domingo, setembro 04, 2005

Aqui está a prova da excelência de trabalhos de arqueologia na Beira Interior

In: Jornal do Fundão
SECÇÃO: Grande Tema

NÚCLEO MUSEOLÓGICO DE CASTELO NOVO
Uma história de séculos contada a partir do castelo

Parte do trabalho de três anos de escavações arqueológicas no castelo desta aldeia histórica já pode ser visto pelo público. Moedas e peças de cerâmica são alguns dos objectos presentes no núcleo museológico de Castelo Novo

A ALDEIA histórica de Castelo Novo já exibe o seu rico passado no recém-inaugurado núcleo museológico, onde está patente parte do espólio que foi recolhido nas três campanhas de escavações arqueológicas que decorreram entre 2002 e 2004, no castelo da aldeia. O novo espaço – a funcionar na antiga Casa da Câmara – foi inaugurado no âmbito das Jornadas de Arqueologia Medieval e Moderna de Castelo Novo, que decorreram na semana passada e pode ser visitado todos os dias das 9 e 30 às 13 e das 14 e 30 às 18 horas. Nos dias úteis, a visita é realizada mediante solicitação no posto de turismo.

Cerâmicas e moedas são alguns dos objectos que se podem encontrar no novo espaço museológico. Ao todo recuperaram-se 247 moedas em razoável estado de conservação, que remontam a vários reinados compreendidos entre o de D. Sancho I (1169-1210) até ao de D. João III (1521-1557). Contudo, deste último reinado, foi apenas encontrado um exemplar numismático, facto a que se deverá, segundo Silvina Silvério e Luís Barros, os arqueólogos autores do livro “Arqueologia no Castelo da Aldeia Histórica de Castelo Novo (2002-2004). Resultados Preliminares”, a esta ser uma fase em que “a fortificação deveria estar já em processo de ruína”. Algumas moedas mais recentes foram recolhidas em níveis que correspondem a “entulhos sub-actuais”, não correspondendo à fase de uso do castelo. Das escavações resultaram também extracções de fragmentos de louça de cozinha, jarros, potes e exemplares de uso pessoal e doméstico. Neste campo, o grupo mais escasso remete para jóias e peças de adorno pessoal e “nele só podemos incluir duas, ambas em cobre, um alfinete medieval (...) e um anel com a insígnia da Ordem de Cristo, cuja cronologia se situa entre os séculos XV e XVI”, revela ainda o documento.

No que diz respeito ao armamento, foi encontrado um conjunto significativo de artefactos “sobretudo representado por várias pontas de seta e virotes de besta”. Também foi descoberta uma espora de cavaleiro e “o remate de bainha de punhal, em cobre, com decoração fitomórfica ladeando a cruz da Ordem de Cristo que constitui o motivo central. Este objecto, fragmentado, mas quase completo, destaca-se pela simplicidade das incisões que definem o desenho, as quais são algo irregulares”, diz ainda o livro. Também foram recuperadas durante as escavações argolas em cobre e ferro “que presumimos terem pertencido ao arnês ou cabeçada das montadas. As primeiras apresentam desgaste em parte da face interna o que indica uma tracção constante num dos segmentos, enquanto a segunda, constituída por uma cadeia dupla articulada poderá ter correspondido a um elemento de ligação entre o freio e a rédea”. No que diz respeito ao mobiliário “foram identificados vários elementos em cobre, aos quais não podemos atribuir outra função que não seja a decorativa”, e “entre eles, destacamos apenas três em forma de estrela ou fitomórfica, com três pontas, a título de exemplo, compatíveis com a decoração patente numa banqueta representada no Tumbo A da catedral de Santiago de Compostela, códice datado do século XII, uma vez que a cronologia destes artefactos, face ao restante espólio, aponta para os séculos XV a XVI”. No domínio das actividades artesanais foi encontrado “um apoio de cabo de broca, obtido a partir de um fragmento de tijoleira rudemente afeiçoada”, que datará dos séculos XV-XVI, bem como uma serra praticamente completa em ferro, que datará do mesmo período. Foram ainda encontradas duas cunhas em ferro.

Grande parte do espólio encontrado no castelo encontra-se ainda em trabalho de gabinete, podendo muito dele ter ainda como destino este espaço, que irá ser ampliado às salas contíguas para receber não só mais peças provenientes do castelo, mas toda a colecção medieval do novo Museu Municipal do Fundão, ficando aqui instalado o núcleo medieval deste.

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