sexta-feira, julho 30, 2004

Bibliografia de Património Histórico na Beira
Almeida, F. e Ferreira, O.V.
1971 "Um monumento pré-histórico na Granja de S. Pedro (Idanha-a-Velha)". Actas do II Congresso Nacional de Arqueologia, 1. pp. 163-168

Arquitectura, espólio e rituais de dois monumentos megalíticos da Beira Interior: estudo comparado, João Luís Cardoso, João Carlos Caninas, Francisco Henriques

quinta-feira, julho 29, 2004



Eremitério de S. Pedro de Vir-à-Corça

O Círculo de Leitores está a editar a obra Lugares Mágicos de Portugal, da autoria de Paulo Pereira, tendo sido recentemente editado o 2º volume. Neste volume, relativamente à Beira, identifiquei referências ao Templo de Idanha-a-Velha, Templo da Senhora do Almortão, Templo de Almofala, em Figueira de Castelo Rodrigo, Torre de Centum Cellas e à Ermida de S. Pedro de Vir-à-Corça. Como esta última é menos conhecida e visitada, embora a sua localização, nas proximidades de Monsanto, nos podesse dar uma ideia contrária, já que quem visita Monsanto poderia também incluir no seu roteiro uma visita à ermida de S. Pedro, transcrevo o magnífico texto, sobre o tema, da obra citada. Esta explicação abre-nos horizontes, nomeadamente no referente à influência árabe em toda a região e também, por comparação à influência posterior das Ordens religiosas. 

 


“Conhece-se, embora mal, o primeiro monasticismo do período paleocristão. Cenóbios: Um dos exemplos mais importantes parece ser o de São Cucufate, villa romana fundada no século i e remodelada nos séculos iii e iv d. C., que receberá uma primeira comunidade monástica, mais tarde reconduzida ao cristianismo «romano». Não é ain­da de afastar a hipótese de algumas das construções ditas «visigóticas» terem previamente sido mosteiros masculinos paleocristãos, quando se dá a passagem de um culto domés­tico para um culto mais «manifestado», no decurso do sécu­lo VI. Eremitérios: Mas conhece-se ainda menos o monasticis­mo eremítico ou cenobítico dos tempos suevos, visigóticos ou moçárabes. Contrariamente ao que acontece na Galiza, são poucos os testemunhos existentes de estruturas monásticas deste tipo, muitas delas de carácter rupestre e dificilmente identificáveis. De facto, trata-se, a maior parte das vezes, de grutas naturais em pleno bosque ou em zona de montanha (os verdadeiros «desertos» dos místicos), ocupadas pelos eremitas (ao que cremos, a igreja românica de São Pedro das Águias e o lugar peculiar da sua implantação devem ter co­mo origem um destes eremitérios), ou em montes e lugares sagrados, como a serra d'Ossa ou o cabo de São Vicente, entre outros, que deverão ter acolhido este tipo de comunidades depois institucionalizadas durante os séculos XIV a XVI. Estes eremitérios estão também na origem de inúmeros «mitos de fundação» de mosteiros ou santuários mais tardios da Baixa Idade Média, como é o caso de São Pedro de Vir-a-Corça em Monsanto. Foram diversos destes cenóbios e eremitérios que São Martinho de Dume e São Frutuoso ocuparam na sua bus­ca incessante de disciplinamento dos monasticismos «selva­gens», lusitanos ou calaicos. Islão: Não menos interessante será obter dados, hoje ainda escassos mas em progresso, so­bre o monasticismo muçulmano corrente, bem como o que se prende com as associações guerreiras. As «ordens» de mon­ges-guerreiros islâmicos são de presença certa em Portugal, e o nome da serra da Arrábida dá disso conta, remetendo para a existência de um ribat árabe mais tarde reconvertido e cristianizado, e ainda adaptado a eremitério franciscano no período contra-reformista (segundo terço do século XVI). Re­centemente foram localizados vestígios arqueológicos de um importante ribat no Algarve. Deve ainda ter-se em conside­ração o eremetismo muçulma­ no relacionado com as diversas tendências espirituais islâmicas (xiismo e sunismo, ou variantes gnósticas como o sufismo -para simplificar o tema). Se as anteriores são difíceis de carac­terizar, mais ainda as relativas aos gnosticismos islâmicos, sendo certo que existiram no nosso território próximas das áreas de implantação moçárabe, e sendo presumíveis os contactos entre as duas comunidades religiosas. 0 que aqui fica dito reporta-se ao domínio das hipóteses, bem entendido. Os templos ou capelas de forma cúbica mais antigos, conhecidos por “cubas” (kaabas), podem ser um reflexo deste movimento, tratando-se de vestígios, algumas vezes cristianizados, de túmulos de «santões» (de homens santos) muçulmanos – como parece ter acontecido no Cadaval ou no cabo Espichel. Arriscamos atribuir ao xiismo eventuais estruturas monásticas, mais centradas na Estremadura, não muito longe dos vestígios moçárabes - ou da sua área de interacção religiosa mais importante -, enquanto que o sunismo deverá predominar no Sul do país - em terras alentejanas e algarvias. Matérias que a arqueologia tem desentranhado, ou que remanescem residualmente em estruturas monásticas mais recentes, já da Idade Média ou mesmo do período moderno. moçárabe: Se o eremetismo e o cenobismo pelágicos constiuem referências quase míticas, salientando-se algumas estruturas de carácter mais monumental que sobreviveram termos arqueológicos, o moçarabismo apresenta já vestígios mais consideráveis, embora discretos e pouco monumentais. Cremos também que o moçarabismo não procede a uma interacção territorial com o peso que as ordens “medievais” mais tradicionais vêm a introduzir.




Paisagem das imediações da Capela de São Pedro de Vir-a-Corça, Monsanto, Beira. Nesta área encontra-se um gruta eremítica que terá sido utilizada por uma comunidade cenobítica cristã antes da fundação do pequeno mosteiro românico que ali foi fundado - ou refundado no século XII. Exemplos como este abundam, sendo provável que semelhante processo se tenha dado em São Pedro das Águias, revelando deste modo a ancestralidade visigótica ou moçárabe dos eremitérios (de regra rústica) face a muitas das fundações monásticas duocentistas.”
In: Enigmas: Lugares Mágicos de Portugal, Paulo Pereira,  Vol. 2, Círculo de Leitores, 2004


terça-feira, julho 27, 2004

Idanha-a-Velha
Estudo Antropogeográfico de António Capelo Manzarra Marrocos

Em 1935 foi editado o estudo “Idanha-a-Velha – Estudo Antropogeográfico”, da autoria de António Capelo Manzarra Marrocos. Este estudo foi editado graças ao esforço que o Drº Jaime Lopes Dias fez, junto do pai do autor, António de Pádua e Silva Leitão Marrocos, depois de ter tomado conhecimento da sua existência. Aliás, o Drº Jaime Lopes Dias prefaciou a sua edição, descrevendo os motivos que levaram à sua insistência, para que o estudo fosse editado. António Capelo Manzarra Marrocos era aluno de Geografia, na Faculdade de Letras de Lisboa e foi nessa qualidade de aluno do 2º ano, ainda longe da licenciatura e com muito para aprender, que elaborou o seu estudo. Infelizmente, o autor faleceu num acidente de viação, ocorrido em Tomar, quando tinha muito a dar para o desenvolvimento da Beira Interior e para o combate à miséria e pobreza, a avaliar pelas suas posições ideológicas.
Em resposta a uma carta que o Drº Jaime Lopes Dias lhe tinha dirigido, que foi incluída no prefácio, o autor apresenta de uma forma clara e evidente o seu pensamento ideológico, relativamente ao atraso da sua região e as condições que considerava basilares para se alcançar o progresso. A carta apresenta o timbre do Hotel Universo, na Rua Antero de Quental, 9, 2º Esquerdo, em Lisboa, onde provavelmente residia como estudante da Faculdade de Letras. Transcrevo parte do seu conteúdo, citado pelo Drº Jaime Lopes Dias: “Não sou por enquanto ninguém...
 Sou um novo....afastado desses problemas (regional e social) mas, quando chegar a minha vez de agir,......eu espero contribuir com o meu melhor esforço, se bem que diminuto, a bem da nossa região.....
Em conversas que às vezes tenho tido, por aí, com algumas pessoas reconheci, aliás com certa tristeza, quão antiquada concepção.....possuem ainda do momento que passa........
Dessa evolução, como é lógico e natural compartilharam todos os ramos de actividade e conseqüentemente, a meu ver, o trabalhador rural.....
Por tal motivo deve reconhecer-se-lhe o legítimo direito de aspirar a uma melhoria de condição....como classes suas similares possuem.
Parece-me ver, embora de forma lenta, principiar a agitar-se uma massa com uma melhor compreensão do presente, que auxiliada pela camada do meu tempo, iluminada talvez por uma visão mais nítida, poderá singrar novo mundo talvez mais justo, nobre e equitativo.”
Ao referir-se ao progresso das nossas pobres e anti-higiénicas aldeias sugeriu: “Só o vejo viável no dia em que, ajudando, os indivíduos com um pouco mais de iniciativa, deixarem de tudo esperar do Estado.”
“Em tocando nestes assuntos, entusiasmo-me”, concluiu, terminando a sua missiva.
Por este pensamento, expresso, no início dos anos trinta, do século passado, poderemos aquilatar da falta que fez à Beira Interior, e do contributo que poderia ter dado para o seu desenvolvimento e afirmação, resultante da sua morte prematura, sem ter tido oportunidade de contribuir para a afirmação do seu pensamento.
O primeiro ponto do seu estudo é sobre a história de Idanha-a-Velha e, para um estudante de Geografia, revela ter realizado um estudo aprofundado das origens históricas de Idanha-a-Velha. Contudo, importa confirmar algumas das informações históricas, por serem contraditórias com outras fontes. Refiro-me à transferência do Bispado da Egitânia, para a Guarda, que ocorreu no reinado de D. Sancho I, em 1199, por iniciativa do papa Inocêncio II, segundo diz o autor. Trata-se, de facto, de um erro menor, porque em 1199 era papa Inocêncio III, eleito papa em 1198.
É relevante referir a chamada de atenção que faz para o papel de Leite Vasconcelos, na divulgação e estudo arqueológico de Idanha-a-Velha. Hoje em dia ressaltasse o trabalho de D. Fernando de Almeida, subavaliando trabalhos anteriores.  Citando, diz: “O estudo das suas ruínas encontrou devoto admirador num eminente professor desta Faculdade, com nome ilustre é Leite de Vasconcelos. Na sua primeira visita à sua querida Egitânia, como Leite Vasconcelos lhe chamava, ao chegar junto das suas muralhas, apeou-se do trem que o conduzia, e respeitosamente, de chapéu na mão, entrou exclamando: “Salve Egitânia”. Fez as suas  investigações, colheu muitos dados, e publicou alguns trabalhos.”
Alerta para a importância que a Idanha-a-Velha, como centro arqueológico e denuncia o facto de até à altura não ter sido reconhecida como monumento nacional. Faz algumas citações de registos epigráficos, considerando já na altura que se estava em presença de um muito relevante centro de epigrafia. Transcreve  o registo epigráfico inserto na ponte romana de Alcântara, para mostrar a importância que a Egitânia teve no Império Romano.
MUNICIPIA
PROVINVIAE
LUSITANIA STIPE
CONLATA. QUE OPUS
PONTIS. PERFECERUMT
IGAEDITANI
LANCIENSES. OPIDANI
TALORI
INTERAMNENSE.
Traduz a inscrição: Os municípios da província Lusitana, que acabaram esta ponte, são os seguintes: os Egeditanos, os Lancienses, , os Pidani, os Talori e os Interamnenses.
Como se pode verificar o primeiro município referido na transcrição é o da Egitânia, sendo de admitir que isso resultaria da importância desse município, na Administração Romana.
Para quem quiser aprofundar as questões levantadas no estudo indica-se que o mesmo está disponível, em muito mau estado, estando por isso condicionada a sua leitura, na Biblioteca Nacional, com a cota H.G. 14856//23 V.
Também, na Biblioteca Municipal de Castelo Branco, na sala Jaime Lopes Dias, está disponível a Biblioteca, oferecida pela família, onde será de pesquisar se será possível localizar outra correspondência trocada entre Jaime Lopes Dias e António Manzarra Marrocos ou sua família.   

 

quinta-feira, julho 22, 2004

Em 4 de Setembro concerto em Belgais de apoio financeiro à reflorestação

in: www.reconquista.pt de 9/7/2004
"Iniciativa angaria fundos em Setembro
Concerto para recuperar Belgais do incêndio




Na sequência do incêndio que no dia 30 de Junho assolou a quinta de Belgais, ao qual apenas escaparam o pomar e a casa principal onde funciona o Centra para o Estudo das Artes, realiza-se um concerto para angariação de fundos com vista à recuperação de Belgais, no próximo dia 4 de Setembro. O espectáculo deverá contar com a actuação da pianista Maria João Pires, a proprietária da quinta, e principal impulsionadora do centro artístico que ali funciona.

Foi com apreensão e um sentimento de impotência que o pessoal que trabalha na Associação Belgais assistiu ao avanço das chamas desde o Monte do Pombal, onde o incêndio deflagrou, por volta das 12H30. “Nunca pensei que o fogo fosse tão rápido”, adiantou ao “Reconquista” Maria do Rosário Veiga. As chamas chegaram junto a Belgais antes dos bombeiros. “Se os bombeiros não tivessem chegado a casa teria ardido”, continua. Ao todo arderam 100 hectares de oliveiras, azinheiras e mato. As chamas acabaram por consumir também duas casas de madeira, com o recheio que existia no interior, incluindo o forno, móveis, quadros e material de construção. A horta, juntamente com as vedações de madeira, os animais soltaram-se e fugiram das chamas. “Quando liguei para os bombeiros gostava de ter recebido instruções sobre como nos preparar para o fogo. Porque podemos estar a fazer asneiras. Mas da central apenas diziam que a situação estava controlada”, refere Maria do Rosário Veiga. “A casa safou-se porque os bombeiros foram excepcionais”, sublinha a pienista Maria João Pires. Há 19 anos que ali vive e recorda terem acontecido apenas dois fogos, que foram rapidamente controlados. No combate às chamas estiveram envolvidos 109 bombeiros de 20 corporações dos distritos de Castelo Branco, Setúbal e Lisboa, apoiados por 31 viaturas e cinco helicópteros. Segundo o coordenador da Protecção Civil de Castelo Branco, Rui Esteves, o sinistro não foi fácil combater. Por dois motivos: “o incêndio desenvolveu-se com muita rapidez numa zona de mato e pasto, onde não havia acessos, e o vento soprava muito forte”."

segunda-feira, julho 19, 2004

Gastronomia na Beira Interior
 
www.helana.com
 
Finalmente, há um Restaurante na Beira Interior, seleccionado entre os 11 melhores do País. Em geral, nas classificações de Restaurantes, feitos por várias empresas e organismos, não é referido qualquer da Beira Interior. Sábado passado (17.7.2004, nº 11), a revista Sábado publicou um artigo "Os Reis da Cozinha", pag. 100, em que os Chefes de Cozinha Hélder Saraiva, do Restaurante Albatroz em Cascais, Maria José Almeida, do Nobre em Lisboa, Fausto Airoldi, da Bica do sapato em lisboa, Miguel Medeiros, da Travessa em Lisboa e Olivier, do Restaurante Olivier em Lisboa, falam sobre a qualidade gastronómica em Portugal. Nesse texto os Chefes referidos identificam os melhores pratos, os melhores Chefes de Cozinha a trabalhar em Portugal e os restaurantes onde melhor se come em Portugal.
 
São citados onze Restaurantes, sendo um deles o HELANA de Idanha-a-Nova. É bom, saber que, finalmente, temos uma referência gastronómica, na Beira Interior, reconhecida por alguns dos melhores Chefes de Cozinha, como um dos melhores do País. Parabéns à equipa que com o seu trabalho se conseguiu impor pela qualidade, ao ponto de ser citado como Restaurante de referência.
 
Por não conhecer o restaurante, procurei informação na Internet e constatei que o mesmo tem um site com óptima informação, que nos permite antever o que nos esperará na próxima visita.
O endereço do Restaurante é www.helana.com , experimentem aceder e, provavelmente, terão uma surpresa muito agradável. É com trabalho com esta qualidade, que se consegue captar Turismo para a Beira Interior e transformar a nossa região em centro turístico, de visita obrigatória.

quinta-feira, julho 01, 2004

Como já tinha referido num post anterior, surpreendeu-me que em Belgais, na alameda de acesso às instalações do Centro, tenham sido colocadas árvores desenquadradas do seu habitat. Agora que Belgais foi atingida por um incêndio, na área florestal, poder-se-á avançar para uma reflorestação que contemple carvalhos, sobreiros, azinheiras, oliveiras e outras espécies mediterrânicas e não eucaliptos, eucaliptos, eucaliptos...... Vai ser desolador, quando voltar a visitar Belgais, ver toda a área florestal ardida, mas criam-se condições para uma reflorestação coincindente com as preocupações ecológicas do Centro para o estudo das Artes de Belgais.


in: Diário XXI

Chamas devoram área florestal de Belgais
A quinta onde está instalado o Centro de Estudo das Artes de Belgais, gerido pela pianista Maria João Pires, no concelho de Castelo Branco, foi ontem atingida por um incêndio, que destruiu toda a área florestal do complexo.



No entanto, segundo Joana Pires, filha da pianista, os edifícios não foram afectados.
O incêndio deflagrou cerca das 12:45 na propriedade de Monte do Pombal, que tem uma grande área de pinhal, eucaliptos e pasto, e propagou-se rapidamente às propriedades contíguas.
Cerca de uma centena de bombeiros, 30 viaturas e cinco helicópteros encontravam-se ao fim da tarde no local. Na altura, estava a ser equacionada a possibilidade de pedir auxílio aéreo a Espanha, de acordo com informações dos bombeiros.
Entretanto, a meio da tarde de ontem encontravam-se em fase de rescaldo dois incêndios que deflagraram também ontem, mas em Póvoa de Rio de Moinhos e Alcains.