sexta-feira, dezembro 23, 2005

Chuchurumel - no castelo de Chuchurumel

Excelente trabalho de música tradicional portuguesa, editado por Chuchurumel, sendo "No Castelo de Chuchurumel" o seu primeiro trabalho. Disco para ouvir com muita atenção, descodificando e identificando no Romanceiro Tradicional Português o conteúdo de cada uma das letras e reconhecendo a acústica de cada um dos instrumentos utilizados.



in: www.chuchurumel.com
"Após dois anos de trabalho, Chuchurumel edita o seu primeiro disco, no castelo de Chuchurumel, que apresenta temas da tradição popular portuguesa (nomeadamente do distrito da Guarda) e composições originais. Alguns dos temas gravados no castelo de Chuchurumel foram recolhidos por José Franco e publicados na revista “Altitude”, nos inícios da década de 40 do século passado: Canção da Ceifa (Gonçalo, Guarda); Aninhas (Sobral da Serra, Guarda); Cantilena de pedreiro (Barreira, Mêda); outros remetem para universos sonoros marcantes (os bombos da festa dos Montes, Trancoso), para a voz única de algumas informantes (Júlia Fonseca e Maria Augusta Moleira) ou para relatos singulares (relato de Lúcia Jorge a propósito dos trabalhos do linho). O disco inclui também uma canção única: trata-se de “Se soenes crunhe penhar”, a única canção com letra elaborada na gíria de Quadrazais (Sabugal). Trata-se de uma gíria usada pelos antigos contrabandistas e que hoje está praticamente esquecida.
No castelo de Chuchurumel, misturam-se instrumentos convencionais (percussões, gaita-de-foles, concertina, piano, ocarina, viola, bandolim), com instrumentos simples (pedras, paus), com outros construídos por César Prata e com programações.


Para além da questão estética, Chuchurumel teve preocupações de ordem ecológica ao optar por embalar o seu primeiro trabalho discográfico em bolsas de tecido, que são confeccionadas manualmente (!!!), fazendo do disco, para além de um objecto sonoro, um objecto de artesanato. Belíssimas costureiras confeccionaram para nós as bolsas que são peças únicas, porque irrepetíveis (muitas bolsas são feitas em desperdícios de tecidos com dezenas de anos!). Assim, decidimos usar apenas desperdícios de tecidos e não usámos papel nem plástico, podendo a ficha técnica ser consultada nesta página (quem quiser pode guardá-la no seu computador ou imprimi-la)."

quarta-feira, dezembro 21, 2005

Manuel Antunes-destacado beirão

Manuel Antunes, um dos mais brilhantes intelectuais portugueses do século XX, beirão nascido na Sertã, director durante décadas da Revista Brotéria, foi recentemenente alvo de uma justa homenagem. Recorda-se que a Revista Brotéria nasceu na Beira, no Colégio de S.Fiel e foi, até agora, a Revista editada na Beira Interior com maior reconhecimento científico. Nem agora, com a UBI e os Politécnicos, se edita uma revista, com o mesmo reconhecimento que a Brotéria, editada em S. Fiel teve.




PÚBLICO - EDIÇÃO IMPRESSA - CULTURA

Director: José Manuel Fernandes
Directores-adjuntos: Nuno Pacheco e Manuel Carvalho
POL nº 5747 | Segunda, 19 de Dezembro de 2005

Manuel Antunes O padre que lia Homero e Marx
António Marujo

Congresso sobre padre Manuel Antunes revelou personalidade que marcou o século XX português. Um homem que escolheu "com o coração"

A "projecção" da herança intelectual do padre jesuíta Manuel Antunes, que foi professor na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, "começa agora", disse ao PÚBLICO Arnaldo Espírito Santo, vice-presidente do conselho directivo daquela faculdade e um dos principais responsáveis pelo congresso internacional que, durante três dias, evocou a figura de Manuel Antunes.
Em Lisboa (quinta e sexta) e na Sertã (sábado), terra onde nasceu o professor universitário, 60 especialistas e 300 participantes debateram a vida e o pensamento de Manuel Antunes. Memórias, reconhecimento de um pensamento único, ideias e temas tratados pelo padre jesuíta, passaram pelo congresso.
Algumas constantes marcaram muitas intervenções: a raridade do pensamento e da vasta cultura de Manuel Antunes no século XX português; a actualidade e universalidade dos seus escritos e uma mensagem que ultrapassa o seu tempo; a figura humana de "conciliador nato, mas não eclético", na expressão de Eduardo Lourenço; a opção clara pela democracia e pela justiça social.
Porque é que uma obra assim esteve quase ignorada durante duas décadas, desde a sua morte, em 1985? A dispersão dos textos de Manuel Antunes impossibilitou a Faculdade de Letras e a Companhia de Jesus, suas herdeiras naturais, de tornar visível o seu pensamento, admite Arnaldo Espírito Santo.

"O mais cultivado
dos críticos literários"
Leitor dos clássicos, Homero era o seu preferido - para não falar da Bíblia, primeira referência de vida. Mas a vasta cultura levava-o a ler também "autores católicos, protestantes, marxistas, existencialistas", como recordou Arnaldo Espírito Santo. Num tempo de proibições políticas, Manuel Antunes escrevia sobre marxismo, China ou União Soviética. A cultura de Manuel Antunes era de tal modo vasta que o professor tanto se referia ao logos do evangelho de S. João, como Virgílio, ou às aventuras de Tarzan e Robinson Crusoé, acrescentou Arnaldo Espírito Santo, na intervenção que fez no congresso.
João Bénard da Costa, director da Cinemateca, refere-se a Manuel Antunes como "o mais cultivado e o mais criador dos críticos literários". Recorda-se de ter ido falar com Manuel Antunes sobre cinema e ter saído "esmagado" da conversa em que o jesuíta lhe citara autores, edições e traduções, de memória.
"É inesgotável a lista das suas paixões, como é inesgotável a sua erudição", dizia Bénard da Costa, que ontem o evocou, na sua coluna de opinião no PÚBLICO. Medeiros Ferreira recordou que, um dia, passou a sebenta do seu professor ao então capitão Ernesto Melo Antunes. "Li uma sebenta que me encantou: a do padre Manuel Antunes", diria o militar muito mais tarde, pouco tempo antes de morrer, na entrevista a Manuela Cruzeiro, editada em livro.
Apesar da sua erudição, "Manuel Antunes nunca privilegiou o aspecto apologético das suas profundas convicções religiosas e metafísicas", disse Eduardo Lourenço, na intervenção escrita que enviou ao congresso (motivos de última hora impediram-no de estar presente, tal como ao filósofo Edgar Morin). O ensaísta acrescentou: "A sua escolha de vida e de pensamento foi essa, da ordem do coração."



PÚBLICO - EDIÇÃO IMPRESSA - CULTURA

Director: José Manuel Fernandes
Directores-adjuntos: Nuno Pacheco e Manuel Carvalho
POL nº 5749 | Segunda, 19 de Dezembro de 2005

Mais de 150 pseudónimos, muitos para fugir à censura

Além de professor, Manuel Antunes destacou-se também enquanto director da revista Brotéria, dos jesuítas. Aqui escreveu centenas de artigos de crítica literária, cultura, teologia, política, filosofia, entre outras áreas. Muitas vezes com pseudónimo - mais de 150 diferentes estão já referenciados. Fazia-o para evitar a censura do Estado Novo, que não o via com bons olhos, ou para não ter que assinar um número inteiro da revista com o seu nome, já que por vezes falhavam os colaboradores. Manuel Antunes leccionou em Letras entre 1957 e 1983. Foi convidado para a faculdade por Vitorino Nemésio e dava aulas de História da Cultura Clássica para mais de 400 alunos, com o anfiteatro um completamente cheio. Entre os mais de 17 mil estudantes que passaram pelas suas aulas, estiveram pessoas tão diversas como Medeiros Ferreira, Maria do Céu Guerra, José Barata Moura, Matilde Sousa Franco, Luís Miguel Cintra, Almeida Faria, Fernando Mascarenhas ou Maria João Seixas. Quando foi Presidente da República, Ramalho Eanes chamou-o para seu conselheiro.

domingo, dezembro 18, 2005

Editora Alma Azul e a Beira Interior






A Editora Alma Azul, com sede em Coimbra e com uma Livraria em Alcains, vem prestando um excelente serviço à Cultura da Beira, reeditando obras de autores da Beira Interior esgotadas e editando novas publicações de autores da Beira Interior ou sobre temas da Beira Interior. Pelo seu catálogo é possível referir a reedição da Etnografia da Beira de Jaime Lopes Dias, organizada tematicamente, Cozinha e Alimentação na Beira Baixa, Contos e Lendas da Beira, por exemplo. Reedição de Viagens de Pêro da Covilhã do Conde de Ficalho. Reedição, com o apoio da Câmara Municipal de Castelo Branco, da Monografia de Castelo Branco, de António Roxo. Mas também pimeiras edições como sejam Festividades da Páscoa Beirã de Maria Antonieta Garcia, História de Alcains, de Florentino Vicente Beirão, Apontamentos para a História de Escalos de Cima de João dos Reis de Matos, a título de exemplo.

terça-feira, dezembro 13, 2005

Vinhos da Beira Interior no Funchal

Percorri alguns dos estabelecimentos comerciais do Funchal, no último fim de semana, especializados na comercialização de vinhos. Todos eles com uma excelente apresentação dos Produtos,com espaços para provas e com descrição dos produtos em venda. Só encontrei dois produtos da Beira Interior, Praça Velha da Adega Cooperativa do Fundão a 11,30 € e a aguardente velha Centum Cellas da Adega Cooperativa da Covilhã, a 35 €. Esta última correspondia a uma aguardente de 15 anos, envelhecida em casco de carvalho português. Trata-se do primeiro produto da Beira Interior que encontro, utilizando o carvalho Lusitano, como matéria prima, para enriquecimento, quer de vinho ou de aguardente. Era uma das aguardentes velhas mais caras, a 970 Reserva de cana, produzida na Madeira, custava entre 17 e 25 €. Não encontrei no mercado aguardente vínica da Madeira envelhecida, tendo concluído que só recentemente se começou a produzir, para comércio, aguardente vínica.
Mas, o que é de realçar é a vulgaridade da descrição dos vinhos da Madeira, com indicação de castas, Malvasia, Verdelho, Bual, Sercial Tinta Negra e Terrantez. Este último, de reduzida produção e só disponível com envelhecimento superior a 25 anos. é também frequentemente a diferenciação entre Harvest, Colheitas e Vintage.
Como curiosidade encontrei Licor de castanhas, que a Madeira não produz, enquanto nós, na Beira Interior, nos limitamos a utilizá-la nos Magustos, com um mínimo de valorização. Aprendamos, revolvam-se os baús e descubram-se as receitas tradicionais que utilizavam a castanha, quer para a confeccionação de pratos, doces ou licores.

quinta-feira, dezembro 08, 2005

Promoção do azeite da Beira Interior

DOC de Azeites da Beira Interior

Excelente iniciativa e notícia do Diário xxi, que merecia uma investigação mais aprofundada, relativamente ao seu conteúdo:

Questões para investigação: Quantas e quais são as DOC's de Azeite da Beira Interior?

Qual é a origem da plavra Tibórnia? Haverá uma escrita alternativa?

Qual é a receita da Tibórnia(?) conceituada em obras como a de Alfredo Saramago, Maria Odete Valente, Maria de Lurdes Modesto, por exemplo?

Quais são as receitas de Tibórnia(?)apresentadas em sites da Região?

Não haverá outros produtos, que utilizam o azeite, típicos da Beira Interior, a promover? Bolo(pão) de azeite, por exemplo? Cogumelos, guisados, espargos bravos, com ovos, esparregado de Saramagos, couves temperadas com azeite, xerovias fritas, ovos verdes, botelha frita, filhós e tantas e tantas outras situações similares.....

in: Diário xxiRestaurantes promovem Azeite da Cova da Beira
Quinta-Feira, 08 de Dezembro de 2005
II Festival da Tibórnia arranca hoje no Fundão


A promoção da gastronomia regional vai juntar, até domingo, 14 restaurantes da cidade do Fundão, onde o principal ingrediente dos pratos confeccionados será o azeite


Ana Almeida
“Mais do que valorizar o azeite da Cova da Beira, pretendemos divulgar a gastronomia regional”. Este é o principal objectivo que Francisco Almeida Lino, Chanceler da confraria de Azeite da Cova da Beira, aponta para a realização do Festival da Tibornia, na cidade fundanense.
Pelo segundo ano consecutivo, a Confraria do Azeite da Cova da Beira em parceria com a empresa Fundão Turismo e a Câmara Municipal, leva a cabo a iniciativa que reúne 14 restaurantes na confecção de “tibornias”. Para além de promover o azeite e azeitona de mesa, o evento visa “mobilizar e sensibilizar os empresários da restauração do Fundão para a divulgação das tibornias tradicionais ou sofisticadas, realçando a importância e a excelência do azeite da região”, explica a autarquia fundanense em comunicado.
A partir de hoje e até domingo, a organização acredita que o certame “mobilizará a cidade e mostrará a todos as suas qualidades”. “Com esta iniciativa vão estar aqui vários órgãos de comunicação social, nacionais e regionais, os quais poderão mostrar a todo o País a tradição e evolução da Cova da Beira”, afirma Almeida Lino.

ÉPOCA DO ANOS PROPÍCIA PARA A PROVA DE AZEITE
Os estabelecimentos que aderiram à mostra gastronómica terão que utilizar, na preparação das tibórnias, pelo menos duas qualidades de Azeite da Cova da Beira e duas denominações de origem da Cova da Beira diferentes. “Neste evento o azeite é o rei, até porque estamos na altura propícia para a prova deste ingrediente”, salienta.
A escolha do nome “Tibórnia” para este festival prende-se com o facto de ser um prato que “diz muito ao azeite”. “Curiosamente, esta palavra tem vindo a cair em desuso, não se vendo inclusivamente na maioria dos dicionários”. Embora não saiba com precisão como surgiu esta tradição, Almeida Lino garante que “é sempre importante recuperar este tipo de valores gastronómicos”.
A tibórnia consiste em “empapar” um naco de pão em azeite e polvilhar a fatia com açúcar. Com o evoluir dos tempos, este prato tem sido confeccionado de várias maneiras. Muitos restaurantes adicionam ao pão e azeite, elementos como grão e bacalhau.
A Cereja, As Tílias, Bocage, Boguinhas, Cantinho dos Grelhados, Hermínia, Mário`s, O Alambique de Ouro, O Beiral, O Mário, O Panças, O Parque, Papo d`Anjo e o Veneluso são os restaurantes onde a iniciativa vai decorrer. Durante três dias, as diferentes casas vão mostrar como este prato se pode confeccionar das mais variadas formas.

segunda-feira, dezembro 05, 2005

Rede Social do Fundão apoia desempregados

in: Expresso

Trabalho à vista
(02-12-2005)
Rede Social do Fundão apoia desempregados


Maribela Freitas

A REDE Social do Fundão está a apoiar a integração de desempregados no mercado de trabalho através da sua qualificação e reconversão profissional. Este projecto, liderado pela Câmara Municipal do Fundão (CMF), integra 40 parceiros concelhios e tem como objectivo intervir a nível social. Recentemente esta rede estabeleceu um diagnóstico das necessidades sociais do concelho e estabeleceu um plano de acção até 2010.

«Um das áreas prioritárias de actuação é ao nível da empregabilidade. Neste âmbito o grande problema são os desempregados de longa duração, em que a maior parte são mulheres com idade entre os 35 e os 45 anos, com baixa qualificação», refere Paulo Fernandes, vereador com o pelouro de acção social da CMF.

Com o objectivo de promover a empregabilidade, a rede social tem um serviço de bolsa de emprego onde aceitam pedidos de trabalho. «Criamos também uma empresa municipal de inserção onde ministrámos um curso de formação em jardinagem para 16 desempregadas que estão neste momento a trabalhar», conta Paulo Fernandes.
A rede social tem vindo também a ministrar formação para desempregados — sobretudo mulheres —, direccionada para as necessidades locais, nomeadamente em áreas como turismo e hotelaria. «Em média, 30 a 40% das pessoas que formamos são integradas no mercado de trabalho», salienta o vereador.

Acrescenta ainda que esta rede vai criar uma UNIVA – Unidade de Inserção na Vida Activa e um sistema de microcrédito de apoio ao empreendedorismo local.

domingo, dezembro 04, 2005

Frulact inicia produção no Tortozendo em Fevereiro

A Frulact, empresa integralmente portuguesa, vai inaugurar a sua quarte unidade de produção no Tortozendo, permitindo esta nova fábrica, duplicar a produção da empresa. Bem-vinda à Beira Interior, onde vai absorver centenas de toneladas de fruta, permitindo escoar a produção e criando condições de mercado para que novos produtos surjam. A generalidade da sua produção destina-se ao mercado externo, criando valor acrescentado ao produto fruta.


PÚBLICO - EDIÇÃO IMPRESSA - ECONOMIA

Director: José Manuel Fernandes
Directores-adjuntos: Nuno Pacheco e Manuel Carvalho
POL nº 5732 | Domingo, 4 de Dezembro de 2005

Frulact é um caso português de sucesso
Margarida Peixoto

Empresa 100 por cento portuguesa, a produtora de preparados de frutas alimenta os mercados europeu, norte-africano e do Médio Oriente.

Portuguesa, familiar, com menos de duas décadas, mas exporta 90 por cento da sua produção. A Frulact venceu esta semana o Óscar Exportação 2005 da Câmara de Comércio Luso-Francesa, pelo seu desempenho na "catedral dos lácteos", como lhe chama João Miranda, vice-presidente e co-fundador da produtora de preparados de fruta. Com presença no Norte de África, no Médio Oriente e na Europa Ocidental, a Frulact já está concentrada no futuro: o mercado de leste.
A Frulact produz preparados de fruta, ou seja, "a matéria-prima" dos iogurtes, dos gelados e de outros produtos lácteos. Fundada pela família Miranda em 1987, tendo o pai e os dois filhos como os três sócios, a Frulact prevê para este ano uma facturação de 25 milhões de euros (tendo conseguido 20,2 milhões em 2004) e apresenta crescimentos anuais compreendidos entre os 20 e os 25 por cento. Em Fevereiro do ano que vem espera inaugurar a sua quarta unidade de produção, já a ser construída em Tortosendo-Covilhã, um investimento de 10 milhões de euros que permitirá duplicar a capacidade de oferta.
Em análise está o mercado de Leste, seja porque "oferece oportunidades de crescimento", seja porque "clientes preferenciais pretendem desenvolver a sua actividade no Leste e nós somos sempre desafiados a acompanhá-los", explicou João Miranda ao PÚBLICO. A entrada neste mercado deverá incluir a instalação de uma nova unidade fabril, já que "a componente lojística tem um impacte muito grande na estrutura de custos" da Frulact, esclareceu o vice-presidente. "Estamos a avaliar a hipótese com algum cuidado e detalhe, já fizemos algumas prospecções, fizemos algumas viagens e seguramente dentro em breve já teremos alguns dados mais objectivos em relação a este projecto", revelou João Miranda.

O desafio da "catedral dos lácteos"
A família Miranda percebeu "cedo que o mercado nacional era muito curto", que para uma empresa rentável era preciso "dar um salto, tanto em volume de negócios como em termos de meios disponíveis". O primeiro mercado de exportação foi Espanha, onde a Frulact entrou logo em 1994, depois de ter transferido a sua unidade industrial de Matosinhos para as instalações da Maia, "construídas de raiz". Hoje exporta 51 por cento da sua produção para Espanha e assume-se "dominante" no mercado vizinho.
A aventura francesa veio bem mais tarde, já na viragem do milénio, depois de ter passado pelos desafios do Norte de África, onde a "instalação correu bem mas a exploração sofreu um revés, com o fecho das fronteiras com a Argélia", obrigando a Frulact a transferir-se para a Tunísia.
A entrada em França foi preparada com muito cuidado, uma vez que "é o país onde todos gostariam de crescer, pois é o mais exigente, o de maior consumo, o de maior notoriedade, é a catedral dos lácteos", referiu João Miranda. A espera foi propositada, a Frulact considerou que "para abordar o mercado francês devia estar bem preparada": fez estudos de mercado, formou todo o pessoal administrativo e cerca de 50 por cento do industrial em francês, identificou quatro ou cinco potenciais clientes aos quais se dedicaram e comprou "quilos e quilos de produtos lácteos franceses para conhecer o perfil organoléptico (de sabor) do mercado e dos possíveis clientes". Tendo iniciado a fase preparatória em 1999 e o início da exportação entre 2000 e 2001, a Frulact considera que o sucesso foi "mais rápido do que o esperado" (exporta cerca de 35 por cento do que produz para França), o que a obrigou a antecipar o investimento de Tortosendo.

A fórmula do sucesso
"O suporte do nosso desenvolvimento foi sempre I&D [pesquisa e desenvolvimento], mesmo quando ainda estávamos em Matosinhos" (a primeira unidade de produção da Frulact), referiu o vice-presidente da empresa. Segundo João Miranda, os ciclos de vida dos produtos "estão cada vez mais curtos, cerca de um ano e meio a dois anos", o que significa, em média, que se perde "10 por cento do volume de negócios por ano, com fins de ciclos de produtos". "Na realidade, temos que crescer 30 a 35 por cento ao ano", para compensar estas perdas, explicou o vice-presidente.
O segredo do crescimento está também na "aposta em equipas jovens e dinâmicas", na definição de "linhas orientadoras" e de uma "cultura de organização" que se procura sempre preservar. Perante a imagem que Portugal tem lá fora, que o vice-presidente diz ser "verdadeiramente negativa", as empresas portuguesas têm que "redobrar a preparação e os cuidados". "Mas temos que perder a falsa humildade: assumir que somos bons, que temos capacidades e competências", sublinhou o vice-presidente da Frulact.

sexta-feira, dezembro 02, 2005

José Marmelo e Silva, escritor da Beira Interior

Frequentemente, quando se fazem referências a personalidades que passaram pelo Seminário do Fundão, vem à Baila o nome de Vergílio Ferreira. Mas há outros escritores que frequentaram o mesmo Seminário.....


in: Nova Cultura

José Marmelo e Silva:
Obras completa – Não aceitei a ortodoxia

Campo das Letras
776 páginas
EUR 36,-- (preço no TFM-Centro do Livro)
»Situar Marmelo e Silva no panorama literário português é dar conta da interacção da presença com o neo-realismo, embora nenhuma destas correntes tenha sido exclusiva e os traços da última se tenham vindo a esbater gradualmente.

É notória a exclusividade de sujeitos masculinos, todos eles acabrunhados por uma sociedade que lhes é adversa e que os maltrata ou despreza. Podemos considerar a existência de três vectores fundamentais que se conjugam para definir as personagens e que concorrem para a criação de cenários semelhantes, mesmo se parecem distanciar-se, ou se as causas da angústia e náusea não se afiguram idênticas. Falamos da referência quase obsessiva à precariedade das condições sociais, da alusão sarcástica à hipocrisia religiosa e da vivência doentia de uma sexualidade exagerada, porque incompreendida ou resultante de frustrações que parecem só poder resolver-se através de um desejo simplesmente físico e, com frequência, mal direccionado.

A presença de assuntos considerados tabu (sobretudo para a época em que vieram a lume) condensa-se na entrevista de Marmelo e Silva à revista Coisa (Maio de 1984) e reproduzida no jornal Letras & Letras (n.º 15, de 5 de Março de 1989). As suas palavras definem melhor do que quaisquer outras a intenção que presidiu à obra: “Os conservadores esfolaram o rabo ao Neo-Realismo à força de o puxarem para trás nas velhas calhas dogmáticas. Se eu me distanciei, digamos que foi por eles ficarem cristalizados. Não aceitei a ortodoxia. Luto pela resolução dos problemas humanos, não excluindo os da sexualidade. Os ortodoxos esquivam-se à problemática sexual, no que muito agradam ao ultramontanismo.«

Maria de Fátima Marinho
(informação da editora)



mais livros na novacultura

José Marmelo e Silva nasceu em 1911, na freguesia de Paul, concelho da Covilhã. Frequentou o seminário do Fundão, donde “sai” com 17 anos, por incompatibilidades de Ser e de Pensar com o sistema e a instituição. Colabora, enquanto jovem, n’O Brado Académico, n’O Raio, da Covilhã, e na Mocidade Livre, de Castelo Branco. Na década de 30 colaborou no semanário lisboeta O Diabo, com o pseudónimo Eduardo Moreno e leccionou em Espinho no Colégio Pedro Nunes. Em 1932 publica O Homem que Abjurou a Sociedade – Crónicas de Amor e do Tempo. Em 1937 funda, juntamente com outros intelectuais, a Editora Portugália, em Coimbra, que se inaugura com a publicação da 1.ª edição de Sedução. Publica em 1939 a 1.ª edição de Depoimento. Em 1940 licencia-se em Filologia Clássica na Faculdade de Letras de Lisboa. Publica a 1.ª edição de O Sonho e a Aventura em 1943. A partir de 47 fixa residência em Espinho, onde permanece até à data da sua morte. Publica em 1948 a 1.ª edição de Adolescente; em 1958 publica Adolescente Agrilhoado, 1.ª edição acrescentada. No fim da década de 40 e década de 50 dedica-se à actividade agro-comercial, que constituía já um trabalho com raízes familiares. Na década de 60 colabora no Diário de Notícias e na revista Seara Nova. Em 1968 publica O Ser e o Ter seguido de Anquilose e em 1983 Desnudez Uivante. Em 1987 é agraciado com a medalha de ouro da cidade de Espinho e em 1988 é condecorado pelo presidente da República com o grau de Comendador da Ordem de Mérito. Parte a 11 de Novembro de 1991. Foi o fim de uma vida que passou por uma adolescência dedicada ao “seminário”; uma juventude consagrada à “licenciatura, ao grego e aos clássicos”; um adulto dedicado ao “amor, amor, amor…” – como ele próprio anotou.