sábado, janeiro 31, 2004

in: Enciclopédia da música Ligeira Portuguesa, Círculo de Leitores, 1998
Instrumentistas de viola beiroa

BRIGADA VICTOR JARA
1975-A Brigada Victor Jara forma-se em Coimbra em pleno período revolucionário. Um grupo de jovens da cidade participa em campanhas de alfabetização e dinamização cultural do MFA e decide constituir-se como um grupo dedicado à recolha e divulgação do cancioneiro português. Numa primeira fase, porém, distinguem-se por tocar canções chilenas. Grupo daquele país como os Inti-Illlimani eram muito ouvidos na época. A experiência política do Chile de Allende, destruída pelo brutal golpe de 11 de Setembro de 1973, fizera do país andino uma referência obrigatória da esquerda. Dois poetas surgiam ligados a esse culto: Pablo Neruda e Victor Jara, assassinado pelos golpistas de Pinochet, em homenagem ao qual o grupo de Coimbra foi baptizado............


O oboé, o saxofone-barítono e o violoncelo são alguns instrumentos que se acrescentam aos adufes, bombos, cavaquinhos, braguesas e demais instrumentos populares utilizados pelos então 11 membros da Brigada: Amílcar Cardoso (beiroa, braguesa, viola, baixo, caixa, paus, sarronca, coros), Ananda Fernandes (coros), Arnaldo Carvalho (bendir, caixa, voz solo, coros), Jorge Seabra (cavaquinho, gaita de amolador, espanta-diabos, coros), Luís Manuel (viola, cavaquinho, berimbau, coros), Luísa Cruz (voz solo, gaita-de-foles, ponteira, flautas, pífaro, coros), Ofélia Libório (adufe, címbalos, coros), Rui Curto (concertina, harmónio, acordeão, bombo, coros), Manuel Henriques (violino e coros), Manuel Rocha (violino e coros), Tom Andrade (beiroa, braguesa, viola, baixo, bandolim, palheta de latão, coros). Um dos temas do disco, «Pregões», não tem suporte em qualquer cancioneiro: foi construído a partir dos típicos pregões dos amoladores ou cauteleiros. Contraluz é um marco fundamental na história do grupo e da Música Popular Portuguesa, onde a Brigada Victor Jara se assume como um dos mais importantes colectivos nacionais. O silêncio de dois anos desde Quem Sai aos Seus está assim justificado. ..................
in: Reconquista


Naturtejo apresenta-se com grande vitalidade
A verdadeira riqueza está no Interior



Seis concelhos, unidos pela natureza, deram o passo decisivo. Constituíram uma empresa de turismo, juntaram os privados e preparam-se para levar longe o nome da região e atrair muitos turistas. É um passo de gigante para trazer gente ao interior, que afinal passa a ser uma nova centralidade no contexto do país e da vizinha Espanha. As portas estão abertas, faça favor de entrar.



A Naturtejo está aí. Criada recentemente e ainda a dar os primeiros passos, já mostra grande vitalidade e empenho na divulgação e promoção da região. Constituída por seis concelhos, Castelo Branco, Idanha-a-Nova, Vila Velha de Ródão, Proença-a-Nova, Oleiros e Nisa, esta empresa de turismo quer mostrar que por aqui existem excelentes condições, com urgência para serem desfrutadas. Este conjunto de concelhos associou-se para dar maior força ao grande projecto de desenvolvimento da região.

“Esta é uma nova fórmula que encontrámos, para levar por diante um conjunto de iniciativas que resolvam o problema das nossas terras, quanto à promoção e desenvolvimento turístico, potenciando as grandes capacidades que temos. Ou seja, não fomos pelos métodos normais que existem, que era constituir uma empresa municipal, ou de deixar os municípios cada um por si, mas encontrámos uma empresa onde estão as Câmaras e onde estão os privados, aqueles que sabem de turismo, aqueles que vivem do turismo e que poderão dar a esta empresa o seu contributo, uma vez que esse é o seu modo de vida e o seu trabalho. São uma mais valia importantíssima, para que esta empresa possa ter um papel preponderante, para tornarmos toda esta região um destino turístico”, diz Joaquim Morão, presidente da Câmara de Castelo Branco.

Mas, para já, a Naturtejo está empenhada em promover-se, com a edição de brochuras e diverso material, inclusive de multimédia, para fazer chegar a mensagem. O ponto de partida mostrar a empres foi a BTL - Bolsa de Turismo de Lisboa e o primeiro trunfo lançado foi a apresentação da Volta a Portugal, que este ano se inicia nas Termas de Monfortinho (ver Desporto). Segue-se a Fitur - Feira Internacional de Madrid, até ao próximo domingo e, depois da realização de mais uma Assembleia Geral, para entrada dos últimos membros para a empresa, e que serão os privados, será a altura de começar a pensar nos grandes projectos, para cada um dos concelhos.

A Naturtejo passa, assim, a promover todo “um território de elevado potencial turístico e com inúmeros factores de atracção. Por ser uma região vasta mas homogénea, a Naturtejo oferece uma grande variedade de produtos turísticos, tendo como mais valia comum a natureza e as excelentes infraestruturas.

Gozando de uma excelente localização e acessos, abre horizontes e oferece mais de 5000 quilómetros quadrados de terra para descobrir”. É assim que se iniciam os promocionais da Naturtejo. Depois, há uma descrição pormenorizada de todas as potencialidades que aqui podem ser encontradas. Nomeadamente, o Parque Natural do Tejo Internacional, com a sua geologia, fauna e flora; a cultura, com Belgais, os museus, diversos eventos, a gastronomia e o artesanato; o património histórico, com as Aldeias Históricas, de Xisto e Típicas, os castelos e fortalezas, as igrejas e capelas e a arqueologia; o desporto na natureza; a saúde e o bem-estar; a religião; e todas as infraestruturas.


Autor: Cristina Mota Saraiva 29-01-2004 18:01:50

quinta-feira, janeiro 29, 2004

in: Enciclopédia da música Ligeira Portuguesa, Círculo de Leitores, 1998
BANDA DO CASACO
1972 A pré-história da Banda do Casaco começa ........
1984 Os dez anos da Banda do Casaco assinalam o primeiro concerto ao vivo, na festa dos Se7es de Ouro, para a qual o grupo juntou numerosos convidados, nomeadamente a Ti Chitas, uma cantora popular de Penha Garcia (Beira Baixa). Nuno Rodrigues tem pronto um oitavo álbum do grupo, sem Né Ladeiras, mas a Valentim de Carvalho acabará por não o editar, por Nuno Rodrigues insistir na presença de José Fortes.

segunda-feira, janeiro 26, 2004

in: Arqueologia da Beira www.arqueobeira.net
Igreja Matriz de Escalos de Cima/Igreja de S. Pedro - Inscrições funerárias
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.......
A segunda inscrição, encastrada numa das paredes da nave da igreja, tem origem romana e é uma placa funerária rectangular em granito de execução simples com 32x76cm. O campo epigráfico de 22x65,5cm foi ligeiramente rebaixado e está envolvido por duas molduras e dele se pode fazer a seguinte leitura:

LICINIO.POLLI.F(ILIO)
CILO BOVTI F(ILIUS) H(ERES)
EX T(ESTAMENTO) F(ACIENDUM) C(URAVIT)

Esta inscrição pode ser traduzida por "A Licínio, filho de Polo. Cilão, filho de Bouto, o herdeiro, mandou fazer por disposição testamentária"

Licinius é um gentilício latino raro no centro e norte da Lusitânia, embora algo difundido em outras zonas da Hispânia. São desta gens alguns membros de alta magistratura na zona ocidental da província da Hispânia Tarraconense, na zona onde se situa actualmente Barcelona.

Pollus é um nome de origem latina que num estudo publicado em Helsínquia em 1965 por Kajanto intitulado "The Latin Cognomina", surge relacionado com Paulus.

Boutius é um antropónimo que teve certamente o seu centro de difusão na Lusitânia oriental. Eventualmente estará relacionado segundo Vasco Mantas, com o termo céltico bhoudhi (vitória).

Cilo é cognome de origem latina (mais uma vez segundo Kajanto).

A ausência de referência aos deuses Manes e a paleografia permitem datar o monumento como sendo do Séc. I.



Bibliografia

LEITÃO, Manuel - Ficheiro Epigráfico, nº14, Coimbra 1985

Os nossos agradecimentos ao Dr Manuel Leitão pelas informações fornecidas

Nº IPA : 0502080032

Outras Fontes: Direcção Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais, 1998
Para saber mais...






in: Arqueologia da Beira www.arqueobeira.net

Interpretação de uma inscrição romana na freguesia de Póvoa da Atalaia

Trata-se de uma placa funerária em granito de 42x100x28,5 cm, encontrada quando se procedia à remodelação de uma casa junto à Igreja Matriz e foi noticiada em 31 de Dezembro de 1980.

O campo epigráfico de 31x77 cm está rodeado por uma moldura, bastante fragmentada, e a parte inferior havia sido adaptada a verga de uma porta manuelina pelo que se apresenta algo danificada embora tal facto não tenha impedido a sua interpretação.

O ordinator preocupou-se em utilizar todo o campo epigráfico segundo um eixo de simetria e as letras são de incisão triangular.

Em epígrafe pode-se ler:

GRAECINIVS
LANGON.
ANN(orum) XXXV (tringita quinque)
H(ic) S(itus) E(st) S(it) T(ibi) T(erra) L(evis)


Pode-se traduzir esta mensagem como "Aqui jaz Grecínio Langão. Que a terra te seja leve".

Graecinius é um gentilício já documentado anteriormente em Idanha-a-Velha. O cognome Langon pode ter duas origens. A primeira poderá vir de um termo grego que foi adaptado para latim significando "Homem Lento". Outra origem possível poderá ser a raíz Lang de origem céltica que surge em topónimos como por exemplo Langobriga o que poderá indicar que Grecínio seria um indígena romanizado. É contudo mais provável a 1ª hipótese.

A ausência de invocação dos deuses Manes e a paleografia sugerem que este monumento seja datado do Séc. I ou início do Séc. II.

Bibliografia

LEITÃO, Manuel - Ficheiro Epigráfico, nº4, Coimbra 1982

Os nossos agradecimentos ao Dr Manuel Leitão pelas informações fornecidas



quarta-feira, janeiro 21, 2004

Liceus Portugueses

António Nóvoa publicou um trabalho de investigação sobre a história dos Liceus Portugueses existentes em 1950. Lá poderemos encontrar a História dos Liceus Heitor Pinto e Nuno Álvares. Obra de consulta obrigatória para quem se interessa pela história da educação.

domingo, janeiro 18, 2004

Foi apresentado um plano de reflorestação para a Gardunha, que incluia a plantação de 11 hectáres de acácias. Essa situação deu origem às seguintes cartas remetidas para o Público:

Contradições Portuguesas
Por PEDRO TEIXEIRA SANTOSCOVILHÃ
Sexta-feira, 02 de Janeiro de 2004
Uma das mais nefastas consequências dos incêndios que nos assolam ciclicamente todos os Verões é a consequente expansão da área ocupada por plantas infestantes, como as acácias (mimosas). As acácias, plantas exóticas com origem na Austrália, ocupam já na actualidade vastas parcelas em muitos
concelhos do nosso país.
O deflagrar de incêndios permite-lhes, por estarem excepcionalmente bem adaptadas a esse fenómeno, propagarem-se de forma imparável, invadindo zonas com aptidão florestal ou agrícola. Os acaciais crescem de forma tão compacta que não permitem o crescimento de outras espécies, constituindo um matagal tão denso que, por outro lado, propicia o rápido avançar de futuros incêndios.
É devido a este conjunto de motivos que nos últimos anos se têm vindo a investir muitos milhares de euros no Parque Nacional da Peneda-Gerês para controlar e erradicar esta praga, bem como outros milhares em projectos de investigação noutros pontos do país visando os mesmos objectivos. Deste modo, foi com profunda estupefacção que, ao folhear a edição do "Jornal do Fundão" de 7 de Novembro último, leio a notícia segundo a qual a Direcção Regional de Agricultura da Beira Interior (DRABI) se prepara para plantar um total de 11 hectares de acácias na serra da Gardunha (nas freguesias de Castelo Novo e Louriçal do Campo). A serra da Gardunha, que integra a lista de sítios nacionais da Rede Natura 2000 (com reais possibilidades de se vir a constituir em parque natural), alberga ecossistemas de elevado valor a
preservar, incluindo a existência de uma espécie vegetal única no mundo, a "Asphodelus bento-rainhae". Deste modo, os planos de reflorestação da DRABI não só não incluem planos para controlar os núcleos de acácias já existentes na Gardunha, como se preparam para piorar este gravíssimo problema ambiental.
Situações como esta demonstram que no nosso país se vive um clima de subdesenvolvimento único no mundo, só assim sendo possível compreender que em consequência da tragédia dos incêndios se gastem os parcos recursos do Estado a piorar a própria situação criada pelos fogos florestais. Como é possível conceber que em Portugal se gaste dinheiro para erradicar acácias e, em simultâneo, se gaste dinheiro para plantar mais acácias?


"Contradições Portuguesas"
Por JOSÉ L. COLEHO SILVASUBDIRECTOR REGIONAL DE AGRICULTURA DA BEIRA INTERIOR
Domingo, 18 de Janeiro de 2004
Foi publicada, sob o título "Contradições portuguesas", a carta remetida por Pedro Teixeira Santos ao PÚBLICO, a qual afirma que, por iniciativa da Direcção Regional de Agricultura da Beira Interior (DRABI), iriam ser plantados "(...) 11 ha de acácias na serra da Gardunha".
Ora a informação é falsa. De facto, foram apresentados em sessão pública, destinada a promover a discussão pelos interessados, os três projectos promovidos pela DRABI, para reflorestar áreas comunitárias afectadas por incêndios na serra da Gardunha, bem como beneficiar as áreas florestais existentes, no sentido de promover a sua recuperação após incêndio.
Nos projectos de arborização em causa, as acácias (ou "mimosas", são tratadas como "invasoras lenhosas", como, aliás, está descrito nos anexos técnicos dos projectos (cópias das partes relevantes em anexo).
O objectivo é realizar as acções que permitam o controlo da expansão da espécie de acordo com as técnicas consideradas adequadas. No caso, os exemplares isolados serão eliminados. Nas manchas existentes as árvores de maior dimensão serão alvo de desramação, de modo a controlar a respectiva vegetação. Os ramos eliminados e os exemplares de menor dimensão, que serão cortados, ficarão no terreno, de modo a constituir uma "manta morta", que dificulta o aparecimento de novas plantas da espécie.
De referir que este processo de controlo é o que se tem revelado mais eficaz na circunscrição da expansão da espécie. Podemos apresentar como exemplo o caso da zona a sul do parque de campismo do Pião, na Covilhã, onde as tentativas da erradicação da acácia, através do corte, se mostraram infrutíferas ao longo de vários anos. Optou-se então pela condução das árvores, o que tem permitido algum controlo na expansão. Tomamos a liberdade de sugerir ao autor da carta (bem como a todos os eventuais interessados) que se informe junto dos serviços do Ministério da Agricultura na Covilhã, onde reside, de modo a obter o cabal esclarecimento deste assunto.
Fica assim claro que não há plantação de acácias, tão-só a tentativa de controlar a invasão de novas áreas.

sábado, janeiro 10, 2004

Exposição sobre Giacometti e a sua colecção de instrumentos musicais.

No Centro Cultural de Cascais foi inaugurada a 8 de Janeiro uma exposição sobre Giacommeti que inclui a exposição de alguns instrumentos musicais da sua colecção. Da Beira-Baixa estão expostos 4 instrumentos musicais: um bombo de Lavacalhos; um adufe de Monsanto; uma flauta Travessa de Lavacolhos e uma flauta de Tambolireiro, também de Lavacalhos. No Catálogo, muito bem concebido pode ler-se um texto de Giacometti, datado Fundão, 10 de Outubro de 1968-A Divulgação da Cultura tradicional-"Como sabe, o nosso intuito não é comercial. Tenta-se apenas salvaguardar, na medida do possível, de conservar para a posteridade, de divulgar a todos os niveís sociais o que sobrevive de uma rica tradição musical. E através desta obra, colaborar (como já vimos), embora modestamente, no conhecimento total do homem português." - pag. 55.

quarta-feira, janeiro 07, 2004

Contraluz

Contraluz



"Esta é a nossa viagem no sonho das imagens sonoras. Sons de outrora que renascem em sons de agora. Apenas silhuetas de sons na memória ... em contraluz. É um título de onde transparece uma característica que presidiu à feitura do disco: o facto de termos dado um papel importante à imaginação musical do grupo".

A evolução da sensibilidade do grupo e da própria postura em face da música tradicional levou a BRIGADA VICTOR JARA a introduzir instrumentos como o piano, violoncelo, oboé e saxofone, misturando-os com a viola beiroa, as palhetas de latão e a ponteira da gaita de foles, no sentido de obter "efeitos sonoros muito curiosos e interessantes" e revalorizando instrumentos como o cavaquinho e a viola braguesa, atribuindo-lhes uma função solista em alguns dos temas.

Com arranjos musicais da BRIGADA VICTOR JARA, entretanto transformada em cooperativa (com o objectivo de se poder ligar a outras actividades culturais), o álbum contou com a seguinte formação e respectiva prestações musicais: Amílcar Cardoso (beiroa, braguesa, viola, baixo, caixa, paus, sarronca e coros), Ananda Fernandes (coros), Arnaldo Carvalho (bendir, caixa, voz solo e coros), Jorge Seabra (cavaquinho, gaita de amolador, espanta diabos e coros), Luis Garção (viola, cavaquinho, berimbau e coros), Luisa Cruz (gaita de foles, ponteira, flautas travessas, adufes, pífaro, voz solo e coros), Manuel Henriques (violino e coros), Manuel Rocha (violino e coros), Ofélia Libório (adufe, címbalos e coros), Rui Curto (concertina, harmónio, acordeão, bombos e coros) e António Andrade (braguesa, beiroa, viola, baixo, bandolim, palheta de latão e coros). Destaque, ainda, para a participação especial de: António Lopes (saxofone barítono), João Pedro (piano), Ferreira da Costa (oboé) e Teresa Figueiredo (violoncelo).
Quanto aos temas incluídos: "Cantiga Bailada" (Beira Baixa); "Pregões" (Lisboa); "Vai-te Embora ó Papão" (Beira Alta); "Arriba o Monte" (Beira Alta); "Falsete dos Mouros" (Açores); "O Cativo" (Algarve); "Ilha de Sons" (Açores). - (Mário Correia)
"Contraluz": bailes, pregões, canções de berço, cantigas de boieiro, romances - "recuperar e revalorizar a cultura musical popular que está em acelerado processo de extinção, sendo necessário preservar a nossa identificação cultural".


Contraluz - 1984 - CBS

1994 - Sony Music (Reedição em CD)
Viola, viola pinho, viola caipira ou viola sertaneja são as denominações mais comuns para o principal instrumento do nosso povo interiorano. O instrumento também pode ser encontrado com os nomes de viola de arame, viola nordestina, viola cabocla, viola cantadeira, viola de dez cordas, viola chorosa, viola de Queluz, viola serena, viola brasileira, etc.

A viola foi trazida ao Brasil por colonos provindos de diferentes regiões de Portugal, principalmente do Norte, que, a partir do litoral, foram se adentrando e se espalhando por todo o país. Neste período de colonização, a viola era muito popular em Portugal, com cada região apresentando, sem fugir de um padrão típico, diferentes estilos para o instrumento.
A viola que mais se diferenciava era a viola beiroa, pois, além do cravelhal normal, com dez cravelhas (onde as cordas são esticadas), apresentava outro pequeno cravelhal, ao lado da caixa de ressonância, em cima do braço, com duas cravelhas.

As violas, em Portugal, sempre se encordoavam com cinco ordens de cordas metálicas, todas duplas, nas violas amarantinas, campaniças, beiroas e braguesas (portanto violas com cinco pares de cordas) e apresentando, na viola toeira, da região de Coimbra, cordas duplas nas três primeiras ordens e triplas nas duas últimas (as três cordas destas ordens ficavam bem próximas umas das outras, um bordão, acompanhado de duas cordas finas de metal).
A viola, então, pode ser encordoada com doze cordas, mas desde que numa disposição de cinco ordens, ou seja, não existe viola com seis ordens (seis pares de cordas). Tanto em Portugal quanto no Brasil, foram encontradas viola com doze furos no cravelhal, mas com apenas dez cravelhas. Reminiscência, talvez, desta viola de doze cordas, da região de Coimbra.

Aqui em nosso país, o instrumento praticamente manteve sua estrutura básica, porém as tradições musicais foram se alterando, conforme a realidade de cada região e os diferentes níveis de interação com culturas distintas, notadamente a negra e a indígena. Essa miscigenação também propiciou, embora casualmente, o surgimento de outros tipos de violas como a viola de buriti, a viola de cocho, a viola de cabaça e a viola de bambu.

As afinações mais usadas pelos violeiros; são a Cebolão, a Rio Abaixo e a Natural; porém, existem dezenas de outras afinações, com os mais variados nomes. É comum encontrarmos uma determinada afinação apresentando nomes diferentes e, até mesmo, um mesmo nome aplicado a diferentes afinações. Enfim, parece que herdamos dos portugueses uma total liberdade quanto às terminologias.
Viola, em português, designa o instrumento que, nos séculos XV, XVI, XVII e XVIII, era conhecido nos outros países por guitarra (instrumento de fundo paralelo ao tampo, com uma curvatura na cinta da caixa de ressonância, a que denominamos de "cintura").
Guitarra, em português, designa um instrumento de fundo paralelo ao tampo, mas sem cintura, parecido com o nosso bandolim. É o instrumento mais popular de Portugal, usado principalmente nos fados.

No final do século XVIII, surgiu na Espanha a guitarra de seis cordas simples, que logo se popularizou em todo o mundo com o nome de guitarra. No norte de Portugal, este instrumento de seis cordas recebeu o nome, não de guitarra, mas de violão, já que o termo guitarra ser referia ao popular instrumento fadista. Portanto, somente no norte de Portugal, no Brasil e possivelmente em alguma ex--colônia portuguesa, se usa a denominação violão, para o instrumento conhecido, em todo o mundo, por guitarra.
No sul de Portugal, como já não existia mais a viola de cinco ordens, eles se referiam a este instrumento de seis cordas simples por viola, ou seja, o mesmo instrumento identificado nos outros países por guitarra, em Portugal é conhecido por violão, na região Norte, e por viola, na região Sul. Este fato explicaria o porquê de, no Brasil, em alguns momentos, as pessoas dizerem viola, referindo-se, na verdade, ao violão.

Finalizando, o instrumento tocado com arco, semelhante ao violino e que se designa viola nos demais países europeus, em Portugal é mais conhecido por violetta e no Brasil, no meio rural, por rabeca.

Texto e Pesquisa de Roberto Corrêa
Extraído do livreto do CD "Uróboro" (1994)
Hi Reza
Your question asks not a dificult but an extensive answer.
In Portugal, any region as a diferent guitar whith, sometimes, diferent tunings.
The most part of them come directely from the vihuela, and have five groups of strings ( we call it "ordens", like the spanish), with ten or twelve strings- one pair in the 1sts 2nds and 3ds, and 3 strings in the others. The sizes are also diferent, and you can find the "cavaquinho", from the north, that is the grand father of the ukelele, and the viola campaniça, from Alentejo (in the south) with almost the same size of the cg.
The names of diferent instrumensts, all from the guitar family, are:
from north to south: cavaquinho, viola braguesa, viola amarantina, viola beiroa, viola coimbrã, viola campaniça; in Madeira: braguinha, rajão and viola de arame;
in Azores(where I am born): viola da terra, with 12 strings in the islands of the east group, and 15, in the west group, with five or six "ordens".
There is also the portuguese guitar ( "Guitarra Portuguesa") that cames from the "cistre".
There are two kinds of portuguese guitars: the Lisbon model, wich is used in the Lisbon Fado, and the Coimbra guitar, that is used in a kind of ballads played by the students of the University of Coimbra, also called "Fado de Coimbra" ( Fado from Coimbra). There are big deferences between the "fados" from Coimbra and Lisbon.
As you see, the cg, in Portugal, is called "Viola" ( "Viola Clássica"- in the conservatory, when I was a student it was called "viola dedilhada": the viola played with fingers, because of the other "viola" from the orchestra) or "violão" in the popular form, because of the traditional instruments that come from the "vihuela". Only the portuguese guitar, that as nothing in is form and tuning with cg, is called with the same name the spanish call cg "guitarra".
The other non-string popular instruments are more then 300, so, as you understand, I can not make even a list of them here.
I'm afraid you will not understand part of what I've wrote because my english is very bad(even with the dictionary at my side), but if in any ocasion you come to Portugal, I will be glad to show you some of the portuguese "violas". I think you will enjoy playing them.
Saúde
João Pimentel

terça-feira, janeiro 06, 2004

http://www.geocities.com/praedichnia/5pt.htm

AS "COBRAS PINTADAS DE PENHA GARCIA: MARCAS DE VIDA ANCESTRAL, SÍMBOLOS ACTUAIS DE UM PATRIMÓNIO A VALORIZAR



por C. Neto de Carvalho 2, Mário Cachão 1,2 e Joana Ramos 2, 3

1- Departamento de Geologia, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Rua da Escola Politécnica, nº 58, 1294 Lisboa CODEX.

2 - Grupo PALEO - Grupo de Paleontologiaa do Museu Nacional de História Natural de Lisboa.

3 - Escola Secundária da Ramada. …..

segunda-feira, janeiro 05, 2004

Recolha
Catarina Chitas
Uma lição para escutar e aprender
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Por: Domingos Morais
Foi editada uma obra fundamental da cultura popular portuguesa. Vários registos de Catarina Chitas, quase perdidos algures numa cassete audio, foram agora recuperados para CD. Uma obra que fala e canta por si - fundamental e indispensável.

Catarina Sargenta, a Ti Chitas para todos os que tiveram o privilégio de com ela privar, nasceu em Penha Garcia, Concelho de Idanha a Nova, a 30 de Janeiro de 1913.

Este CD é uma lição para quem a souber escutar e quiser aprender. A sua publicação pelo Festival Internacional Cantigas do Maio, na sua XIII edição, visa também homenagear uma das mais distintas cantoras portuguesas de sempre.

Na faixa nº 3 deste CD pode-se ouvir uma canção autobiográfica composta e musicada por Catarina Chitas, onde nos diz:

Toda a vida fui pastora / e sou muito de vontade
Eu nasci p’ra camponesa / não foi p’ra ir pr’à cidade
Guardo as minhas cabrinhas / é uma vida que me encanta
Eu nasci p’ra pastorinha / não foi para ser estudanta
Guardo as minhas cabrinhas / é a minha profissão
Sempre cantando e rindo / estudando a minha canção
Estudando a minha canção / com prazer e alegria
Guardo as minhas cabrinhas / no rochedo de Penha Garcia
Guardo as minhas cabrinhas / com bom leite e bons queijinhos
Passo o meu resto do tempo / a brincar com os chibinhos
E a brincar com os chibinhos / é uma vida que é modesta
O la lai lari ló léla, / não há vida como esta.

Os primeiros registos conhecidos de Catarina Chitas terão sido feitos por Ernesto Veiga de Oliveira e Benjamim Pereira em 1963. Muitos outros registos se foram fazendo, dos quais merecem referência: os de Michel Giacometti em 1970, para a série produzida pela RTP “Povo que canta”, publicado em 1970/1996 - Antologia da Música Regional Portuguesa. Beira Alta. Beira Baixa. Beira Litoral; em 1982 por José Alberto Sardinha, em “Recolhas da Tradição Oral Portuguesa – Beira Baixa e Minho”, e em 1997, em “Portugal Raízes Musicais – nº 4 Beira Baixa e Beira Transmontana”; em 1991, a Câmara Municipal de Idanha a Nova edita um LP com 17 faixas, inteiramente dedicado a Catarina Chitas; em 1992, é editado na Collection Dominique Buscall o CD “Music du Monde – Portugal: Chants et tambours de Beira Baixa”, em que Catarina Chitas canta em nove faixas; em 1994, um CD concebido e realizado por Jacques Erwain, “Voyage Musical Portugal – Le Portugal et les Iles” , que além de incluir duas gravações de Catarina Chitas, tem um depoiamento gravado onde nos diz: “Daqui de Penha Garcia, fala Catarina Chitas. É uma pessoa que não tem estudos nenhuns. Fui criada no campo, a guardar gado, a guardar tudo, a guardar cabras, e porcos, e vacas. E a trabalhar, a ceifar, a sachar o trigo, a arrancar o mato, a fazer tudo. A minha sabedoria é essa. Agora, de então para cá, já fui cozinheira, já fui padeira, já fui tecedeira, já passou tudo pelas minhas mãos. Só estudos da Escola é que nunca tive”.

Muitos outros registos foram feitos, por músicos amadores, estudantes, investigadores e estudiosos, sempre bem recebidos por Ti Chitas que com infinita paciência repetia histórias e canções, convidando-os para sua casa onde lhes dava de comer e por vezes guarida até ao dia seguinte. Foi assim que um dia, acompanhado pela Teresa e pelos nossos filhos Pedro e Tiago, depois de termos conversado e gravado, comemos um frango frito e uma salada de tomate que não mais esquecemos. Muitas destas gravações eram meros registos que nos permitiam recordar e transcrever para os nossos trabalhos o que tínhamos aprendido. Não havia o propósito de vir a editar as gravações, e por isso usava-se equipamento amador.

Foram essas as fontes a que recorremos na escolha dos fonogramas que fazem parte deste CD, e que talvez nunca viessem a ser publicadas pelos defeitos técnicos de captação que terão, mas que o tempo se encarregou de mostrar serem secundários atendendo ao conteúdo nelas revelado.

As faixas nºs 24 e 25 (O Pai da Laurinda e Parabéns e Serenata aos Noivos) foram gravadas por Ernesto Veiga de Oliveira e Benjamim Pereira em 1964. As faixas nº 7 e 23, forma gravadas por Domingos Morais em 30 de Novembro de 1982, quando Catarina Chitas participou na festa da 2ª edição do livro de Veiga de Oliveira, “Instrumentos Populares Portugueses”.

Registe-se a participação de Veiga de Oliveira e de Benjamim Pereira no esclarecimento das canções apresentadas. As restantes faixas fazem parte do acervo da Linha de Acção de Recolha e Estudo de Literatura Popular Portuguesa, hoje designado por Centro de Estudos Prof. Viegas Guerreiro, da Faculdade de Letras de Lisboa, e foram gravadas em 1985 no âmbito do projecto de que resultou a publicação Romanceiro Tradicional do Distrito de Castelo Branco, coordenado pelo Professor Pere Ferré.

Manuel Moreira, o Ti Manel Moreira que acompanha Catarina Chitas nas faixas 24 e 25, era um notável executante de viola beiroa. Dele apenas sabemos o que Benjamim Pereira registou no seu texto “Relato acerca da organização da colecção de instrumentos musicais populares portuguesas”, na 3ª edição de Instrumentos Musicais Populares Portugueses, de Veiga de Oliveira (2000), pp. 30/31, e que transcrevemos:

Em 1964, por ocasião do I Congresso Nacional de Turismo, a Fundação Gulbenkian levou a efeito, com a nossa colaboração, mais uma exposição sobre os Instrumentos Musicais, que contou também com um concerto de tocadores e cantadores populares. A Região da Beira Baixa esteve representada pela tocadora de adufe, Catarina Chitas, que nessa altura nos falou do Manuel Moreira como sendo o último tocador de viola daqueles sítios. Ele vivia no flanco da serra do Ramiro oposto ao de Penha Garcia, o que nos obrigou a contornar essa serra.

O percurso alongou-se, fez-se noite, a estrada deu lugar a uma vereda que o velho citroën 2 cv a custo vencia, com coelhos bravos a saltar à nossa frente, e a toda a volta o silêncio e o negrume total. No momento da desistência lobrigámos uma luzinha – saí do carro e gritei por ajuda para encontrar o Tio Manuel Moreira. Como por encanto, lá do alto uma voz respondeu: "É aqui"! Subimos a encosta e fomos ao seu encontro.

Foi como se já nos conhecêssemos de há longos anos. Apesar de nunca ter saído desse pequeno mundo rural, de não conhecer sequer Castelo Branco, prontificou-se de imediato a ir a Lisboa, dado ir na companhia da Catarina Chitas. Evoco a sua entrada no palco, de calças de bombazina e faixa preta, um sorriso confiante e sereno, a sua belíssima execução musical. Depois de terminar despediu-se do público com um gesto profundamente natural e afectivo, secundado pela saudação "Deus vos abençoe".
Domingos Morais

domingo, janeiro 04, 2004

http://www.pedexumbo.com/tocadores/instrumentos/adufe/

Informação sobre o adufe.
http://www.geocities.com/Nashville/Stage/2644/portugal.html

Ligação a texto de Jornal de Notícias sobre Beira Baixa-trabalho de José Alberto Sardinha
Vida e morte da tradição
Entrevista de João Lisboa a José Alberto Sardinha
Jornal Expresso, 5 de Maio de 2001


Seguindo a esteira de Giacometti, José Alberto Sardinha estuda a tradição musical popular



João Carlos Santos

J. A. Sardinha: à procura da música sem certidão de nascimento

Tradições Musicais da Estremadura, do investigador José Alberto Sardinha, é uma daquelas obras monumentais de etnomusicologia de que seria bom existirem milhares de exemplares avidamente adquiridos por escolas, bibliotecas e museus. Num trabalho de recolha e gravação (musical, fotográfica, videográfica) realizado ao longo de mais de 20 anos por todo o espaço nacional e, agora, centrado sobre a região da Estremadura (incluindo três CD, um apêndice com transcrições e notas musicográficas, um romanceiro, um devocionário, um inquérito linguístico/glossário e um guia de audição dos discos, para além de contar, como prefácio, com o último texto redigido por Fernando Lopes-Graça antes da sua morte) reúne uma minuciosa documentação, estudo e análise da tradição popular e dos seus protagonistas ainda vivos ou já desaparecidos. O que interessa, porém, a Sardinha não é o conceito romântico da demanda da «alma perdida da Pátria», mas sim o entendimento fundamentado de como as tradições se preservam e evoluem.
Apesar de se debruçar sobre as tradições musicais da Estremadura, esta nem sequer é a região do país sobre a qual possui o arquivo mais extenso...

Tenho recolhas de todo o país, excepto a Madeira, organizadas por províncias, sendo que a província de que tenho mais material recolhido é Trás-os-Montes, a seguir a Beira Baixa, e a Estremadura só em terceiro lugar.

Isso poderá ter a ver com o facto de, inicialmente, ter a ideia de que se trataria de uma zona pouco rica do ponto de vista da música tradicional. A que se devia esse «preconceito»?

Principalmente pela ausência de notícias etnomusicais, que se devia à falta de investigação no terreno, uma vez que os estudiosos anteriores se haviam dedicado muito pouco à Estremadura. O Giacometti tinha poucas coisas editadas, o Armando Leça também, o Artur Santos e o Lopes-Graça não tinham nada, e o próprio Ernesto Veiga de Oliveira também não. Aquele aspecto de as pessoas gostarem muito do «instrumento arcaico» conduziu-os mais, por exemplo, para Trás-os-Montes, que é mais longínquo.

Esse preconceito não terá surgido por causa duma certa concepção acerca da música tradicional, de que tanto mais «pura» e «autêntica» seria quanto tivesse persistido longe da «contaminação» urbana?


Claro que sim. E, contudo, foi aqui que encontrei alguns dos exemplares que se podem considerar mais arcaicos do ponto de vista etnomusical, recolhidos, por exemplo, a poucos quilómetros da Ericeira! Esses conceitos estavam errados, como estava também o conceito de música tradicional como algo de «puro» e «longínquo», perdido no tempo e no espaço.

Na introdução refere que «é fundamental avaliar quais as manifestações mais antigas (...) e distingui-las das mais recentes, que não foram ainda sujeitas à tradicionalização». Qual o critério para averiguar a «tradicionalização» duma determinada peça musical popular?

A tradicionalização resume-se nisto: há um criador individual que é conhecido na altura (a concepção romântica da criação colectiva está posta de parte), divulga as suas criações musicais e elas expandem-se. Elas são popularizadas no sentido em que se difundem entre o povo. Se morrerem na primeira geração, não se tradicionalizaram. Mas se forem mantidas através de gerações, vão-se transmitindo, tradicionalizando e caindo no anonimato. Essa é a música de tradição oral, não escrita, que não possui certidão de nascimento. Por acaso, esse primeiro capítulo do livro (que estava escrito há mais de dez anos, com conceitos completamente diferentes) foi reformulado recentemente. No início, fui-me limitando a gravar guiado por uma certa intuição do que então considerava «autêntico». A pouco e pouco, fui alargando esse critério. Acabei por chegar à conclusão de que não há «autêntico» nem «não autêntico», mas apenas a tradição, que é algo de muito mais lato.

A obrigatoriedade de anonimato do criador original não pode impedi-lo de registar espécimes inseridos na tradição, embora criados agora?

Gravo à mesma. Se esse facto for conhecido por mim, devo assinalá-lo. Há aqui uma canção de cegada que, de facto, é um fado, dos mais conhecidos até. Como é habitual, o povo adaptou uma letra a uma música que andava em circulação, eu gravei-a e assinalei-o. Há um fenómeno até que merecia um grande estudo que é o caso do Quim Barreiros: um cantor tradicional que herdou toda a tradição da música minhota e que cria de acordo com os parâmetros que lhe foram fornecidos pela tradição. Só que ainda ninguém reparou nisso. Os intelectuais acham aquilo uma «pimbalhada» (aliás, o divórcio entre os intelectuais e o povo permanece - se calhar, se vivessem há cem anos achariam a música popular da época «pimba», embora, agora, como é «antiga», já gostem...), mas ele tem criações onde, por exemplo, se identifica perfeitamente a estrutura musical do malhão do Norte que ele recriou. Com letras, em parte, fornecidas pela tradição. Aquela do «bacalhau», se se for ao Leite de Vasconcelos, está lá, é uma quadra popular do fim do século XIX! Era preciso estudar musicalmente tudo isso. Eu tenho discos do Quim Barreiros, comecei a coleccioná-los. E, um dia, se tiver tempo, hei-de escrever sobre isso.

Enquanto, habitualmente, se encara a recolha da tradição como um trabalho quase arqueológico sobre algo praticamente extinto, dever-se-ia ou não encarar a actual música comercial/pimba como a expressão da tradição popular contemporânea...

Que se irá ou não tradicionalizar...

E, já agora, no final do ano passado, o Museu de Artes e Tradições Populares de Estocolmo inaugurou duas exposições. Uma sobre a cultura, tradições e costumes dos lapões. E outra, ao lado, sobre ...os Abba. O que é que isto lhe sugere?



«O urbano vai em busca do tempo perdido»

Desde o Renascimento, quando os intelectuais disseram «odi profanum vulgus» (odeio o vulgo profano), que era a máxima da época, tem havido um crescente divórcio entre os intelectuais e o povo. Na cultura medieval e trovadoresca isso não acontecia. E esse divórcio permanece hoje na apreciação que os intelectuais fazem da música «pimba». Sobre o fado, já tenho lido afirmações segundo as quais foi um fenómeno popular de que a nobreza se apropriou. A verdade é esta: graças a Deus que a nobreza gostou do fado e a burguesia, por imitação, o tomou em moda! Senão a burguesia, com o seu ódio ao povo e a tudo o que dele vem, tê-lo-ia aniquilado ou anulado historicamente, como sucedeu com muitas outras tradições populares. Isto é demonstrativo das oscilações do gosto da intelectualidade na apreciação de determinados fenómenos e de como, muitas vezes, só os entendem quando uma classe imitada os legitima. Eu não me dedico a ele, mas esse estudo da cultura popular contemporânea é inteiramente pertinente e necessário.

Por outro lado, existe a ideia de que enquanto na «velha» música tradicional se encontram espécimes musicalmente ricos, a cultura popular contemporânea é pobre, indigente...

Musicalmente falando, há coisa mais pobre do que o fado? E, no entanto, é o fenómeno musical português mais estudado e talvez o mais digno de ser estudado. Senão vejamos: na música tradicional, de onde vêm os exemplares musicalmente mais ricos? A tradição fê-los chegar até nós, mas são de origem eclesiástica, não popular, embora posteriormente popularizados e tradicionalizados.

Sente que se acentuou a tendência para a extinção da tradição por ser algo a que o povo não atribui importância e que só interessa a intelectuais urbanos em busca da alma perdida da Pátria?

Geralmente, o urbano vai em busca do antigo, do exótico. Desde a Renascença, ao mesmo tempo que os intelectuais começaram a odiar o vulgo, também começaram a mitificar o campo. O ideal da «aurea mediocritas» que o Sá de Miranda cantava, não é se não isso: um retiro bucólico entre os pastores simples e ingénuos, onde residiria a alma pura do homem. A apreciação que os urbanos fazem desta música responde sempre à busca dum tempo perdido. Entre o povo, algumas destas manifestações musicais estão completamente extintas, já só residem na memória de alguns informadores. Não há dúvida que, nos últimos dez anos, os trabalhos agrícolas sofreram uma profunda transformação. As tradições que ainda se conservam mais são as religiosas. Os gaiteiros que acompanham os círios ainda se mantêm em actividade. Na Estremadura cistagana, ali para Palmela, os próprios gaiteiros formaram grupos que fazem bailes a tocar música que ouvem na rádio. Tal como, aliás, em Trás-os-Montes há novas gerações de gaiteiros aos quais forneci gravações de repertório tradicional.

Existem características propriamente estremenhas na música tradicional da região?

As coisas que eu gravei podem-se considerar estremenhas, na medida em que o povo quis que elas permanecessem na sua tradição. Terá havido coisas que desapareceram noutras províncias e se mantiveram nesta. Não se deve perguntar porque é que isto nasceu aqui e não noutro sítio, mas porque é que sobreviveu aqui e não noutro lugar. A gaita de foles era um fenómeno nacional. O adufe, a mesma coisa. Porque é que hoje só subsiste na Beira Baixa? Isso é que é interessante estudar e não se deixar cair na tentação de inventar coisas supostamente identificadoras de uma terra ou de uma região. O que tem a ver com as consequências da massificação e da globalização que conduz à busca de identidades locais fortes. Foi o que aconteceu com os caretos em Trás-os-Montes que estavam quase extintos e hoje são um fenómeno local que ressurgiu.

Aí mesmo é curiosa a sobreposição de dois movimentos contrários e simultâneos: a recuperação da tradição «antiga», agora academizada e eruditizada e, por baixo disso, o desenvolvimento da tal cultura popular comercial/pimba que irremediavelmente a substituiu...

Mas isso são as formas de normalização da música tradicional. Pode ser inevitável, mas, de um ponto de vista musical, tende a empobrecer. A verdadeira escola da tradição tem de ser a tradição. Só a convivência, o toque e o canto dos mais velhos podem ensinar. Nesse tipo de aprendizagem, tende-se a adoptar os exemplares mais simples e a excluir os mais ricos, há um empobrecimento. O que aconteceu muito com as concertinas. Contudo, há fenómenos que ainda permanecem muito vivos como é o caso das romarias do Minho ou os círios na Estremadura que se mantêm integralmente. Mas, na maioria dos casos, à medida que as populações foram abandonando os campos, deixou de haver espaço, tempo e função para cantar. Embora ainda haja casos onde, nas festas da aldeia, ao sábado, actua o conjunto musical para o baile mas é reservado um dia - geralmente a segunda-feira, que é dia de guarda - para um tocador popular e toda a gente dançar à moda antiga. Ou o exemplo do adufe, que está, neste momento, a agarrar muita gente na Beira Baixa. Já não, evidentemente, tocado à soleira da porta nas funções antigas, mas noutras circunstâncias.


fonte: Jornal Expresso


sábado, janeiro 03, 2004

Dança dos Homens

Dança dos Homens (fragmentos) 1' e 16''
texto de Giacometti e Lopes Graça



10. DANÇA DOS HOMENS (frag.)
Recolhida em Lousa (Castelo Branco), a Dança dos homens, como a Dança das virgens, é dançada durante as festas em honra da Senhora dos Altos Céus (terceiro domingo de Maio), frente à igreja e, seguidamente, nos lugares mais centrais do povoado. Também conhecida por Dança de genebres, é executada por seis homens trajando calças e camisa branca, e ostentando uma espécie de tiara ornamentada com flores e fitas de várias cores, etc., três rapazs em vestes de donzela, e um guardião (mestre ou ensaiador), vestido de soldado com espada à cinta. Dos seis homens, cinco tocam bandurras (viola da zona raiana de Castelo Branco com dez cordas de arame, embora as bandurras aqui utilizadas tenham encordamento - apenas oito cordas - e afinação diferentes), o sexto toca a genebres, "espécie de xilofone, com uma série de paus redondos maciços, de tamanhos crescentes de cima para baixo, enfiados numa tira de couro formando colar...". Este instrumento, único no País, ao nosso conhecimento, é utilizado na Lousa exclusivamente na dança que tem a seu nome. Os três rapazes, enfim, tocam trinchas, uma espécie de pandeiretas sem peles. Todo o interesse propriamente musical do trecho vem-lhe da mistura "discordante' dos instrumentos principais: o grupo das bandurras, com a sua fórmula rítimica elementar, que consiste numa simples alternância de acordes rasgados de como que tónica e sobre-dominante e ainda como as suas entoações um tanto caprichosas, e a genebres, com os seus glissandos (precedidos, à laia de introdução, de um acorde de três sons arpejado) que formam uma espécie de pedal ritmica imutável - donde o curioso complexo harmónico e timbrico resultante, adicionado ainda pela sonoridade chocalhada do trincho.