segunda-feira, dezembro 15, 2003

in: http://www.monfortur.pt/penhagarcia.htm

PENHA GARCIA
A meio caminho entre as Termas de Monfortinho e Monsanto, espraiando-se pela encosta da serra a que acabou por ceder o nome, fica Penha Garcia.

Terra que outrora já teve uma importância decisiva, luta com todas as forças para sair do marasmo e desinteresse a que foi votada.

A construção do castelo de Penha Garcia deve-se a D. Sancho I, embora existam vestígios que remontam ao período romano e outros muito anteriores. Do período pré-histórico há conhecimento de vários testemunhos tais como castros, antas e diversos utensílios. Em 1256, o rei D. Afonso III concede foral a Penha Garcia. Nos princípios do século XIV a vila é doada aos Templários. Destes passa para a Ordem de Cristo e no século XVI volta à posse do rei. Na Igreja Matriz, reconstruída recentemente, existem vestígios da anterior igreja que em 1515 já aparecia em desenhos da época. No seu interior uma raríssima imagem gótica, em pedra de Ançã, da Senhora do Leite, com uma inscrição que a permite datar: 1469.

Em Penha Garcia persistem alguns velhos costumes e tradições: o madeiro do Natal, o fabrico do pão caseiro, as fogueiras de S. João, a matança do porco, as janeiras, as alvíssaras e a encomendação das almas...

Numa tentativa louvável de tentar preservar e recordar estes velhos costumes e tradições, realiza-se de três em três anos, desde Agosto de 1983, a semana etnográfica «Penha Garcia Antiga». Esta manifestação cultural é organizada pela Junta de Freguesia, pelo rancho folclórico e pela Liga dos Amigos de Penha Garcia. O programa é vasto e enriquecedor.

A localização de Penha Garcia, no alto das fragas da Serra do Ramiro, com uma vasta visão das planuras da Cova da Beira e da campina de Idanha, conferiram-lhe o estatuto de praça de guerra. Outro dos factores que deve ter contribuído para a permanência, durante séculos, de comunidades humanas, deverá ter sido a existência de ouro no rio Ponsul. Na década de 90 do século XX, ainda se viam garimpeiros, vasculhando as margens do rio, depois de grandes chuvadas.

A origem das rochas quartzíticas que formam a crista que, desde Aranhas e passando pelas Termas de Monfortinho se prolonga até às províncias espanholas de Cáceres e Badajoz, terá cerca de 490 milhões de anos. Nesses tempos os continentes tinham uma localização completamente diferente. Estavam quase todos unidos em torno do Pólo Sul, formando um supercontinente denominado Gondwana. Nestas águas turbulentas e com enormes tempestades, viviam organismos marinhos invertebrados, salientando-se um grupo de artrópodes, extintos há cerca de 250 milhões de anos, chamados Trilobites.

As Trilobites dominavam os mares, vivendo em estreita interacção com os substratos areno-argilosos, onde se deslocavam, procuravam protecção e alimento. Foram estas marcas de actividade nos sedimentos que ficaram preservadas nas rochas sedimentares quartzíticas que se formaram posteriormente.

Os investigadores que se dedicam ao estudo destas estruturas, denominadas icnofósseis, têm a possibilidade de estudar o ambiente marinho colonizado pelas Trilobites.

Há muito que se conhece a presença dos icnofósseis de Trilobites nas rochas do vale do rio Ponsul, junto a Penha Garcia, particularmente as formas denominadas Cruziana.

É a estas formas que as gentes locais chamam as Cobras Pintadas.

Os icnofósseis de Penha Garcia foram descritos pela primeira vez, em 1886, pelo geólogo português Nery Delgado. No seu clássico e minucioso tarbalho, Nery Delgado seguia uma escola de pensamento, já em declínio, a qual atribuía os Icnofósseis como Cruziana a vestígios directos de grupos de algas.

É já no final do séc. XX que os icnofósseis de Penha Garcia tiveram um papel muito importante no estudo do modo de formação de Cruziana e a sua consequente atribuição a icnofósseis de alimentação de trilobites e de outros artrópodes similares produzidos no substrato marinho.

O rio Ponsul, depois de atravessar a crista quartzítica em Penha Garcia, concentra ouro nos seus depósitos aluvionares. As explorações, a céu- aberto, de ouro, provavelmente romanas e medievais, têm, ainda hoje, vestígios bem patentes na região das Termas de Monfortinho, nos depósitos aluvionares cascalhentos.

Na passagem pelo apertado vale escavado nos duros quartzitos, o rio permitiu a utilização da energia hidráulica nas muitas azenhas, que, neste momento, estão quase todas recuperadas.

Recentemente, o estreito vale do rio Ponsul, de vertentes rochosas, permitiu a a instalação estratégica da barragem de Penha Garcia, cuja albufeira permite abastecer de água toda a região envolvente. Também a pesca é um dos motivos de atracção desta bonita albufeira.

Os quartzitos com icnofósseis de Penha Garcia constituem actualmente um pólo de turismo científico-cultural, onde cada pedra relata uma história remota, com muitos milhões de anos.
Nota - Alguns dados retirados de obras publicadas por: C. Neto de Carvalho 2, Mário Cachão 1,2 e Joana Ramos 2.

1- Departamento de Geologia, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

2 - Grupo PALEO - Grupo de Paleontologia do Museu Nacional de História Natural de Lisboa.

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