiosidade de investigadores ou simples colectores. O sinal de partida foi dado pelo erudito Pedro Fernandes Tomás (não especificamente músico) quando, em 1896, publicou as suas Canções Populares da Beira, prefaciadas pelo ilustre Leite de Vasconcelos (também nada familiarizado com as disciplinas propriamente musicais). A partir de então, as compendiações escritas dessa música constituem um pequeno corpo de publicações de valor certamente desigual mas que, não obstante. colocaram a música beirã (e mormente a da Beira Baixa que, neste capítulo, devemos considerar levar a palma às suas irmãs) numa situação de privilégio em relação às outras províncias portuguesas, pelo que se refere à sua divulgação no público e, digamos, ao seu aproveitamento" por parte dos próprios músicos, profissionais ou amadores.
No entanto, todas estas publicações, irregulares já de si (com uma que outra excepção relevante) nos critérios propriamente etnomusicológicos que as informavam, pecavam ainda por uma deficiência fundamental: a de nos oferecerem uma imagem unilateral da música beirã, reduzida ao monodismo, quando o que faz o interesse e o valor mais inapreciável deste é sem dúvida a sua a bem dizer predominante estruturação polifónica.
Sem desconhecermos trabalho já anteriormente feito, mas pouco acessível, no campo da fixação por meio de gravação da fisionomia própria da música beirã (referimo-nos aos discos realizados por Artur Santos por incumbência da B. B. C. de Londres), cremos que o presente volume da série Música Regional Portuguesa vem trazer um contributo essencial ao conhecimento e estudo de uma música que se revela possivelmente como a mais rica, quanto a aspectos, e no plano morfológico e estilístico, entre as nossas músicas folclóricas.
Talvez em nenhuma outra região portuguesa, como nas Beiras (com alguma reserva para a Beira Litoral e certas zonas da Beira Alta - e se é que é cientificamente legítimo operar dicotomias em províncias que, geográfica e etnografìcamente, se interpenetram), se nos depare uma tal variedade, uma tal sobreposição de estratos de música folclórica, o "primitivo" vizinhando o "evolucionado", o "antigo" a par do "moderno". Claro que "primitivo" e "evolucionado', "antigo" e "moderno" são aqui conceitos puramente relativos e sem significação imediatamente valorativa: nem o "primitivo" ou o "antigo" são sinónimo de rudimentar, inferior, nem o "evolucionado" ou "moderno" implicam polimento, superioridade.
Não há dúvida porém que, debaixo de um ponto de vista prioritariamente atnomusicológico, as espécies "primitvas" ou "arcaicas" (o que talvez se possa classificar de "estilos antigos" da música beirã) aqui reunidas - citemos, por exemplo, além das várias cantigas de romaria, os Martfrios e a Cantiga da Azeitona, respectivamente n° 2 e nr3 a Cantiga da Ceifa, o Oté, ó Senhora Mãe e a Aleluia, n"` 12, 20 e 24 - não há dúvida que tais espécies oferecem propostas de vária ordem que fazem delas, para além da sua beleza própria, documentos de raro interesse, certamente destinados a enriquecer os aliciantes horizontes da musicologia comparada.
Fernando Lopes-Graça
1. BACELADA
Documento recolhido em Tavarede (Figueira da Foz, Coimbra), Refere-se à cava da manta para plantio do bacelo, faina que se realiza entre Dezembro e Março. O capataz da bacelada é o mandador Os bons mandadores eram disputados pelos proprietários e recebiam jorna superior à dos cavadores. Embora cavando também com os seus companheiros, a tarefa principal do mandador consistia em manter, mediante o seu "canto", o ritmo do trabalho, aproveitando no entanto o ensejo para inserir no "canto" improvisos destinados a fazer chegar aos ouvidos do proprietário certas reivindicações de ordem colectiva. Por seu turno, os proprietários fomentavam por vezes rivalidades entre os mandadores a seu soldo, sempre no intuito de manter ou acelerar o ritmo do trabalho. Com dificuldade se poderá considerar estarmos aqui em presença de uma espécie propriamente musical. Mais do que de um canto, trata-se antes de um ritmo - um ritmo de trabalho associado a um grito ou brado de estimulo, este, na verdade, já embrionariamente musical. Como tal, e posto que a prática tenha quase caído em desuso, o documento, além do seu aspecto sociológico, poderá, na sua dualidade sociológica, interessar os estudiosos da pré-história da música, mormente os seguidores das doutrinas de Wallaschek e Búcher, que têm precisamente o ritmo e o esforço muscular como factores primordiais no surgimento do fenómeno musical.

2. MARTÍRIOS
Canto religioso da Quaresma recolhido em Alcongosta (Fundão, Castelo Branco). Ainda hoje se canta pelas 10-11 horas da noite, em frente das capelas do lugar, aos domingos das sete semanas da Quaresma. É também cantado nos trabalhos do campo durante o mesmo período. Afectando a forma responsorial, a lenta e expressiva melodia tetracordal, de feição quase litúrgica, é proposta por uma voz feminina grave, depois do que é retomada em duplo gymel, ou variedade de fabordão a 4 vozes (baixão-voz grossa, ou voz fina por baixo - voz alta - voz fina por alto), pelo coro também de vozes femininas.
3. CANTIGA DA AZEITONA
Canto de trabalho recolhido em Teixoso (Covilhã, Castelo Branco). Do tipo dos "cantos de ar livre", consiste num simples pentacórdio maior com ornato superior, levemente melismático, o 4M grau por vezes "sensibilizado", entoações 'oscilantes" - estrutura melódica frequente em muitos cantos da Beira Baixa, que deste modo ganham um certo ressaibo "oriental".

4. BENDITO
Canto religioso caído em desuso, pelo menos em Rocas do Vouga (Sever do Vouga, Aveiro), onde foi recolhido. Segundo a informação fornecida, cantava-se antes do início da missa e para acompanhar o Senhorfora, ou seja o viático. Reveste aspecto antifonal: um coro monódìco de vozes masculinas alterna com um coro polífónico de vozes femininas. Ritmo quase silábico da proposta contrastando com a linha mais sinuosa, mais vocalizada, os portamentos e a "incerteza" tonal da resposta a 3 vozes (encher - fala fora - voz alto). Há notícia do canto comportar uma quarta voz: o guincho.

5. ALVORADA
Trecho instrumental recolhido em Eira Pedrinha (Condeixa-a-Velha, Coimbra). Como habitualmente, a alvorada toca-se nas manhãs dos dias festivos. O conjunto instrumental compõe-se de gaita de foles, bombo e caixa ou tarola. Estilo floreado do instrumento "cantante" comum aos gaiteiros do Norte de Portugal e da Galiza. A gaita de foles apresenta as costumadas e saborosas "anomalias" tonais. Vivo contraponto ritimico de percussão.

6. AMENTAR DAS ALMAS
Canto religioso, noutras regiões designado por Encomendação das Almas. Foi recolhido em Aldeias (Gouveia, Guarda) e é ainda com certa frequência cantado em sete pontos da freguesia todas as terças e sextas-feiras da Quaresma, durante a noite (tal como nas tradicionais Encomendações das Almas). E uma espécie de canto processional polifónico entoado por
vozes femininas. As entradas sucessivas das vozes revestem a forma de um solene fabordão em terceiras e sextas com apoio em quintas. Corte ternário da peça: canto-oração recitada-canto. Repare-se na sonoridade como que "instrumental" da polifonia. A insegurança da entoação é percalço difícil de evitar, dado o número e a idade avançada das informadoras.

7. S. JOÃO
Cantado na véspera e na noite de S. João do Rosmaninhal (ldanha-a-Nova, Castelo Branco), onde foi recolhido. Nesta localidade, as testas do S. João dão ensejo a manifestações colectivas de alegria com características nitidamente pagãs: cavalhadas nas quais participam todos os que possuem bestas de carga; distribuição de tremoços, broas de mel e vinho; repastos pantagruélicos, etc. A organização da festa acha-se a cargo de um alférece e de padrinhos escolhidos pelos que serviram no ano anterior, ou ainda de pessoas que fizeram promessa de "servir" (3). A espécie musical pertence ao género das chamadas "cantigas de adufe", de que a Beira Baixa mantém por assim dizer a especialidade. Duas mulheres entoam um simples inciso melódico em ritmo de marcha e num saboroso mixolídto de fá corri omissão do 2° grau. A deformação da voz sobressaliente, aquela espécie de rouquidão, deve ser considerada um característica de estilo e não um ricto caricatural, como se poderá pender a crer.

8. BENDITO
Canto de trabalho recolhido da boca dos pescadores do Furadouro (Ovar, Aveiro), onde caiu praticamente em desuso com o desaparecimento das grandes embarcações, algumas delas movidas por mais de quarenta remadores. O Bendito é cantado com devoção, a cabeça descoberta, já para conjurar os perigos do mar, já para implorar a protecção divina perante dificuldades surgidas na faina (desastres pessoais ou materiais), ou ainda no regresso a terra, para conjugar os esforços dos remadores, desanimados por o lanço não se antolhar prometedor. É cantado antifonalmente por dois grupos de homens. Melodia de carácter quase lítúrgico adaptada a um ritmo funcional. São informadores pescadores- remadores. todos naturais do Furadouro.

9. CANTIGA DA CEIFA
Canto de trabalho recolhido em Lourosa da Tropa (S. Pedro do Sul, Viseu) é entoado por vozes femininas. Afecta a forma de responsório: um grupo inicia monodicamente o canto, seguindo-se-lhe, à guisa de resposta, uma polifonia em organunt de terceiras e quintas paralelas (começo ou botar fala - descante - erguer). Na cadência final, o sétimo grau não sensibilizado provoca urna expressiva transformação tonal, por efeito mesmo do paralelismo harmónico. O canto termina pelos chamados "gritos de apupo", um tanto insolitamente em contradição com a gravidade do trecho.

10. DANÇA DOS HOMENS (frag.)
Recolhida em lousa (Castelo Branco), a Dança dos homens, como a Dança das virgens, é dançada durante as festas em honra da Senhora dos Altos Céus (terceiro domingo de Maio), frente á igreja e. seguidamente, nos lugares mais centrais do povoado. Também conhecida por Dança de genebres, é executada por seis homens trajando calças e camisa branca, e ostentando uma espécie de tiara ornamentada com flores e fitas de várias cores, etc., três rapazs em vestes de donzela, e um guardião (mestre ou ensaiador), vestido de soldado com espada à cinta. Dos seis homens, cinco tocam bandurras (viola da zona raiana de Castelo Branco com dez cordas de arame, embora as bandurras aqui utilizadas tenham encordamento - apenas oito cordas - e afinação diferentes), o sexto toca a geneores, "espécie de xilofone, com uma série de paus redondos maciços, de tamanhos crescentes de cima para baixo, enfiados numa tira de couro formando colar...". Este instrumento, único no Pais, ao nosso conhecimento, é utilizado na Lousa exclusivamente na dança que tem o seu nome. Os três rapazes, enfim, tocam trinchos, uma espécie de pandeiretas sem peles. Todo o interesse propriamente musical do trecho vem-lhe da mistura "discordante" dos instrumentos principais: o grupo das bandurras, com a sua fórmula rítimica elementar, que consiste numa simples alternância de acordes rasgados de como que tónica e sobre-dominante e ainda como as suas entoações um tanto caprichosas, e a genebres, com os seus glissandos (precedidos, à laia de introdução, de um acorde de três sons arpejado) que formam uma espécie de pedal rítmica imutável - donde o curioso complexo harmónico e fimbuço resultante, adicionado ainda pela sonoridade chocalhada do trincho.

11. MAÇADELA DO LINHO
Canção de trabalho. Uma simples e graciosa frase hexacordal em ritmo de marcha pontoada pela percussão da espadela. Foi recolhida em Malhada Sonda (Almeida, Guarda).

12. SENHORA DO ALMURTÃO
Canto de romaria e devoção à Senhora do Almurtão, cuja ermida, situada a oriente de Idanha-a-Nova, se torna lugar de concentração das gentes de todas as povoações do concelho na terceira segunda-feira depois da Páscoa. As festas começam na véspera, em honra de S. Romão, ao que se faz alusão, recolhida em Proença-a-Velha (Idanha-a-Nova, Castelo Branco). Como sucede com todos os outros cantos de romaria da mesma província, é acompanhada por adufes, instrumentos de percurssão (uma espécie de pandeiro quadrangular sem soalhas mas com pedaços de louça, guiava ou outros materiais no interior) tangidos em regra por mulheres e em que elas são exímias. O canto, monódico, consiste numa simples fórmula melódica pentacordal (com ornato superior) reiterado obcessivamente, o que, associado ao ritmo trepidante dos adufes, nos transporta de certo modo a um ambiente ritual ou coregráflco "africano".

13. CANTIGA DA RODA
Canto de trabalho recolhido em Dornelas do Zézere (Pampìlhosa da Serra, Coimbra). Como canto funcional,
encontra-se em vias de total extinção, devido ao rareamento progressivo das "rodas", engenhos destinados à irrigação dos campos (as poucas ainda existentes são quase que exclusivamente movidas a motor).
As rodas são de dois tipos, uma de maior diâmetro, espalhadas pela margens do Zézere e movidas pela corrente do rio; outras, de diâmetro inferior, erguidas sobre poços e trabalhando sob a pressão dos pés de um homem ou de um mulher, os quais, para quebrar a monotonia e rudeza da tarefa, entoam horas seguidas a canção aqui registada, Trata-se de uma bela melopeia modal, de um modallsmo "orientalizado" pela presença do intervalo de segunda aumentada. Entoada por urna voz feminina (a "tocadora" da roda), tem a sua como que contrapartida diafonal na plangente melopeia da nora. A entoação nem sempre é segura, em consoquência do penoso esforço físico exigido pela manobra.

14. SENHORA SANTA COMBINHA
Canto de romaria recolhido em Igreja de Cambra (Vouzela, Viseu). A Senhora Santa Combinha é porventura a mais afamada romaria da região, e o canto é ouvido no dia da sua festa, 20 de Julho, e ainda no dia da festa móvel do Espírito Santo. Entoado por mulheres, inicia-se monodicamente e prossegue em organum a 4 vozes (começo - descante grosso - alto - descante fino). Ritmo silábico uniforme dos cantos firmes (e, por via de consequência, da própria polifonia), apenas entrecortado pelo característico hoqueto, ou assim também chamado "suspiro medieval". Advirta-se que, na segunda estrofe do canto, o diapasão das informadoras sobe de um semitom, percalço que não vai além de um acidente fortuito de entoação.

15. O CARVALHAL
Trecho de música instrumental tocado tradicionalmente na Quarta-feira de Cinzas em Souto da Casa (Fundão, Castelo Branco). Esta tradição acha-se ligada a sucessos ocorridos na localidade em fins do século passado. O Carvalhal era uma extensa zona da serra partilhada entre a Irmandade do Santíssimo, a casa Garrett e o povo de Souto da Casa que, numa Quinta-feira de Cinzas, resolveu victoriosamente, e não sem violência, uma questão com a casa Garrett. A comemoração anual desta vitória perdeu muito das suas características primitivas, tal como a habitual pregação do regedor local, que terminava com estas palavras: "O céu é de quem o ganha e a terra de quem a amanha" (6). No entanto, perpetuou-se a peregrinação ao Carvalhal, com a "música" à frente a tocar de manhã à noite, num ambiente de fraternal alegria, donde surge de tempo a tempo a pergunta: "De quem é o Carvalhal?" com a resposta colectiva: "É nosso?". A "música" compõe-se de dois bombos, duas caixas, pratos, ferrinhos e um pífaro de ferro. Como se vê (e como se ouve na gravação), um curioso espécimen de "música turca" - em todo o caso e de certo modo, na tradição dos "Zé Pereiras" do Norte do Pais. Os brados intercalados acrescentam-lhe uma nota de vivaz colorido.

16. SENHORA DA POVOA
Canto de romaria recolhido em Atalaia do Campo (Fundão, Castelo Branco). A Senhora da Póvoa, cuja festa se realiza no Domingo de Pentecostes, tern o seu santuário em Vale-de-Lobo. A romaria perdeu muito da sua antiga concorrência. (No seu livro Cantares do Povo Português, Rodney Gallop assinala que, em 1919, se verificou uma afluência de 50.000 peregrinos). O canto insere-se perfeitamente no tipo já descrito no n° 12.

17. CANTIGA DA CEIFA
Canto de trabalho monódlco, do tipo dos "Cantos de ar livre". A bela melodia é um simples pentacórdio frígio abundantemente floreado, aparentada a tantos outros "cantos de ar livre" que têm o seu habitat próprio na bacia do Mediterrâneo. Foi recolhido em Penha Garcia (Idanha-a-Nova, Castelo Branco).

18. CANTO DA PAIXÃO
Canto religioso, utilizado sobretudo como canto de trabalho durante a Semana Santa e, por tal, mais

conhecido pela designação de "Paixão do campo". Em comum modo maior e menos floreado do que o anterior, pertence contudo ainda ao tipo dos "cantos de ar livre". Foi recolhido na Aldeia de Joanes (Fundão, Castelo Branco).

19. DEVOÇÃO DAS ALMAS
Canto de peditório recolhido em Oliveirinha (Aveiro). O "grupo" que o canta costumava sair três noites por semana na Quaresma (mais precisamente: de meados da Quaresma até à Semana Santa) para o entoar às portas das casas da povoação e das povoações vizinhas, Moita e Granja. O "grupo" é formado de dois troços: um de três homens, outro do mesmo número, ou mais. O primeiro, com pendão no meio e lanternas de cada lado, é o que bate às portas, enquanto o segundo estaciona um pouco atrás. No passo do canto "aqui estamos de joelhos" os homens do primeiro troço permanecem de joelhos até ao fim do mesmo. O produto do peditório, dinheiro ou comestíveis, destinava-se a mandar "rezar" um sermão na igreja e outro no cemitério; o que sobrava empregava-se em mandar "rezar' missas. O canto, monódico, é entoado rápida e alternadamente pelos dois coros masculinos. A alternação procede por imbricação, isto é: o final da primeira entrada sobrepõe-se ao começo da segunda, uma e outra constituídas pelo mesmo inciso rítmico que se desenvolve no âmbito de uma fórmula hexacordal menor com ornato superior e omissão do 2° grau. Entre as duas exposições do canto, a oração recitada do Pai Nosso e Avó Maria, ainda a cargo dos dois coros alternados,

20. OLÉ, ó SENHORA MÃE
Canto de trabalho entoado por vozes femininas. Foi recolhido em Talhadas (Sever do Vouga, Aveiro) e canta-se quando, no fim de cada eito, se sacode o centeio para lhe tirar as cascas. Como em outras espécies aqui registadas, o canto começa monodicamente e prossegue em organum de terceiras e quintas paralelas (baixo-2" voz - falsete).
21. SÃO JOÃO
Canto religioso entoado em gymel (com cadência intermédia na quinta) por vozes femininas. Foi recolhido em Alde (Gouveia, Guarda).

22. SENHORA SANTA LUZIA
Canto de romaria recolhido em Aldeia Nova do Cabo (Fundão, Castelo Branco), A romaria de Santa Luzia realiza-se em meados de Setembro em redor da ermida situada na vizinhança de Castelejo (Fundão). Outrora muito concorrida, acha-se hoje em franca decadência, a sua principal atracção consistindo nos conjuntos instrumentais (bombos, caixas e pífaros), designados localmente apenas por bombos e entre os quais se distinguem os "bombos" de Lavacolhos. O toque de Santa Luzia, dito "Ao alto", anima, com as suas cantigas entremeadas, a festa da oraga da região. O belo canto aqui registado acha-se caldo em desuso. Entoado por vozes femininas, pertence ao género dos "cantos de adufe", com a diferença, porém, que, ao contrário das outras espécies similares da mesma região (n° 12) e (n° 16), este é cantado polifonicamente a 3 vozes, numa variedade de fabordão.

23. ABOIO
Canto monódico de trabalho entoado por uma mulher. Utiliza-se na condução do gado, rebanhos, etc. e foi recolhido em Manhouce (S. Pedro do Sul, Viseu). O canto - uma como que lenga-lenga de carácter quase infantil - é intercalado por "falas" dirigidas ao gado; todavia, as mesmas "falas" inserem-se perfeitamente nas inflexões da singela melodia, de sorte que canto e "fala" formam indissolúvel unidade contextual. De notar o como que fenómeno de mimetismo observável em certos momento da "fala' e em que esta imita o balido das cabras.

24. ALELUIA
Canto religioso recolhido em Igreja de Cambra (Vouzela, Viseu). Ouve-se na igreja, da Páscoa ao Espirito Santo, e pelas ruas, quando o pároco anda a "tirar
o folar". De uma expressão larga e severa, é entoado polifonicamente por vozes femininas. Proposta monódica de carácter salmodial, resposta em organum a 4 vozes (começo - descante grosso - alto - descante fino).

25. CANTIGA DO ENTRUDO
Também popularmente designada por "António Sacoto", canta-se pelas ruas na altura do Entrudo e foi recolhida em S. Miguel d'Acha (Idanha-a-Nova, Castelo Branco). Trata-se de mais uma "cantiga de adufe" entoada por mulheres. A melodia nas vozes graves é redobrada à oitava superior por três vozes agudas (fino). O carácter primitivo do canto, circunscrito a uma incisiva fórmula pentacordal, a sua modalidade "exótica", o ritmo persistente do adufe, trazem-nos ainda à ideia sugestões de músicas africanas.

26. CANTIGA DA SACHA
Canto de trabalho recolhido em Aldeia Nova do Cabo (Fundão, Castelo Branco). Entoado por vozes femininas, começa monodicamente e prossegue numa vibrante harmonia de terceiras com cadência intermédia à quinta. É o tipo mesmo de muitos outros cantos ligados às fainas agrícolas (sacha do milho, colha da azeitona, etc.) frequentes na Beira Baixa.

27. CANTIGA DE NANAR
Recolhida em Cercosa (Vouzela, Viseu), é uma singela melopeia que, num ritmo funcional, se desenrola no estreito âmbito de uma terceira maior mas a que a inflexão do como que estribilho à terceira menor inferior da tónica (mi bemol) complementa com ingénuo encanto.

28. A TIA BAPTISTA
Canto devocional recolhido em Aldeias (Gouveia, Guarda), A Tia Baptista teria sido a Madre Soror Baptista do Céu Custódia, do mosteiro da Madre Céu, (Vinhó, Gouveia), extinto em meados do séc. XIX. Segundo um manuscrito bastante deteriorado conservado no Museu de Gouveia com a data de 1778, teria nascido em 1679. Este manuscrito, atribuído à escrivã do mosteiro, abadessa Francisca Bernarda das Chagas, inclui textos diversos que teriam sido ditados ou escritos pela Tia Baptista: Cantigas ao Menino, Cantigas para arrolar o Menino, Colóquios com o seu Menino, Novena ao Menino, Orações, etc.. Com efeito, a Tia Baptista teria tributado afectuosa devoção a uma imagem do Menino Jesus, que vestia, pintava, amimava. A apelação de Tia Baptista proviria, segundo reza o manuscrito, do facto de ela própria à hora da sua morte ter rogado que todas as professas do mosteiro lhe chamassem tia, "porque se se visse diante de Deus queria pedir por todas as sobrinhas". Ao seu trespasse teria acudido grande afluência de povo, verificando-se numerosos casos de milagres. É festejada em Aldeias no dia 18 de Maio com cantigas como a que aqui se regista, cantigas que consta terem sido outrora acompanhadas a pandeiro. Em Vinhó recolhemos a informação de que as ditas cantigas acompanhadas a pandeiro eram dançadas: uma dança circular com lançamento de cântaros de uns para outros dos participantes. ATia Baptista é ainda invocada como casamenteira pelas raparigas que, dias antes da sua festa, cantam no campo as cantigas que lhe são consagradas. A espécie compendiada é uma fresca canção em maior e balanceado ritmo ternário (possivelmente reminiscente da antiga dança) que, cantada por vozes femininas, afecta a forma de um saboroso organum a 4 vozes (encher - fala fora - erguer - guincho).
Fernando Lopes-Graça Michel Giacometti “

quarta-feira, novembro 23, 2005

Arquivos sonoros de Giacometti

É-me hoje possível divulgar a listagem de mais arquivos sonoros da Beira Baixa, constantes da recolha de Giacometti. A listagem ainda não está concluída, tarefa que concluirei, logo que me seja possível. Há uma edição discográfica que inclui um número muito reduzido destas gravações, que é possível encontrar no mercado, com relativa facilidade. Procedi à audição e listagem durante o mês de Agosto, mas só agora me foi possível processar essa informação manuscrita.













1805 Lembrai-vos de quem lá tendes 1:44
1806 Recordai cristãos 1:42
1807 Lá encima o Calvário 2:55
1808 S.José foi buscar lume 1:30
1809 Dê-me cá o meu menino 0:42
1810 Senhora do Almortão (Catarina? E outras vozes f. 1:19
1811 Senhora da Póvoa Protecção do gado 1:38
1812 Senhora da Azenha Protecção na guerra 1:46
1813 Entrevista sobre Senhoras da Póvoa, Almortão e Azenha 8:13
1814 Caçador Influência de Espanha 0:23
1815 A casa se he queimou Influência de Espanha 0:25
1816 Vinde, vinde, pastoritos Influência de Espanha 0:33
1817 Burrita sem pata 0:36
1818 Bendito e louvado seja Natal 0:49
1819 Bendito e louvado seja Coro misto 3:06
1820 Bendito e louvado seja 3:16
1821 O vosso nome divino 2:06
1822 Recorde senhor vigário 1:51
1823 Para o S. João que vem 2:03
1824 Para o S. João que vem 2:05
1825 Euh.... 1:14
1826 Ó Cruz avé 2:23
1827 Ó Cruz avé 2:17
1828 S. João subiu ao Céu 1:13
1829 S. João subiu ao Céu 1:11
1830 Ó Almas que estais dormindo 1:45
1831 Ó Almas que estais dormindo 1:09
1832 Bendito e louvado seja 1:46
1833 Bendito e louvado seja 1:48
1834 Euh.... 1:12
1835 Euh.... 1:14
1836 A oliveira pequena Canção de trabalho.Coro Feminino 1:27
1837 Varejai, varejadores Canção de trabalho 0:45
1838 Ai, ó marinheiros do mar largo Coro feminino 1:23
1839 Ai, ó marinheiros do mar largo Coro feminino 1:24
1840 O sangue da vossa cruz 0:54
1841 Mais vos peço ó irmãos meus 1:33
1842 Mais vos peço ó irmãos meus 1:34
1843 Ó Maio menino Coro infantil 0:33
1844 Ó Maio menino Coro infantil 0:32
1845 Ah que se chá Voz masculina, flauta, tambor 1:13
1846 Ah que se chá Voz masculina, flauta, tambor 1:10
1847 Ah que se chá Voz masculina, flauta, tambor 1:13
1848 Dai-nos alvissaras Senhora Voz feminina 1:42
1849 O meu menino é de ouro Canção de embalar 2:34
1850 Pastorinhos do outeiro Canção de embalar 0:43
1851 O meu amorzinho Voz feminina e palmas 1:39
1852 Nossa Senhora do Carmo 3:54
1853 Ora pro nobis ó Maria 1:34
1854 Ora pro nobis ó Deus 1:27
1855 Ó meu menino Coro misto 2:26
1856 A virgem lavava 1:39
1857 Aí do S. João ao S. Pedro 1:17
1858 Aí do S. João ao S. Pedro 2:00
1859 Ó lua que vais tão alta 2:53
1860 As armas do meu adufe 1:04
1861 As armas do meu adufe 1:22
1862 Alumia-me a candeia Adufe 0:42
1863 Alumia-me a candeia Adufe 0:42
1864 Flor de Murta raminho de Freixo Adufe 1:25
1865 Que tens tu Ó Juliana (D.Jorge) Voz feminina 2:52
1866 Viva lá minha senhora 2:09
1867 Viva lá minha senhora 0:45
1868 S. José se alevantou 1:27
1869 Venho-vos dar as Janeiras 0:50
1870 Fui ao S. João à Guarda 0:50
1871 Fui ao S. João à Guarda 0:51
1872 Varejai, varejadores Canção de trabalho 1:07
1873 Santo António dos Olivais 1:27
1874 Sachadeiras que sachais 1:27
1875 Nossa Senhora do Carmo 2:41
1876 Som de cava 2:09
1877 Santo António dos Olivais 0:54
1878 Sons de pássaros, galinhas e regato de água 1:44
1879 Sons de pássaros, galinhas e regato de água 1:03
1880 Santo António dos Olivais 2:30
1881 Fui ao S. João à Guarda
1882 Fui ao S. João à Guarda
1883 Quando é o vosso dia (Nossa Senhora doCarmo) 1:45
1884 Cuco 0:27
1885 Sachadeiras que sachais 1:17
1886 S. José desce cá abaixo 2:30
1887 Entrevista-Quinta da Várzea-Teixoso Gracinda de Matos Neves 0:41
1888 Cerie Elipson Coro misto 5:11
1889 Encomendações das Almas 2:31
1890 Encomendações das Almas 2:33
1891 Encomendações das Almas 2:29
1892 Flauta e tambor 5:22
1893 Flauta e tambor 1:07
1894 Flauta e tambor 1:06
1895 Flauta e tambor 1:39
1896 Flauta e tambor 1:57
1897 Flauta e tambor 1:09
1898 Flauta e tambor 1:34
1899 Flauta e tambor 0:53
1900 Flauta e tambor 1:29
1901 Flauta - Ó Senhor da Póvoa 0:56
1902 Flauta 0:58
1903 Flauta 0:38
1904 Flauta 1:03
1905 Palheta 1:05
1906 Palheta 1:14
1907 Flauta, tambor e pratos 3:00
1908 Flauta, tambor e pratos 2:04
1909 Flauta, tambor e pratos 1:31
1910 Flauta, tambor e pratos 3:18
1911 Flauta e tambor 1:51
1912 Santo como o S. João Coro misto 1:28
1913 Santo como o S. João 1:24
1914 Devotos fiéis cristãos 3:48
1915 Devotos fiéis cristãos 2:22
1916 De quem são as três camisas 2:15
1917 De quem são as três camisas 2:22
1918 Senhora Santa Luzia 3:20
1919 Toma lá colchete d'ouro Coro, castanholas, assobio 1:43
1920 O sete estrelas vai alto 2:23
1921 O sete estrelas vai alto 2:27
1922 A vinte e quatro de Junho Adufe 1:56
1923 A vinte e quatro de Junho Adufe 2:08
1924 Naquela relvinha verde Adufe 2:28
1925 Tantas almas já lá chamam 1:45
1926 Tantas almas já lá chamam 1:41
1927 Vós chamais-me farrapeira Adufe 1:25
1928 Ó minha farrapeirinha Adufe 1:03
1929 Ó entrudo, Ó entrudo (Moda da Zamburra) Ferrinhos, tambor, Zamburra 1:48
1930 Esta noita não é noite Ferrinhos, tambor, Zamburra 2:50
1931 Ai Ó Ladrão, Ladrão Ferrinhos, tambor, Zamburra 1:29
1932 Ó Rosa tu és a Lima (Jericó) 2:05
1933 O S. João é bom homem Ferrinhos e Adufe 1:20
1934 Ai Nossa Senhora das Neves Adufe 1:50
1935 Lá vai Jeremias 0:30
1936 Por cima se ceifa o pão 1:07
1937 As duas Excelências (As excelências da Virgem 0:54
1938 As duas Excelências (As excelências da Virgem 1:16
1939 Ó Almas Benditas 0:28
1940 As duas Excelências (As excelências da Virgem 1:17
1941 Ó Almas que estais dormindo 2:55
1942 Esta noita não é noite Adufe e Zamburra 2:59
1943 Ai eu hei-de ir ao S. João Adufe, Percursão, Zamburra 2:04
1944 Ai eu hei-de ir ao S. João Adufe, Percursão, Zamburra 0:57
1945 Ai eu hei-de ir ao S. João Adufe, Percursão, Zamburra 1:45
1946 Ai Ó ladrão,Ladrão Adufe, Percursão, Zamburra 1:16
1947 Nossa Senhora das Neves Adufe 2:29
1948 Por cima se ceifa o pão 1:42
1949 Entrevista em Malpique do Tejo Isabel Caldeira, Mª da conceição. 3:39
1950 Indo no primeiro passo 3:33
1951 Indo no primeiro passo 3:31
1952 Era meia noite 4:04
1953 Milho grosso, milho grosso 3:01
1954 A candeia por estar alta 1:14
1955 Ó meu bom Jesus Matraca 8:32
1956 Indo no primeiro passo 8:09
1957 A Senhora do Castelo Sinos, Adufe 1:46
1958 O meu coração é tanque Adufe 1:26
1959 Venho de marcelada Palmas,Acordeão 1:14
1960 Já não há, não há 0:55
1961 Oh és tão linda Adufe 0:53
1962 Raminho de Loureiro Adufe 0:30
1963 Debaixo da Laranjeira Adufe 1:15

segunda-feira, novembro 21, 2005

Ilustrador da Beira Interior premiado

João Vaz de Carvalho, vencedor da Bienal Internacional de Ilustração para a Infância 2005 e de Concursos nacionais, natural do Fundão, afirma-se como grande Ilustrador. Nem sempre se dá o devido valor a estes artistas gráficos, que com a sua arte valorizam e recriam textos e que hoe têm um papel decisivo no mercado livreiro. Como beirões, teremos que nos orgulhar do seu trabalho.


PÚBLICO - EDIÇÃO IMPRESSA - PÚBLICA

Director: José Manuel Fernandes
Directores-adjuntos: Nuno Pacheco e Manuel Carvalho
POL nº 5719 | Domingo, 20 de Novembro de 2005

É um pecado não partilhar o humor

Pintor há 20 anos, João Vaz de Carvalho venceu a Bienal Internacional de Ilustração para a Infância 2005, mas não acredita que se ilustre para as crianças. As diferenças que hoje encontra entre a pintura e a ilustração são apenas de escala e de suporte. E o que mais faz é ilustrar sem texto.

Subverter as ideias e as coisas, desmontá-las com humor, divertir-se e divertir é o que faz João Vaz de Carvalho quando desenha. "Se temos a felicidade de nos divertirmos e a capacidade de ter humor, é um pecado não usufruir disso. E partilhar." O vencedor da Bienal Internacional de Ilustração para a Infância 2005 (Ilustrarte) não acredita que se ilustre para as crianças. Ilustra-se, simplesmente: "Ou se tem a capacidade de se comunicar com elas ou não." E está convencido de que os miúdos, perante um desenho, não têm qualquer expectativa: "Uma criança não espera nada de uma ilustração. A criança recebe [algo], se aquilo tiver capacidade para chegar a ela."
Com raízes rurais, natural do Fundão, Beira Baixa, conta como a sua infância foi passada em quintais e quintas. "Absorvi aquele ambiente e aqueles objectos e só me dei conta disso muito tarde. Mas essa presença é muito forte no meu trabalho. E isso passa para as crinças. No momento em que eu recebi aquelas informações e emoções, eu era criança. Não posso dizer que é uma emoção universal, mas pelo menos posso dizer que é comum."
Objectos quotidianos a dançar na cabeça de bonecos narigudos e de pernas fininhas é uma das suas imagens recorrentes. E é fácil sorrir-se diante delas. "Se não se tratar de uma patologia, há dramas que só existem na cabeça das pessoas. Temos de descobrir o lado divertido e positivo das coisas. E rir."
Pintor autodidacta, tem 47 anos e importa da pintura a técnica que usa para ilustrar. Mas não foi sempre assim. "Eu tinha algum temor em transportar para a ilustração a minha linguagem da pintura. Achava que estava a diminuí-la. Ao mesmo tempo, na ilustração, não sentia ter liberdade para executar plenamente, para me pôr todo ali. Como dependia de outros, nunca tive coragem de a abordar com a mesma liberdade que abordo as minhas histórias."
Procurou então, durante algum tempo, criar uma distância entre a pintura e a ilustração, "na pintura havia um lado experimental mais presente e mais forte". Há quatro ou cinco anos, rompeu com isso. "Era uma estupidez completa." E percebeu: "O meu trabalho é aquele, independentemente de ter texto ou não de alguém. Sou eu. Tenho de me entregar por completo àquele trabalho, seja ele de raiz da minha autoria ou de outra pessoa qualquer." A viragem deu resultado.
Antes, quando se tratava de ilustração, desenhava a lápis e depois passava para ecoline (aguarela líquida) sobre papel. Uma técnica "mais rápida e com um resultado plástico diferente". Agora, passa a acrílico, como na pintura. "Foi um salto brutal, as coisas enriqueceram imenso." Sente-se hoje mais identificado com o que faz como autor de ilustrações do que antes. "É mais uma diferença de dimensão e de suporte do que de discurso. A ilustração é no papel e a pintura em tela."
No caso da Ilustrarte, apresentou inéditos. E explica que podiam ser perfeitamente trabalhos finais de telas suas, mas transportou-as para uma dimensão mais pequena e para o suporte papel. "Gosto das duas coisas (pintura, ilustração), mas na pintura há um desgaste maior. Na ilustração, o processo é mais pacífico, mais fácil, até do ponto de vista físico. A escala é outra, trabalha-se com estirador."
João Vaz de Carvalho teve várias experiências profissionais, trabalhou num estúdio de gravação e num atelier de escultura em Coimbra (do artista plástico Vasco Berardo), mas há 20 anos que se dedica exclusivamente às artes. "Foi um salto complicado, no escuro. Mas não me arrependo, faço o que gosto. O meu trabalho desde o início foi muito bem aceite pelas pessoas."
Tem um longo percurso de colaboração com galerias (Novo Século, Trema e Altamira, de Francisco Paulino) e conta com um público fiel, "alguns fãs na arquitectura e no design de interiores". E sempre que expõe, "quadros que podem ter 1x20m por 1x20m", vende as exposições completas.
A passagem para ilustração deu-se numa dessas mostras. A então directora da revista "Marie Claire", a jornalista Maria Elisa, achou a sua pintura muito ilustrativa e convidou-o para umas experiências naquela publicação. "Nunca mais parei. Agora tenho trabalhado com o "Diário de Notícias" e fiz, há pouco tempo, uma capa da revista "Actual" do "Expresso"."
Nestes trabalhos em que o ponto de partida é um texto de alguém, procura não se aprisionar ao que está escrito. "Há um processo de interiorização e de depuração, que leva algum tempo, fica depois o essencial. Mas procuro nunca me prender muito ao texto." Acredita que o papel do ilustrador é acrescentar alguma coisa às histórias, "mas algumas têm mais que ver connosco, entramos mais facilmente naquele espírito, comunicamos mais com aquele discurso, outras menos".
O pior de tudo é os autores darem sugestões e dizerem que "gostavam de ter uma coisa assim, para uma capa, por exemplo". Às vezes isso acontece, até com pessoas conhecidas: "É terrível porque ficamos limitados à partida, ficamos reféns do que o autor imaginou na cabeça dele. Coisa que nós nunca vamos conseguir atingir."
Mas, afinal, o que é ilustrar? "Ilustrar é fazer mais uma história, é inventar mais uma das minhas histórias, mesmo que tenha como suporte a ideia de outra pessoa."
Realça mais uma vez o lado humorístico forte no trabalho que cria e diz ilustrar-se a si próprio, pelo que qualquer semelhança entre ele e os seus bonecos não será pura coincidência. "Os pintores são ilustradores de si próprios e dos seus próprios mundos. Usam todos os recursos e dispõem de total liberdade. Eu ilustro sem texto. E divirto-me imenso."
Recorda uma expressão que o seu amigo escritor António Avelar Pinho (co-autor do Clube dos 4) criou para ele: "Um escritor mascarado de pintor." E justifica-a: "Eu pinto histórias, seja na pintura ou na ilustração. Só que na ilustração tenho as histórias dos outros e na pintura é a minha história."
É metódico e passa muitas horas fechado no atelier, na Parede, "sozinho, isolado, um bicho do mato". Esta rotina é interrompida para levar as filhas à escola (uma de dez anos e outra de oito) e, ao fim do dia, para a logística familiar. "As semanas repetem-se assim. A minha vida é a pintura e a ilustração."
Ser seleccionado pelo júri da bienal, como o foi há dois anos, bastava-lhe, mas ser escolhido como o melhor entre 920 trabalhos de 50 países deixou-o surpreendido e contente. "Já teve efeitos": foi contactado por editoras espanholas da área infanto-juvenil e está em negociações para alguns projectos. Além do reconhecimento nacional, agrada-lhe a visibilidade internacional que a Ilustrarte faculta, "afinal, o catálogo vai viajar pelo mundo". Os seus bonecos também.

sexta-feira, novembro 11, 2005

As SCUTS Pagam-se a si próprias

João Cravinho, hoje na AR, no decurso da discussão do OE, divulgou conclusões insertas num estudo completo, sério, exigente, rigoroso, entre as quais a de que as mesmas não são um encargo para a OE, porque se pagam a si próprias. O emprego criado, a dinamização de actividades económicas, resultantes da criação de SCUTS, geram receitas fiscais que cobrem e ultrapassam os custos.

Esperamos que o "baixinho" reconsidere o que tem vindo a dizer, pedindo o fim das SCUTS e o pagamento de portagens, em todas elas. Também, as afirmações do MOP, de que se estuda o início de portagem em SCUTS, a partir de 2006, deve ficar congelada, para sempre. A Beira Interior, em particular, deve lutar para que a A23, esteja liberta de portagem, para bem das populações que serve e do desenvolvimento do País.

terça-feira, novembro 08, 2005

Publicidade da ADESGAR na Gardunha




A Adesgar distribuiu publicidade pela Gardunha, paga pelos contribuintes, ao que suponho, em que o ponto forte da mensagem, para mim, é publicitar um serviço comercializado pela mesma, a medição de terrenos por GPS(a pagar pelos proprietários de terrenos. A Adesgar, em programas comunitários anteriores, benificiou de financiamentos, que se traduziram, quase que exclusivamente pela identificação, divulgação e criação de condiçóes de reserva do Asphodelus Bento Rainha. Agora, aproveitando a política de florestação em curso, preparam-se para retirar aos proprietários, uma percentagem do financiamento a que terão direito, para promoverem a florestação. Estiveram em "banho maria", quando se esgotou a primeira fatia de financiamento da UE, reapareceram quando o "cheiro" a dinheiro comunitário começou a pairar no ar. Se consultarem o seu site, fruto do primeiro financiamento, concluirão que o trabalho ficou por concluir, com inúmeras lacunas. Agora, já conseguiram novos financiamentos, que se traduziram por mais publicidade, mapas e identificações no terreno, que acabarão por se perder, ou em próximos incêndios ou com o decurso do tempo, por falta de manutenção e assistência. É assim que se vão queimando os financiamentos comunitários, acabando por ficar as populações mais empobrecidas e alguns promotores com as contas bancárias inchadas, com a nossa complacência e inércia.

Vinhos Jardim do Paço





Tive oportunidade de adquirir, no último fim de semana, no Jumbo de Castelo Branco, um vinho da Beira Interior que desconhecia. No Rótulo apresenta adesignação de Jardim do Paço. Na descrição não se vislumbra qualquer ligação entre o vinho, a marca e o rótulo. Trata-se, parece-me, de um engano, que provavelmente acabará por desfavorecer as marcas, a utilização de rótulos e de designações que não têm qualquer ligação com o produto ou com a história do produto. Ainda por cima o vinho da Beira Interior é engarrafado no Ribatejo, não sendo criada, pelo menos, a mais valia do engarrafamento, na nossa Beira. Recomenda-se que, enquanto não forem feitas certas correcções, os beirões prescindam do consumo desta nova proposta comercial. Tem uma virtude, indica claramente o enólogo, de todo desconhecido e a indicação da casta predominante. Fica-se sem saber o local exacto da produção, as técnicas de vinificação, o armazenamento e estágio do vinho.